Hong Kong: a “Central” estava vazia

A paisagem típica dos últimos dias não foi do trânsito a cruzar os arranha-céus, mas sim de turistas, de pessoas comuns, a caminhar em plena estrada, criando uma imagem pitoresca daquela que é uma das cidades mais desenvolvidas e com maior densidade populacional do mundo

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Carlos Barria/Reuters

Como são os protestos de Hong Kong aos olhos de um turista? Bem mais diferentes do que aquilo que se poderia esperar. Os restaurantes estavam cheios, o trânsito semi-caótico e as ruas extremamente movimentadas, sobretudo devido à celebração do feriado nacional chinês que levou entre 500 mil a um milhão de turistas à cidade. À primeira vista, nada de anormal acontecia.

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Como são os protestos de Hong Kong aos olhos de um turista? Bem mais diferentes do que aquilo que se poderia esperar. Os restaurantes estavam cheios, o trânsito semi-caótico e as ruas extremamente movimentadas, sobretudo devido à celebração do feriado nacional chinês que levou entre 500 mil a um milhão de turistas à cidade. À primeira vista, nada de anormal acontecia.

O primeiro impacto passou-se já largas horas depois de termos chegado, quando passávamos pelo centro financeiro de Hong Kong e notámos em algumas vedações a impedir o trânsito. Do outro lado, no entanto, a rua não estava cheia de manifestantes, estava apenas vazia. A paisagem típica dos últimos dias não foi do trânsito a cruzar os arranha-céus, mas sim de turistas, de pessoas comuns, a caminhar em plena estrada, criando uma imagem pitoresca daquela que é uma das cidades mais desenvolvidas e com maior densidade populacional do mundo.

As ocupações dos protestantes nestas ruas eram quase pequenas ilhas, com tendas de estudantes a dormir, marcando a sua zona de protesto até na hora de descanso. Depois, mensagens de apoio, barracas com mantimentos, água e outras ofertas simbólicas aos estudantes. Guarda-chuvas eram o símbolo e, como símbolo, repousavam nos locais mais visíveis e emblemáticos. Houve problemas pontuais nas manifestações durante a nossa estadia, mas nada que um turista não conseguisse evitar sem qualquer dificuldade. Facto com o qual a comunicação social chinesa e a televisão estatal de Hong Kong parecem não concodar ou mesmo omitir.

No entanto, também a comunicação social ocidental parace omitir que os protestos em Hong Kong são bem mais do que a interminável busca, e impossibilidade, de obter democracia. Quando os estudantes gritam por democracia essa é a história para muitos, mas a verdadeira história é a razão pela qual os estudantes gritam por democracia. A razão é pura e simplesmente o facto de os protestantes não quererem que o caminho da região convirja com o caminho traçado por Pequim. Para os ocidentais, a ambição pela democracia é quase como um percurso natural da história e da civilização, mas em Hong Kong a democracia não surge como símbolo máximo de liberdade, antes como oposição às políticas da China Continental.

O que vai acontecer nos próximos dias, ou mesmo nos próximos meses? Em príncipio nada de mais. Houve e haverá erros na forma como os protestos vão ser tratados, alguns inevitáveis, outros nem tantos, mas a violência é definitivamente algo que não se espera nem da polícia nem dos habitantes de Hong Kong. Todavia esta fricção entre o povo de Hong Kong e o governo chinês continuará a existir, porque Pequim não se vai dar ao luxo de perder o controlo da sua cidade mais importante do Sul da China. O que há a entender neste ponto é que a China não tolera perder as suas regiões. A civilização chinesa é uma história contínua de crescimento populacional, geográfico e cultural ao longo de mais de dois mil anos. Como é que isto se consegue? Houve altos e baixos ao longo da história, mas a longo prazo simplesmente nunca se perdeu o controlo.