Sem mandato desde 2011, Fernando Pinto disposto a ficar na TAP após privatização

O gestor brasileiro, que chegou à companhia no ano 2000, diz ter apresentado "três ou quatro" investidores ao Governo.

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Fernando Pinto ainda não cumpriu o objectivo de vender a TAP Rui Gaudêncio

"A minha missão pessoal estará completa quando entregar a empresa com um futuro assegurado e considero que isso acontece com a privatização", afirmou nesta quarta-feira, numa audição no Parlamento a pedido do PCP e, mais tarde, dos partidos da maioria PSD e CDS.

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"A minha missão pessoal estará completa quando entregar a empresa com um futuro assegurado e considero que isso acontece com a privatização", afirmou nesta quarta-feira, numa audição no Parlamento a pedido do PCP e, mais tarde, dos partidos da maioria PSD e CDS.

Fernando Pinto chegou à empresa no ano 2000 com um objectivo claro: vender o capital a privados, naquela altura à Swissair. Mas a missão falhou, com o fracasso do negócio e, por isso, o gestor continua à espera do dia em que a TAP sairá da esfera do Estado.

Apesar de o mandato da actual administração ter terminado em Dezembro de 2011, o Governo manteve a equipa no cargo até agora, na expectativa de que fosse cumprida a promessa da privatização. E Fernado Pinto diz-se agora disposto a ficar mesmo que a TAP seja vendida.

"Se vir que é necessário para que seja bem feita a adaptação [de uma empresa pública para uma empresa privada], posso até considerar ficar", afirmou, em resposta a questões colocadas pelo deputado socialista e ex-secretário de Estado Paulo Campos.

Fernando Pinto preferiu não se alongar no tema da privatização, mas afirmou que, apesar de não participar nas negociações, já apresentou "três ou quatro interessados ao Governo". E defendeu que a transportadora aérea precisa de ser vendida por uma questão de "necessidade de capital" e ainda para se "livrar de leis que são transversais a empresas que pertencem ao Estado".

"Uma empresa que precisa de competir num mercado, de competir com as low cost, de ter um processo de crescimento rápido tem de estar muito mais voltada para os princípios das empresas privadas", afirmou, dando como o exemplo o tempo que a TAP teve de esperar por autorização do Ministério das Finanças para contratar mais pessoal.

O Governo não decidiu ainda se irá relançar o processo de privatização da TAP, depois de a primeira tentativa ter fracassado em Dezembro de 2012 com a rejeição da oferta do único candidato, Gérman Efromovich. A avançar com a venda, poderá optar pela alienação de apenas 49% do capital e por incluir todo o grupo no processo, nomeadamente a deficitária empresa de manuntenção no Brasil.

Há quatro investidores que já abordaram o Governo no sentido de analisar uma eventual privatização da TAP. Um deles, um consórcio que junta o empresário português Miguel Pais do Amaral, o antigo dono e presidente da Continental Airlines Frank Lorenzo e o grupo nacional de transportes Barraqueiro, já apresentou uma proposta preliminar pela TAP.

Estão também na corrida a companhia de aviação brasileira Azul e o grupo espanhol Globalia, através da transportadora aérea Air Europa. Gérman Efromovich mantém igualmente o interesse neste dossier.

O "valioso" activo do Brasil
Em resposta à deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, Fernando Pinto afirmou que "é preciso ter muito cuidado com a privatização" e confirmou a notícia recente do PÚBLICO que dá conta do interesse destes investidores em ficar com a deficitária empresa de manutenção no Brasil.

"Quem nos tem procurado valoriza muito como activo estratégico aquela posição no Brasil", disse. O gestor da TAP adiantou ainda que espera que a empresa, adquirida em 2005 à falida Varig, "vai estar completamente limpa de endividamento" este ano, garantindo que se espera que "em 2015 já tenha um equilíbrio em termos de necessidade adicional para a operação".

O PÚBLICO noticiou em Fevereiro que a administração da companhia propôs ao Governo uma operação financeira para limpar o balanço da manutenção no Brasil, através da conversão dos empréstimos feitos pelo grupo à empresa, sobretudo para cobertura de prejuízos.

O executivo pretende avançar com a operação, depois de ter recebido informalmente da Comissão Europeia a indicação de que não serão colocados entraves, nomeadamente por questões de livre concorrência e de desrespeito pelas normas que proíbem ajudas estatais ao sector da aviação.

A concretizar-se a privatização, pretende-se que esta operação avance antes. Mas mesmo que a venda não aconteça, o Governo já está decidido a avançar. Ao que o PÚBLICO apurou, está em causa a conversão de empréstimos num valor que se aproxima dos 400 milhões de euros.