Turistas, clientes regulares e jovens na mira da revolução comercial na CP

Transportadora ferroviária testa novas campanhas para segurar subida na procura, ressuscitando ideias do passado e seguindo exemplos internacionais, Estratégia comercial mais agressiva está a dar frutos.

Foto
CP foi uma das três empresas públicas de transportes com uma subida no tráfego no primeiro semestre Paulo Pimenta

Uma das vias é o alargamento da venda do Flexipasse ao eixo Braga/Guimarães – Porto – Lisboa – Faro, permitindo que os clientes possam comprar um passe mensal para viajar indistintamente em comboios Intercidades, Regionais ou Interregionais. Esta tarifa procura satisfazer quem utiliza com frequência o comboio nas suas deslocações podendo apanhar, entre uma origem e destino, qualquer tipo de comboio sem estar condicionado à sua categoria.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma das vias é o alargamento da venda do Flexipasse ao eixo Braga/Guimarães – Porto – Lisboa – Faro, permitindo que os clientes possam comprar um passe mensal para viajar indistintamente em comboios Intercidades, Regionais ou Interregionais. Esta tarifa procura satisfazer quem utiliza com frequência o comboio nas suas deslocações podendo apanhar, entre uma origem e destino, qualquer tipo de comboio sem estar condicionado à sua categoria.

O Flexipasse estreou-se na linha do Alentejo em 2007 e foi alargada à Beira Baixa e Beira Alta em 2012. Nestas três linhas, a CP já vendeu este ano 1578 assinaturas, representando uma receita de quase 200 mil euros. Um valor que deverá, no mínimo, triplicar, tendo em conta que é agora estendido ao eixo Atlântico, com maior população.

A empresa vai ainda lançar o Portugal Rail Pass, recuperando assim o antigo Bilhete de Férias que existiu até à década de oitenta e que permitia viajar em toda a rede ferroviária nacional durante uma semana. A versão agora ressuscitada, porém, é exclusiva para estrangeiros não residentes em Portugal. Em 2ª classe custa 73 euros para três dias de viagens em todo o país ou 129 euros para sete dias. Em 1ª classe é, naturalmente, mais caro, havendo descontos para crianças.

O segmento jovem não foi esquecido nesta revolução comercial da CP. A empresa já tinha simplificado o tarifário para os seus clientes com menos de 25 anos, que têm sempre 25% de desconto, independentemente de serem ou não estudantes e de possuírem ou não cartão jovem. Agora estes poderão adquirir também assinaturas mensais com o mesmo desconto. Entre Janeiro e Agosto, a empresa transportou 1,4 milhões de passageiros com desconto jovem.

Estratégia dá frutos
Em Abril passado, a CP já tinha lançado o Bilhete Turístico Lisboa, válido para as linhas suburbanas da capital, que custa seis ou 13,50 euros, respectivamente, para um ou três dias. Até ao final de Agosto a empresa vendeu quase 18 mil destes títulos de transporte, encaixando uma receita de 125 mil euros.

Já a compra antecipada de bilhetes para os Alfas e Intercidades, que teve a sua estreia em Agosto de 2013, revelou-se um sucesso comercial para a transportadora, que assim imita uma prática em uso há cerca de 20 anos pelas suas congéneres francesa, alemã e espanhola. A possibilidade de viajar nestes comboios de longo curso com 40% de desconto desde que se compre o bilhete até cinco de antecedência foi aproveitada por 393 mil passageiros num ano.

Desde que tomou posse, a administração da CP liderada por Manuel Queiró fez uma revolução comercial na empresa lançando novos produtos que têm contribuído para fazer regressar as pessoas ao modo ferroviário. À falta de melhores comboios e de melhores linhas férreas – já que o investimento neste sector estagnou - a empresa tem conseguido aumentar a procura à custa de descontos cuidadosamente implementados para determinados públicos.

O tráfego começou a recuperar no final do ano passado, tendo a transportadora alcançado um crescimento de 2,4% no número de passageiros no primeiro semestre de 2014. A par da Metro do Porto e da Metro de Lisboa, foi uma das três empresas públicas do sector a contrariar as sucessivas quedas no número de passageiros que a crise e as medidas do actual Governo vieram intensificar.

A CP mantém, no entanto, um anacrónico tarifário que penaliza quem faz viagens em mais de um comboio. Quem tem de fazer transbordos paga um bilhete como se estivesse a iniciar uma nova viagem, encarecendo assim um percurso que, por ser mais comprido, deveria ser mais barato por cada quilómetro a mais percorrido. Um exemplo: de Santarém ao Porto (265 quilómetros) o bilhete do Intercidades custa 20,20 euros para uma viagem directa. Mas das Caldas da Rainha ao Porto (269 quilómetros), a viagem custa 24,45 euros com a agravante de o cliente viajar em comboio de categoria inferior e ser obrigado a um transbordo.

PS separa, CDS integra
A redução de custos e o aumento de receitas na CP tem sido conseguida através de uma maior integração dos seus serviços e do aproveitamento integral da oferta disponibilizada pela empresa. Em 2003, quando Crisóstomo Teixeira deixou a liderança da transportadora ferroviária, deixou-a segmentada em unidades de negócios “a um passo da escritura”, conforme referiu na altura, remetendo a decisão desse “passo” à tutela socialista de então.

O novo ciclo político com o PSD no poder manteve e acentuou a divisão de unidades de negócio da empresa, que chegaram a ter bilheteiras, atendimentos ao cliente, sistemas informáticos e serviços de marketing separados. O PS de Sócrates seguiu o mesmo caminho. Ao ponto de José Benoliel, o penúltimo presidente, ter dito em entrevista ao PÚBLICO, em Dezembro de 2012, que era “o último presidente da CP tal como hoje a conhecemos”. É que, entretanto, a chegada de Passos Coelho ao poder e da troika a Portugal indiciavam que o futuro da transportadora pública seria o seu desmantelamento através da privatização dos seus segmentos.

No entanto será precisamente neste Governo - e com um presidente da CP e um ministro da tutela ambos do CDS/PP - que a empresa volta a integrar parte dos seus serviços, aproveitando sinergias e regressando ao funcionamento em rede. Ao mesmo tempo e à semelhança do que se passa nas restantes empresas públicas do sector, está em preparação a concessão da linha de Cascais, que o executivo tem vindo a anunciar desde 2011.

De acordo com o Expresso, a concessão não será gerida pela CP, mas sim pela Infra-estruturas de Portugal, a nova empresa que vai resultar da fusão da Refer com a Estradas de Portugal. Outra mudança na vida da transportadora ferroviária advirá da sua inclusão no perímetro das contas públicas, fruto de alterações metodológicas a nível europeu. Os seus resultados passarão, por isso, a reflectir-se directamente na dívida e no défice públicos. No primeiro semestre, a empresa gerou prejuízos superiores a 112 milhões de euros e acumulou uma dívida de quase 4000 milhões.