A forma do sopro

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Existe um material tão presente no nosso quotidiano e sob formas tão diversas que naturalmente poderíamos já nem dar por ele. Misterioso, o vidro exerce sempre o fascínio daquilo que nasce no fogo e se torna uma matéria capaz de ser levada ao limite da não materialidade — à sua transparência.

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Existe um material tão presente no nosso quotidiano e sob formas tão diversas que naturalmente poderíamos já nem dar por ele. Misterioso, o vidro exerce sempre o fascínio daquilo que nasce no fogo e se torna uma matéria capaz de ser levada ao limite da não materialidade — à sua transparência.

Composto na sua maioria por sílica, areia cinzenta presente nos leitos dos rios e pedreiras, precisa de se juntar a vitrificantes, a fundentes e a estabilizantes para, sob o efeito das elevadas temperaturas (cerca de 1300ºC), se transformar em matéria fluida pronta a ser trabalhada. É nesta fase, durante o processo artesanal de produção (ainda hoje usado e valorizado), que nasce a fascinante relação homem-matéria. Com a extremidade de uma cana de ferro, é retirada uma porção de pasta incandescente que irá sendo rodada e trabalhada numa intensa relação de acção no tempo — o tempo da solidificação. O “mestre” aproxima a sua boca da outra extremidade da cana e faz sair o sopro do ar que irá encher o vazio da forma que começa a surgir do outro lado. Um molde, de madeira, ou metálico, abre-se para deixar entrar aquela matéria e fecha-se para lhe conferir os contornos das suas paredes.

Impermeável, essencialmente inerte, o vidro transforma-se no recipiente ideal e daí a sua aplicação já milenar. E, embora não se conheça ao certo o tempo de permanência do vidro no meio ambiente, pode ser reciclado quase infinitamente, dependendo da exigência do produto final, pois as suas partículas voltam a fazer parte da mistura inicial.

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É à mesa que podemos ficar mais “vidrados” com o jogo de sedução que a transparência e o brilho deste material proporcionam.
Os copos são, por excelência, as peças que estabelecem o contacto físico com a mão, e também com a boca, e os desenhados por Rikke Hagen para a Normann-Copenhagen assentam exactamente nesta premissa. À forma do cálice de cognac, por si só um convite à mão, junta o elemento desestabilizante de um bico sobre o qual se podem desenvolver movimentos infinitos de rotação do líquido. Com os copos para whiskey, cria-se uma noção de conjunto, em que as bases de ambos formam o negativo e positivo uma da outra; o que numa é um bico saliente, na outra é uma gota que parece emergir no conteúdo interior.

Também da Norman-Copenhagen mas desenhado por Britt Bonnesen, surge o copo Rocking; com uma base desenhada especialmente para poder bailoçar, sem entornar o líquido, e perfeitamente adaptada à concha da mão. É copo, mas pode também ser usada como taça para sobremesa, como faz a cafetaria do MoMA, em Nova Iorque.

A molo — não é engano, é assim mesmo, em minúscula que a marca se faz divulgar — produziu toda uma linha de copos (e não só) em que explora as dinâmicas sensoriais da visão. O fundo é uma calote esférica que parece suspensa no interior de uma forma perfeitamente cilíndrica. As flutes chegam mesmo a evidenciar a ausência do tradicional pé. O jarro para chá é constituído por elementos que se encaixam deixando visível o irresistível movimento das infusões, aquecido pela chama de uma vela na parte inferior.

À simplicidade funcional e formal da garrafa Fia, Nina Jobs junta o elemento lúdico do jogo ao criar uma esfera de cor incandescente, que tanto pode tapar o bocal da garrafa como ser encaixada na base, deixando o objecto escondido mas visível.
O vidro materializa uma ambiguidade da relação com os objectos; expõe o conteúdo, sem no entanto o deixar ser tocado. É barreira, separa, e simultaneamente é o veículo de comunicação.

Contactos: http://www.normann-copenhagen.com; http://www.designhousestockholm.com; http://www.molodesign.com