Na última semana, as turcas têm-se rido na cara do vice-primeiro-ministro

Sorrisos femininos enchem as redes sociais em protesto contra frase polémica de Bulent Arinc.

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Além da frase que está a indignar as mulheres na Turquia, Arinc disse ainda na sua intervenção dedicada à “corrupção da moral” que o “homem deve ter moral mas as mulheres também, devem saber o que é decente e o que não é”.

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Além da frase que está a indignar as mulheres na Turquia, Arinc disse ainda na sua intervenção dedicada à “corrupção da moral” que o “homem deve ter moral mas as mulheres também, devem saber o que é decente e o que não é”.

As críticas às afirmações do responsável turco, um dos fundadores do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), no poder, fizeram-se ouvir por parte de adversários políticos do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, candidato às próximas presidenciais no país, que arrancam em Agosto. Foi o caso de Ekmeleddin Ihsanoglu, principal rival de Erdogan no escrutínio. “Temos de ouvir o riso feliz das mulheres”, escreveu na sua conta do Twitter, segundo o jornal britânico Guardian. “Mais do que tudo, o nosso país precisa de mulheres que sorriam e de ouvir pessoas a rir”, acrescentou.

Também o famoso apresentador de televisão na Turquia Fatih Portakal criticou Arinc. “Se as mulheres não se podem rir em público, então os homens não deveriam chorar em público”, disse num tweet, citado pela BBC, fazendo uma referência às ocasiões em que o vice-primeiro-ministro chora quando assiste a discursos de Erdogan.

Nas redes sociais, milhares de selfies e de mensagens foram partilhadas como resposta a Arinc. No Twitter foram criadas as hashtags #direnkahkaha (sorriso resistente) e #direnkadin (mulher resistente), onde a palavra turca kahkaha (sorriso) tem sido repetida. Para estas mulheres, a questão levantada pelo vice-primeiro-ministro foi considerada “extremamente escandalosa e conservadora”, como sustentou a escritora e comentadora política Ece Temelkuran, que tem perto de um milhão de seguidores no Twitter, quando há assuntos como a violação, violência doméstica ou o casamento forçado de menores que não são abordados pelo governo.

Além do comentário ao sorriso feminino, Arinc criticou no seu discurso os programas de televisão e as telenovelas de serem uma má influência para a sociedade, nomeadamente para os jovens, “encorajados a ser viciados em sexo” e quererem vidas luxuosas. O político comentou ainda o uso excessivo de carros e de telemóveis no país, com as mulheres a “passarem horas ao telefone para trocar receitas”. “Não se passa mais nada? O que aconteceu à filha de Ayse? Quando é o casamento? As pessoas deveriam dizer essas coisas cara a cara”, defendeu.

Nos blogues no país, o utilizador bturkmen, referido pelo Guardian, dirigiu-se directamente a Arinc e a Erdogan: “Parem de nos dar lições de moral e contem todo o dinheiro que nos roubaram”.