Souto de Moura: “Tentámos vários sítios em Portugal sem o Siza saber”

Arquitecto defende que a memória e divulgação da arquitectura portuguesa têm que ser asseguradas por uma instituição "segura e firme".

Foto
Eduardo Souto de Moura Fernando Veludo

Souto Moura explica que há a hipótese “de o arquivo ir para o Canadá, mas as coisas ficarem depositadas cá”, através de um protocolo com Serralves ou com a Gulbenkian, que estarão interessadas. “Mas nunca há dinheiro.”

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Souto Moura explica que há a hipótese “de o arquivo ir para o Canadá, mas as coisas ficarem depositadas cá”, através de um protocolo com Serralves ou com a Gulbenkian, que estarão interessadas. “Mas nunca há dinheiro.”

“Isto não é só guardar, porque há muitos arquivos, do Athouguia, do Távora, do Teotónio Pereira, mas depois não acontece nada. Por muito que me custe, estas instituições [como o Centro Canadiano de Arquitectura] têm regras, têm um protocolo: primeiro tratam os documentos, limpam-nos, arquivam-nos e depois divulgam-nos através de exposições.”  

Sobre o seu próprio arquivo, a longo prazo, Souto Moura, autor do Estádio Municipal de Braga ou da Casa das Histórias em Cascais, o arquitecto diz que isso ainda não o preocupa. “Penso no que estou a fazer agora. Mas, em princípio, preferia que ficasse cá.” Conta que recentemente mandou 40 croquis e umas maquetas para o Centro Pompidou de Paris, “porque eles insistiram muito”, e passados 15 dias estavam expostas na galeria superior das novas aquisições. “Tenho um arquivo na Câmara de Matosinhos a apodrecer. A minha exposição do Centro Cultural de Belém está cheia de bolor.”

E acredita ainda numa solução? “Enquanto não houver uma Casa da Arquitectura com meia dúzia de arquivistas, uma instituição segura e firme”, não vê uma solução e percebe a opção do Siza, assegurando que alguém trate da sua memória. “Portugal, praticamente, não tem nada de importante. A não ser futebol e atletismo. Os outros dizem que a nossa arquitectura é importante.”