Uma máquina com coração

Alemanha sagrou-se campeã mundial pela quarta vez na história. Final frente à Argentina, no Maracanã, foi decidida com um golo no prolongamento.

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A Alemanha campeã do Mundial 2014 está longe de ser a formação fria e física que normalmente se associa à Mannschaft. Muito se tem falado do “samba alemão” que a equipa orientada por Joachim Löw mostrou no Brasil. Não é só nos relvados que isso é verdade: ao estilo de jogo muito atractivo que coloca em prática, a selecção alemã adopta uma postura muito descontraída que foi evidente ao longo de todo o torneio. Fosse na forma como os jogadores celebraram no relvado com as respectivas famílias, fosse na política aberta com que trabalharam na Bahia durante o torneio. Tudo foi pensado ao pormenor, incluindo as manifestações públicas dos jogadores que cativaram o Brasil inteiro. A Alemanha pode continuar a ser uma máquina, mas é uma máquina com coração.

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A Alemanha campeã do Mundial 2014 está longe de ser a formação fria e física que normalmente se associa à Mannschaft. Muito se tem falado do “samba alemão” que a equipa orientada por Joachim Löw mostrou no Brasil. Não é só nos relvados que isso é verdade: ao estilo de jogo muito atractivo que coloca em prática, a selecção alemã adopta uma postura muito descontraída que foi evidente ao longo de todo o torneio. Fosse na forma como os jogadores celebraram no relvado com as respectivas famílias, fosse na política aberta com que trabalharam na Bahia durante o torneio. Tudo foi pensado ao pormenor, incluindo as manifestações públicas dos jogadores que cativaram o Brasil inteiro. A Alemanha pode continuar a ser uma máquina, mas é uma máquina com coração.

E precisou dele todo para alcançar o quarto título mundial (1954, 1974, 1990 e 2014): no Maracanã, a Argentina ofereceu à Mannschaft um duro teste. A equipa de Alejandro Sabella mostrou a melhor face que se lhe viu durante o Campeonato do Mundo, colocando muitas dificuldades aos alemães e quase emperrando a máquina. Mas, já dizia Gary Lineker, no final ganha a Alemanha. Dos pés do jovem Götze saiu o lance que deixou prostrados milhares (milhões) de argentinos e deitou por terra o sonho da “alviceleste”. Conquistar o título no Maracanã constituiria a derradeira afronta para os rivais brasileiros e seria esfregar sal na ferida aberta que é, por estes dias, a relação do Brasil com o futebol. Tão cedo a “canarinha” não esquecerá o Mundial 2014.

O Cristo Redentor dominava a vista das bancadas do Maracanã e, num fim de tarde bucólico no Rio de Janeiro – o sol deixou-se ver ao fim de alguns dias de céu cinzento e chuva – estavam reunidas as condições para se escrever uma página de história. Com a vitória sobre a Argentina, a Alemanha tornou-se na primeira selecção europeia a ganhar um Campeonato do Mundo realizado nas Américas. Era, de resto, um objectivo traçado desde o início e foi tudo planeado nesse sentido. Como se a Alemanha desse corpo à frase do uruguaio Obdulio Varela, capitão da selecção que em 1950 chocou o Brasil no celebérrimo episódio conhecido como “Maracanaço”: “Cumplimos sólo se somos campeones”, disse então Varela. Ser campeão era também a única opção para a equipa de Löw.

Para cumprir o objectivo, a Alemanha teve de ser paciente. Não é só pelo facto de o jogo ter sido decidido no prolongamento (pela terceira vez consecutiva em finais do Mundial), mas também porque a Argentina vendeu cara a derrota. Os jogadores orientados por Sabella, empurrados pelos milhares de adeptos no Maracanã, criaram dificuldades à Mannschaft. Tivesse havido mais eficácia e a “alviceleste” até podia ter estado em vantagem no marcador. Um exemplo flagrante disso foi o falhanço escandaloso de Higuaín, que após um mau cabeceamento de Kroos ficou frente a frente com Neuer mas nem acertou na baliza (21’). Aos 40’ Messi passou por Hummels e desviou a bola de Neuer, mas Boateng fez o corte no último instante e evitou o golo. Pouco mais se viu do génio do Barcelona, a não ser um remate cruzado que passou a milímetros do golo (47’).

Paulatinamente, a Alemanha conseguiu controlar a Argentina. Mas a parte atacante da máquina mostrava menos acerto que em ocasiões anteriores. Romero travou o remate de Schürrle (37’) e Höwedes cabeceou ao poste na sequência de um canto (45+2’).

A segunda parte foi menos bem jogada, como se o prolongamento tivesse imediatamente entrado na cabeça dos jogadores. Nessa altura, regressou a animação: Schürrle voltou a testar Romero e Palacio teve nos pés uma ocasião flagrante, mas, tal como Higuaín tinha feito, desperdiçou-a: no coração da área, recebeu um lançamento de Rojo mas decidiu mal, tentando fazer a bola passar por cima de Neuer.

Era escusado, porque o plano estava traçado desde o início. Götze foi o seu executor: após grande jogada de Schürrle, o futebolista do Bayern Munique recebeu a bola no peito e, sem a deixar cair, incendiou as bancadas do Maracanã. Era tarde para a Argentina reagir, como denunciou a expressão de Messi. Um “Maracanaço” pessoal para o internacional argentino. Mas inteiramente merecido para a Alemanha.

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