Um Mundial para quem anda à procura de um país

A partir de amanhã, 12 selecções que não estão representadas na FIFA vão disputar um título mundial. O irmão mais novo de Mario Balotelli vai estar lá.

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Tal como o seu irmão mais velho, também não se saberá muito o que vale Enoch, um avançado que alinha no modesto Vallecamonica, dos escalões secundários de Itália, e que passou pela formação do Manchester City quando o irmão andava por lá. Enoch não vai passar despercebido num torneio onde não há “estrelas” do futebol mundial com contratos milionários. Há histórias de vida, exemplos de superação e uma vontade comum de passar a pertencer ao mundo através do seu ritual mais global, o futebol. Representam minorias étnicas, estados não reconhecidos pela comunidade internacional, comunidades aprisionadas pela geografia em países que não sentem como seus.

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Tal como o seu irmão mais velho, também não se saberá muito o que vale Enoch, um avançado que alinha no modesto Vallecamonica, dos escalões secundários de Itália, e que passou pela formação do Manchester City quando o irmão andava por lá. Enoch não vai passar despercebido num torneio onde não há “estrelas” do futebol mundial com contratos milionários. Há histórias de vida, exemplos de superação e uma vontade comum de passar a pertencer ao mundo através do seu ritual mais global, o futebol. Representam minorias étnicas, estados não reconhecidos pela comunidade internacional, comunidades aprisionadas pela geografia em países que não sentem como seus.

O jogo inaugural deste Mundial organizado pela ConIFA (Confederação de Associações Independentes) será entre a Padânia e o Darfur United, equipa formada nos campos de refugiados do Darfur por uma ONG norte-americana. Em 2012, Mark Hodson, treinador do Darfur United, contava ao PÚBLICO a história desta equipa formada por homens que fugiram do sangrento conflito no Oeste do Sudão para os campos do Chade. “Todos viram um membro da sua família assassinado à sua frente”, dizia este treinador britânico radicado nos EUA que assumiu a tarefa de reconstruir a identidade destes refugiados através do futebol. O projecto começou em 2011 e, quatro anos depois, conseguiram reunir os fundos para fazer a viagem. Será a segunda experiência internacional depois de terem participado, em 2012, no Viva World Cup, um torneio também para selecções não reconhecidas pela FIFA, realizado no Curdistão iraquiano.

“Trabalhamos para apoiar etnias e regiões isoladas e mostrá-las ao mundo, para que saiba que elas existem”, diz Per Anders Blind, presidente da ConIFA, citado pela CNN, frisando que a sua confereração tem potencial para crescer e ter mais membros que a própria FIFA. “Existam 5500 etnias e regiões que não podem jogar. A FIFA tem 209 membros e nós podemos facilmente dobrar esse número”, calcula o sueco, que estima lotações esgotadas para os jogos deste Mundial alternativo, todos marcados para o relvado sintético do estádio do clube da cidade, da II Divisão sueca, com capacidade para seis mil espectadores.

Não houve longas fases de qualificação para este Mundial, como acontece para o Mundial FIFA. Foram 12 os que aceitaram o convite da ConIFA, que não conseguiu convencer a Catalunha, que ainda tem esperanças de ser reconhecida pela FIFA e pela UEFA – também a Ilha da Páscoa foi convidada a participar, mas acabou por não fazer a viagem até à Suécia. Quem já está fora destes campeonatos é Gibraltar, que foi recentemente reconhecido como membro da UEFA e já vai participar nas qualificações para o Euro 2016, apesar da oposição da Espanha durante muito tempo. Para a selecção de Nagorno-Karabakh a participação neste Mundial não é um assunto pacífico. A representação futebolística do enclave arménio na Suécia teve forte oposição do Azerbaijão, mas a vontade de mostrar que podem sobreviver à guerra foi mais forte.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos