Sondagens: um retrato desfocado pela abstenção

A tendência, nas eleições para o Parlamento Europeu, é clara. Os estudos de opinião costumam falhar, por vezes clamorosamente, na previsão dos resultados. A culpa é de quem não vai votar.

Foto
A União Europeia começou a nascer depois da II Guerra Mundial Reuters

Na campanha anterior para o Parlamento Europeu, em 2009, por esta altura, quase todas as sondagens davam o PS como vencedor e Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD, em segundo. A média, lembrada por Pedro Magalhães, no seu site, era de 34,6% para os socialistas e 32% para os social-democratas. O resultado discordou: Rangel ganhou com 31,7% e o PS, numa lista encabeçada por Vital Moreira, ficou-se pelos 26,5% dos votos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na campanha anterior para o Parlamento Europeu, em 2009, por esta altura, quase todas as sondagens davam o PS como vencedor e Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD, em segundo. A média, lembrada por Pedro Magalhães, no seu site, era de 34,6% para os socialistas e 32% para os social-democratas. O resultado discordou: Rangel ganhou com 31,7% e o PS, numa lista encabeçada por Vital Moreira, ficou-se pelos 26,5% dos votos.

A abstenção ajuda a explicar a razão para este “retrato” tão desfocado. “Estas sondagens sofrem com o efeito da abstenção”, lembra João António, investigador do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP), da Universidade Católica Portuguesa. A última que fez, para a RTP/Antena 1/DN/JN, mostrava que 52% dos inquiridos pretende votar. Mas há que ter em conta as recusas (apenas 76% dos contactados aceitaram participar no estudo), o que não permite mais do que “adivinhar” o que pode ser a afluência às urnas no domingo, 25.

Uma coisa parece certa: “Os partidos com voto mais militante beneficiam com a baixa afluência”, aponta João António. Isso ajuda a explicar uma das “tendências” que Pedro Magalhães identifica nas eleições anteriores para o Parlamento Europeu: “A CDU teve sempre melhores resultados nas Europeias do que aquilo que as sondagens indicavam.”

Só houve, até agora, quatro actos eleitorais semelhantes em Portugal (1994, 1999, 2004 e 2009). Pedro Magalhães identificou outras constantes: "Quando concorreu sozinho (…) o CDS também teve sempre melhor do que as sondagens indicavam. Mas em 2004, a coligação PSD/CDS como um todo teve um resultado inferior do que as sondagens sugeriam." Nos últimos três actos eleitorais, quem estava no Governo obteve "sempre resultados abaixo do que foi medido pelas sondagens".

Já o Bloco de Esquerda também parece dar dores de cabeça a quem faz estudos de opinião: em 2004 ficou abaixo, em 2009 ficou acima das sondagens.

A poucas horas de encerrar a campanha há questões em aberto. A haver surpresas, estas podem vir da eleição de um partido sem representação actual no PE. Ou, então, do valor da distância entre os dois primeiros.

Paulo Pedroso, ex-deputado do PS, comentou assim o “retrato” das sondagens: “Se os resultados de domingo acertarem nas sondagens, estas eleições dirão que a situação política em Portugal é estável, a crise não criou nenhum extremismo nem sequer nenhum factor político novo de relevo. (...) Mas, claro, os resultados de domingo podem não acertar nas sondagens e pode ser que não fique tudo como dantes.”