Lidar com os desafios da paternidade

Uma das medidas a explorar em Portugal é a criação de pequenos grupos de mães e pais que se encontram de forma informal mas organizada durante a licença de paternidade

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Karoly Arvai/Reuters

Quando se pensa nos desafios colocados por um longo período de licença de maternidade ou paternidade, há várias questões que emergem de imediato: o risco de o nosso mundo se fechar em torno do bebé, o surgimento de dinâmicas de isolamento, o risco de depressão, a dificuldade em manter uma condição física e psicológica saudável, o distanciamento de um trabalho que avança sem a nossa presença e para o qual não somos afinal imprescindíveis. Lidar com estes desafios requer disciplina, força de vontade e a manutenção de um difícil equilíbrio entre decidir viver o dia de hoje sem esquecer que o futuro é já ali. Mas a solução para estes desafios não depende apenas dos pais. Há condições estruturais que podem ser criadas para evitar que estes riscos potenciais se transformem em problemas reais.

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Quando se pensa nos desafios colocados por um longo período de licença de maternidade ou paternidade, há várias questões que emergem de imediato: o risco de o nosso mundo se fechar em torno do bebé, o surgimento de dinâmicas de isolamento, o risco de depressão, a dificuldade em manter uma condição física e psicológica saudável, o distanciamento de um trabalho que avança sem a nossa presença e para o qual não somos afinal imprescindíveis. Lidar com estes desafios requer disciplina, força de vontade e a manutenção de um difícil equilíbrio entre decidir viver o dia de hoje sem esquecer que o futuro é já ali. Mas a solução para estes desafios não depende apenas dos pais. Há condições estruturais que podem ser criadas para evitar que estes riscos potenciais se transformem em problemas reais.

Uma das medidas a explorar em Portugal é a criação de pequenos grupos de mães e pais que se encontram de forma informal mas organizada durante a licença de paternidade. Sabendo que a maior parte desse período é ocupada por mães, e tendo em atenção a importância da partilha de experiências, dificuldades e anseios comuns a quase todas elas, cada município dinamarquês organiza grupos de entre cinco e sete mães seleccionadas de acordo com a data de nascimento do bebé e a área de residência. Uma vez que a taxa de natalidade é bastante alta, é relativamente fácil organizar grupos de residentes da mesma área com crianças nascidas num intervalo de um ou dois meses.

Poucos dias após o nascimento, cada mãe recebe em casa uma carta da câmara municipal dando conta do grupo em que se insere e a data da primeira reunião. Nesse primeiro encontro participa igualmente uma enfermeira do município que dá um cunho institucional a este arranjo e que tenta criar um grupo a partir de uma escolha tão aleatória. As reuniões seguintes decorrem a cada semana alternadamente em casa de cada mãe durante cerca de duas horas, o que é bom tanto para as mães como para os próprios filhos, que convivem uns com os outros, partilham brinquedos, e habituam-se a dividir espaço e atenção com outros bebés.

Como é de esperar, a dinâmica destes grupos tão heterogéneos nem sempre funciona. Além disso, o sinal que é dado é que estes grupos são para mães, sendo que para os pais existem esquemas diferentes. Do meu ponto de vista, ainda que haja temas que sejam mais fáceis de discutir entre mulheres e outros entre homens, não há motivo para que a separação entre pais e mães seja feita logo à partida. Aliás, julgo que ter grupos mistos é uma boa forma de combater justamente a questão do risco de o mundo se fechar em torno do bebé.

O facto de estes grupos resultarem de uma iniciativa municipal ilustra a importância que a comunidade tem para tornar a licença de maternidade ou paternidade uma experiência inesquecível mas não alienante. Sentir que se é parte de algo e que a sociedade nos protege é fundamental mesmo quando as nossas atenções estão concentradas no bebé. Só assim é possível esquecer as olheiras e enfrentar os desafios da paternidade com um sorriso nos lábios.