Nigéria rejeita troca de adolescentes raptadas por islamistas detidos

“Sabem como as libertámos? Essas raparigas tornaram-se muçulmanas”, afirma líder do Boko Haram num vídeo que mostra mais de uma centena de adolescentes.

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“Não cabe ao Boko Haram impor condições”, disse à AFP o ministro do Interior, Abba Moro, excluindo a possibilidade de “trocar uma pessoa por outra”. Questionado directamente sobre se a oferta seria rejeitada, respondeu: “Claro”.

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“Não cabe ao Boko Haram impor condições”, disse à AFP o ministro do Interior, Abba Moro, excluindo a possibilidade de “trocar uma pessoa por outra”. Questionado directamente sobre se a oferta seria rejeitada, respondeu: “Claro”.

Durante os 27 minutos do vídeo, divulgado esta segunda-feira pela agência de notícias francesa, Abubakar Shekau fala durante 17 e diz que as estudantes, com idades entre os 12 e os 17 anos, seriam libertadas se o mesmo acontecesse a todos os islamistas do Boko Haram detidos na Nigéria, cujo número não foi divulgado.

Shekau fala à frente de um fundo verde, veste uniforme militar e tem junto ao corpo uma espingarda automática Kalachnikov. Em nenhum momento aparece junto das raptadas. Nada permite perceber onde nem quando foram filmadas as imagens nem se o líder islamista está no mesmo local em que as raparigas se encontram.

As estudantes, para cima de uma centena, surgem num espaço ao ar livre, mostrando apenas o rosto, a recitar o Corão. Duas das três que falam no vídeo declaram que eram cristãs mas mudaram de religião. A terceira afirma que já antes era muçulmana. Uma, com um olhar fugidio, e que a agência descreve como visivelmente coagido, diz que não foram maltratadas.

Abubakar Shekau afirma que as raptadas se converteram ao islamismo. “Essas raparigas com que tanto se preocupam, de facto já as libertámos [...] e sabem como as libertámos? Essas raparigas tornaram-se muçulmanas”, afirma, sorrindo. “Só as vamos libertar depois de libertarem os nossos irmãos.” Noutra passagem, afirma, porém, que a troca que propõe só incluiria as “que não se converteram ao Islão”.

No total, foram 276 as raparigas raptadas no dia 14 de Abril e outras 11, entre os 12 e os 15 anos, no início de Maio em Chibok, estado de Borno, nordeste, zona de importante presença do Boko Haram mas onde vive uma expressiva comunidade cristã. Do grupo de 276, dezenas conseguiram fugir mas 223 permanecem, segundo a polícia, nas mãos do Boko Haram.

Num vídeo divulgado há uma semana, o líder do grupo disse que as raparigas seriam tratadas como escravas e ameaçou “vendê-las no mercado” e casá-las à força. As declarações provocaram indignação a nível internacional e chamaram a atenção para uma organização que pretende criar um estado islâmico no norte da Nigéria.

O veterano repórter da BBC John Simpson, que está na cidade de Miduguri, numa área em que ocorrem com frequência ataques do Boko Haram, considera que a proposta de troca das reféns por prisioneiros tem um dado novo - mostra disponibilidade do grupo para negociar.

Estados Unidos, Reino Unido e França enviaram especialistas para ajudarem as forças de segurança nigerianas na busca das jovens desaparecidas. China e Israel ofereceram auxílio. No domingo, o Presidente francês, François Hollande, propôs a realização de uma cimeira sobre a segurança na Nigéria em que participariam o país afectado e quatro vizinhos – Chade, Camarões, Níger e Benim. Hollande disse ter pedido também aos norte-americanos e aos britânicos para se fazerem representar na reunião que poderá realizar-se no próximo sábado, em Paris.

O governador do estado de Borno disse entretanto que as jovens foram avistadas, e não terão sido levadas nem para o Chade nem para os Camarões, como chegou a ser admitido. Kashim Shettima limitou-se a dizer que passou ao Exército da Nigéria as informações que recebeu.

Os ataques do Boko Haram começaram em 2009 e têm vindo a alargar-se geograficamente, tendo já causado milhares de mortos – só este ano já são mais de dois mil.