O novo tesouro de Goa

Se não fosse o rigor de um funcionário bancário, muito provavelmente Portugal teria perdido uma singular colecção de jóias. Durante 50 anos, estiveram em caixotes. Agora, fornecem pistas sobre como se trabalhava — e usava — o ouro em Goa.

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O dia vai a meio. Jorge Esteves Anastácio não sabe bem o que fazer. Ou talvez considere que este não é um daqueles casos em que pode decidir sozinho. Há três meses que tem a seu cargo a gestão do Banco Nacional Ultramarino em Goa. Nesta tarde de 12 de Dezembro de 1961, já é impossível ignorar as notícias pouco animadoras vindas da fronteira. Muitas famílias, sobretudo mulheres e crianças, até já começaram a embarcar no vapor Índia por conselho do governador-geral, o general Vassallo e Silva. A qualquer instante, os soldados indianos podem entrar no território. O que deverá ele fazer com os valores depositados no banco? Abandoná-los às mãos dos invasores?

Jorge Anastácio tenta consultar os seus superiores em Lisboa: primeiro, manda um telegrama para a sede. Depois, e porque do banco não é possível fazer chamadas internacionais, vai até à estação dos Correios para tentar falar directamente, por telefone, com o governador do BNU, a mais de oito mil quilómetros de distância. Não está. Mas está o administrador, que o tenta sossegar: não é preciso fazer a remessa porque os contactos diplomáticos entre Lisboa e Nova Deli estão a dar frutos. Goa, Damão e Diu não serão invadidos, assegura-lhe. Em todo o caso, Jorge Anastácio que decida o que achar melhor, uma vez que está mais habilitado para avaliar o ambiente que se vive em Goa. E se o melhor for enviar tudo para a metrópole, pois que assim o faça.

Ao fim da tarde, Jorge Anastácio pede um camião emprestado ao presidente da Junta de Comércio Externo e solicita ao comissário da Polícia alguns homens que possam fazer a escolta. Milhares de embrulhinhos, vindos de agências em várias partes do território, são colocados dentro de 19 caixotes. A seguir, vai ao Palácio do Hidalcão comunicar a Vassallo e Silva que vai seguir o conselho que o próprio lhe dera horas antes. Às dez da noite, Jorge Anastácio entra no automóvel do Banco para acompanhar o camião até ao cais de Mormugão, onde estava atracado o Índia. Os caixotes são transportados para um pequeno compartimento à proa no navio, impecavelmente limpo, onde estavam também munições. Assina-se a papelada que é preciso assinar, dando conta da carga. Às duas da manhã, regressa a Pangim.

O que estava dentro das 19 caixas? Todas as jóias de particulares dadas em penhor ao banco como caução de empréstimos, prata antiga, valores de clientes depositados em cofres, outros entregues à guarda do banco por vários serviços do Estado — Finanças, Alfândega ou tribunais — e resultantes de contrabando ou roubo. (Dois ou três dias depois, a Alfândega de Mormugão depositou na filial do banco em Pangim vários volumes com barras de ouro apreendidas a contrabandistas. Esses seguiriam de avião.)

Na noite de 17 para 18 de Dezembro, Jorge Anastácio ouve tiroteios. A telefonista diz-lhe o que ele muito provavelmente já saberia: “Os indianos estão a atacar”.*

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Serão mesmo botões?

Luísa Penalva e Anísio Franco, conservadores do Museu Nacional de Arte Antiga, são chamados para uma missão inédita. Estão na casa-forte da Caixa Geral de Depósitos e à sua frente há 15 caixotes. Não estão sozinhos. Há duas pessoas da Direcção-Geral do Tesouro e outras duas da própria CGD. O primeiro a ser aberto tem o número 14. Dentro do caixote, há pequenas caixas e dentro das caixas, pacotes. Pacote atrás de pacote, rompendo os atilhos e o lacre (da Alfândega ou do tribunal), deparam-se com peças que nunca tinham visto, nem sabem bem como classificar.

A primeira embalagem deixa-os momentaneamente mudos. “O que é isto???” Uma figurinha minúscula do Menino Jesus Salvador do Mundo pendia de um colar. A mão direita, com dois dedos juntos, dá a bênção, a esquerda segura um orbe (um globo terrestre com uma cruz em cima). Ainda vão aparecer mais 12 exactamente como esta, ou quase exactamente como esta.

Há um inventário dactilografado, absolutamente minucioso, para cada um dos caixotes e pelo qual tentam orientar-se: piliô, quegoda, sorpoli, pouleanci mal, kankanam, kadaga, etc., etc. Há colares, brincos, pulseiras, tiaras, botões... Serão mesmo botões? E este objecto em forma de ípsilon? Ficam sem saber que nome dar às coisas, mas pasmados com o que têm nas mãos. Colocam as jóias em cima da mesa. Observam-nas. Olham um para o outro: “E agora? O que vamos fazer a isto?”

Dias depois, a 12 de Dezembro de 2011, exactamente 50 anos depois de Jorge Anastácio ter enviado os caixotes para Lisboa, juntam-se na CGD para uma cerimónia simbólica. É aberto novamente o caixote 14, com o melhor das “jóias da Índia”. Os media estão lá para fotografar e filmar o momento solene da “abertura” dos caixotes, na presença do antigo funcionário do BNU. Será mais um sinal de partida.

Não há apenas jóias na carga enviada por Jorge Esteves Anastácio para a metrópole. Há mais de 100 quilos de uma quantidade surpreendente de barras de ouro, tiaras, pentes, brincos, anéis. Ao lado dos conservadores do MNAA (ali em representação do então Instituto dos Museus e da Conservação, IMC), está também Zacarias Dias, do Gabinete de Património Histórico da CGD. Está habituado a lidar com objectos preciosos e museológicos. Mas aqui há “uma carga emocional diferente”, diz-nos. “Saber que os seus antigos proprietários se viram privados deles por algum infortúnio que a vida lhes reservou ou por outro episódio (menos legal), obrigando-os a entregar [os valores] ao banco, aumenta a imaginação ‘histórica’.”

Nem todo o ouro que foi enviado para Lisboa ficou por aqui. Durante 30 anos, tudo repousava na casa-forte do banco. Mas em 1991 vários caixotes fizeram a viagem de volta à Índia. O BNU (absorvido pela Caixa Geral de Depósitos em 2001) e o State Bank of India tinham assinado em Fevereiro um acordo para a devolução do ouro trazido para Portugal. Seis meses depois, 14 caixotes foram levantados da agência do BNU na Rua Augusta, entregues aos funcionários do SBI e transportados para o aeroporto de Lisboa, conta Zacarias Dias. Neles estavam 5584 envelopes com objectos.

Até à saída dos portugueses de Goa, o BNU funcionava como “casa de penhores”. “Em situações de aflição ou aperto financeiro, as pessoas solicitavam pequenos empréstimos, penhorando alguns bens, com a intenção de, posteriormente, os resgatar. Nem todos o conseguiram fazer até à data da invasão de Goa, uns por falta de tempo, outros de dinheiro”, explica Zacarias Dias. “O banco possuía também cofres, que disponibilizava a particulares, para guardarem alguns pertences valiosos. Foram estes objectos, à guarda ou em penhor, dos quais se conheciam os legítimos proprietários, que em 1991 foram devolvidos à União Indiana”, continua. “Desconhecemos o destino final que lhes foi dado.”

Quanto aos outros caixotes que ficaram — os tais que pertenciam, sem sombras de dúvida, ao Estado português —, seriam precisos ainda mais 20 anos para os abrir.

Ao longo de meses, é aqui, na casa-forte da CGD, o local de trabalho de Anísio Franco e Luísa Penalva. À primeira vista, alguém poderia ser induzido em erro: muitas das latas que têm nas mãos são velhas caixas de chocolates, de rebuçados, de tabaco, de fitas de máquina de escrever. Outras não são caixas, são frascos. Mas aquilo que guardam conta sempre uma história singular. A história de como um funcionário exemplar salvou um património que estava até agora por estudar. A história de como duas culturas se podem juntar numa jóia.

Voltamos então a Dezembro de 2011. Anísio Franco e Luísa Penalva começam a abrir pacotinhos, de inventário na mão. Nenhum dos embrulhos tinha sido alguma vez aberto. E não há um único objecto listado em falta.

Algumas das jóias estão desmontadas, às vezes em três partes, ou em centenas de pequenas peças, consoante os casos. Nenhuma tem pedras, porque a maioria foram trocadas, a peso, por dinheiro. Quando têm tecido, forma-se uma pequena nuvem de pó vermelho: o ouro resiste ao tempo, mas os fios de algodão não.

Depois de bem analisada, cada jóia volta para dentro da sua caixa, para depois ser enviada para o Instituto José de Figueiredo onde será restaurada. Mas nada é simples, muito menos neste caso.

Durante cinco meses, Belmira Maduro dirige a equipa que trouxe a aura de volta a estes objectos. Não foi tarefa fácil, porque, para os conservadores, “eram peças diferentes em termos de execução e tipologia, com muitas missangas e contas”, explica Belmira Maduro. “Algumas peças estavam totalmente fragmentadas e tivemos de compreender como eram feitas.”

Vinham em bocados, com pó, algumas amolgadas, outras incompletas. Foram feitas análises que permitiram identificar ligas de ouro e de prata que estão associadas a pedras, esmaltes, vidros e missangas. Fez-se a limpeza com água desionizada e detergente e com a ajuda de pincéis e cotonetes. Procederam-se a colagens e reforços. Substituíram-se fios e cordões.

Os colares, por exemplo, levaram imenso tempo a intervencionar. “Tinham de ser desmontados, depois limpos, em alguns casos consolidados o esmalte e engastadas pedras — materiais muito marcantes nas jóias. As pedras em falta foram substituídas por cristais de rocha, lapidados na Alemanha. Optou-se por pedras incolores, porque havia algumas que não sabíamos exactamente que cores tinham, apesar de haver uma predominância [na Índia] de verde e encarnado.”

Para a conservadora, espantou “a minúcia”. “Foi muito interessante ver a sua execução: são feitas numa folha de ouro finíssima e levam uma camada de resina de enchimento para dar consistência.” Há uma pulseira larga que está ainda inacabada e que permitiu aos investigadores isso mesmo: ver por que etapas a peça passou. Lá está ela agora em exposição, com a sua resina castanha, cor de chocolate. As flores estão já relevadas, mas mais parecem quase um esboço, porque o relevo está ainda por completar com o acabamento de cinzelagem.

“As técnicas de ourives são iguais em todo o lado — o material é cinzelado, gravado, repuxado, recortado, filigranado.” Mas há aqui “uma forma diferente de aplicação destas técnicas” que distingue estas jóias da produção europeia.

O trabalho não pretendeu deixar tudo como novo. Foram mantidos sinais de uso, para nos lembrar que as jóias tiveram uma função e uma época.

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"Jantar dos gentios", Índia, oficina de Goa (1785-1800). Antiga colecção de Guilherme de Alpoim Calvão

O que nos diz o Menino Jesus

Conhecíamos outras produções indo-portuguesas, obviamente: a escultura, os têxteis, o mobiliário e a ourivesaria... De todas as outras produções artísticas indo-portuguesas, nós tínhamos informações, está tudo muito estudado, mas isto não”, diz Anísio Franco, agora já no Museu de Arte Antiga, onde as peças estão expostas. Luísa Penalva acrescenta: “Há imensa bibliografia para joalharia indiana, que é riquíssima, sumptuosa, mas nada sobre joalharia goesa, do dia-a-dia, que as pessoas usavam, e que não é tão ostentatória como a dos marajás. Nunca, nunca apareceu. As pessoas usavam as jóias e guardavam-nas. Até aos anos 1920-30, as noivas usavam estas peças. Depois, ficou tudo guardado em cofre pelas famílias. São dotes que passam de geração em geração.”

Há peças que remontam ao século XVII, outras são do início do século XX, mas a maioria é do século XVIII e XIX. A tarefa de as datar não é simples. “A tradição que se mantém na sociedade goesa foi uma das coisas que nos trouxeram mais dificuldades. A técnica foi sempre a mesma, não houve industrialização a partir de uma certa altura. Foi através de pequenos detalhes e de outras peças que fomos encontrando que fomos conseguindo datá-las de alguma maneira.”

Olhemos para o Menino Jesus Salvador do Mundo que aparece em 13 colares. Em algumas peças, em vez da orbe, tem uma chama ou uma pequena palma. “A figura é sempre a mesma, quase invariavelmente do mesmo tamanho, mudam apenas os atributos”, apontam os conservadores. O cabelo é tratado da mesma forma, a figuração do rosto muito pouco se altera (o que leva a crer que existiu uma figura de referência, que serviu de modelo a estas representações). Encontram-se grandes afinidades entre este Menino Jesus e o Krishna Menino (ou Balakrishnan). Tal como em muitas representações de Balakrishnan e de vários semideuses indianos, Jesus aparece aqui com uma folha de peepal na cabeça. O próprio colar é um testemunho da conversão de hindus ao cristianismo (conversão muitas vezes forçada: o Tribunal do Santo Ofício foi introduzido em 1560, 50 anos depois de os portugueses terem tomado o território).

Os 13 pendentes têm a mesma figura, mas são de épocas bem diferentes, a mais antiga do século XVII. Esta representação inalterada ao longo de anos e anos tem uma explicação. Diz Anísio Franco: “É uma característica normal das sociedades não europeias: não são evolucionistas, são rituais. Tudo se repete como um ritual que vem desde o início da cristianização na zona. As variações são sempre muito ligeiras.”

Este facto não facilita a vida dos investigadores. Mas há detalhes que ajudam a fortalecer pistas. Com o espólio, tornou-se possível “a caracterização de tipologias nunca antes vistas”, acrescenta Anísio Franco. “Por exemplo, se nos aparecesse um menino Jesus apenas, era uma jóia importante, extraordinária, mas nós não saberíamos se aquilo tinha sido repetido, se se usava frequentemente em Goa. De repente, aparecem-nos 13 com a mesma tipologia.”

Há outros casos. “Se nos aparecesse um objecto destes isolado [aponta para um dos expositores], para nós era um botão.” Até para a especialista em joalharia indiana Usha Balakrishnan, a pequena bola em ouro era apenas um botão. Mas porque é que apareciam sempre, invariavelmente, em conjuntos de seis? E tantas vezes repetidos? E o que é aquilo nas orelhas da rapariga do quadro a óleo Bramina (Goa, 1785-1800)? Não serão os tais “botões”? Três de um lado, três do outro. Seis. Seis brincos.

“Obviamente, conhecemos as jóias europeias, temos informações bibliográficas sobre as jóias indianas, mas o que encontrávamos não se encaixava nem num universo nem no outro”, conta Luísa Penalva. “Claro que sabíamos que um colar era um colar. Mas havia outros que não sabíamos sequer como se usavam.”

Foram meses de trocas de emails e fotografias com Usha Balakrishnan. Que agora nos diz numa entrevista por email: “Todas as regiões indianas têm o seu próprio design e as suas técnicas de produção de joalharia. Esta colecção é exclusivamente goesa. O trabalho do ouro, as formas e os detalhes decorativos são diferentes dos que foram feitos noutras partes da Índia durante o mesmo período.” Essa singularidade é um “reflexo da história antiga de Goa — a conquista portuguesa, as influências europeias e a estética mogul misturada com a cultura indígena”. A fauna e a flora da região materializam-se na decoração de pulseiras ou de adornos para o cabelo, “com o esplendor barroco das igrejas”.

Para o historiador de arte Nuno Vassallo e Silva (actual director-geral do Património Cultural), especialista em ourivesaria e joalharia, “as jóias mostram como Goa é uma sociedade multicultural e multirreligiosa. Não se percebe onde acaba o mundo hindu e começa o mundo cristão”. Com esta colecção, “entra no MNAA uma linguagem da ourivesaria indiana, uma produção executada pelas comunidades locais... Há uma série de tipologias usadas pelas mulheres hindus que não são usadas pelas mulheres cristãs, que assim chegam a Portugal. São para nós uma surpresa porque não fazem parte do nosso universo ornamental”. É como encontrar “o outro lado da medalha”.

“Muitas são jóias tardias, mas seguem tipologias europeias do século XVII que já estavam ultrapassadas cá — deve-se muito à evolução dos estilos nas periferias que é mais lenta do que no Reino”, adianta Vassallo e Silva. “Há um prolongamento estilístico, com uma persistência barroca.”

Aquilo que foi parar às mãos dos conservadores abre agora várias portas. Não se trata do melhor que se produziu em joalharia em Goa (apesar de algumas peças estarem nessa categoria), mas sobretudo do que era realmente usado por mulheres de vários grupos sociais e religiosos. Diz Anísio Franco: “Traz a questão dos usos particulares específicos de Goa, a distinção social, a forma como as senhoras usavam [as jóias]. Quem usava o quê? Como se distinguiam em termos sociais, económicos, quais as variantes? Uma [é usada] para traje de missa, outra de festa. [Estabelecem] a distinção entre os cultos: quem ia à missa cristã, quem era hindu? É mais uma forma de caracterizar a sociedade goesa.”

Na Índia, “as jóias são um elemento palpável da vida e da cultura”, diz a investigadora indiana. “Não são apenas acessórios de roupa, são símbolos de poder, riqueza, posição social... São também, para as mulheres, símbolos da sua condição civil”. Isto para além de outras funções: “Aumentam a fertilidade, protegem contra o mau olhado e, acima de tudo, constituem a riqueza da mulher — um seguro que recebe dos seus pais quando casa, para lhe servir de apoio em tempos de necessidade.”

Mas este conjunto de cerca de 250 jóias, que agora está exposto no Museu Nacional de Arte Antiga (até 7 de Setembro), acrescenta algo ao que a própria investigadora já sabia da produção indiana. “Na Índia, poucas jóias antigas sobreviveram. De uma geração para a outra, o ouro era reciclado para fabricar novos ornamentos. Esta colecção é um conjunto raro e uma documentação notável das formas de joalharia dos séculos XVIII e XIX de Goa.”

Bem vistas as coisas, são ainda mais do que isso. “De algum modo, aquelas jóias ficam como um testemunho material daquele momento dramático de incertezas”, diz Nuno Vassallo e Silva, neto do último governador português de Goa. “A grande riqueza é este confronto entre tipologias que aparentemente não têm nada que ver com a nossa tradição cultural, mas que foram unidas por um acontecimento histórico.”

À entrada da exposição, há um pequeno filme. Jorge Esteves Anastácio, agora com 84 anos, olha para o ano de 1961. Lembra as caixas enviadas para Lisboa, os documentos queimados para não chegarem às mãos do “inimigo”, o taxista que, muitos anos depois, assegurava a um estrangeiro: “O melhor banco de Goa? O BNU, mas esse já cá não está” — a sua mulher tinha sido uma das que, 30 anos depois, tinham recuperado as jóias que guardara no banco. Jorge Anastácio comove-se. E remata: se fosse hoje, “fazia tudo igual. Porque sou da velha guarda”.

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"Bramina", Índia, oficina de Goa (1785-1800). Antiga colecção de Guilherme de Alpoim Calvão

* A reconstituição dos passos de Jorge Anastácio a 12 de Dezembro de 1961 foi feita a partir do seu relato Como Eu Vivi as Últimas Semanas do Banco Nacional Ultramarino em Goa: 1961-1962, entregue à CGD e citado no catálogo da exposição Esplendores do Oriente — Jóias de Ouro da Antiga Goa, que pode ser vista no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, até 7 de Setembro