Reencontro feliz

Este é um livro de reencontros felizes. Alfredo Cunha já tinha publicado muitas das suas extraordinárias fotografias do 25 de Abril em obras anteriores, como Disparos (1977) e Naquele Tempo (1995). Por seu turno, e entre outros trabalhos que dele fazem uma das vozes mais respeitadas da imprensa portuguesa, Adelino Gomes deu à estampa, em conjunto com José Pedro Castanheira, outra referência do nosso jornalismo, o livro Os Dias Loucos do PREC, muito provavelmente a mais completa e informada cronologia da revolução de Abril, no período de 11 de Março a 25 de Novembro de 1975. Aliás, Alfredo Cunha e Adelino Gomes publicaram em 1999 um breve livro, em forma de pequeno álbum, que, de certo modo, se aproxima do que agora saiu a lume: O Dia 25 de Abril de 1974 — 76 fotografias. Na obra agora saída, porém, o objectivo é muito mais ambicioso. As fotografias de Alfredo Cunha são acompanhadas de breves entrevistas a diversas personalidades que, não tendo exercido funções de liderança ou primeiro plano no 25 de Abril, desempenharam um papel decisivo no desenrolar dos acontecimentos desse dia. Muitos dos entrevistados já tinham prestado depoimento, sendo de recordar, a este propósito, a obra A Hora da Liberdade, de Joana Pontes, Sousa e Castro e Aniceto Afonso. A técnica do follow-up, mostrando, em imagens comoventes, os protagonistas ontem e hoje, já havia sido usada num magnífico número que a revista do Expresso dedicou, há alguns anos, ao 25 de Abril. E, quanto ao recenseamento ou levantamento dos militares intervenientes, importa sempre lembrar a notável investigação feita pelo PÚBLICO em 1999, que conseguiu reunir “os 240 que prenderam Caetano”.

Apesar de toda esta literatura pré-existente, este é um livro que consegue surpreender e, acima de tudo, emocionar quem o percorre. O testemunho que tem adquirido mais saliência e impacto é, sem dúvida, o de José Alves Costa, o cabo apontador do carro de combate M47 que ficará para a História pelo seu corajoso gesto de insubordinação. A par dele, surge um furriel miliciano a confessar ter rezado duas vezes nesse dia, uma no Terreiro do Paço, outra no Largo do Carmo; e um alferes que revela que “se aquilo desse para o torto, o Maia rebentava a granada”. O livro adquire, com estes e outros depoimentos, um valor mais emocional do que informativo, não trazendo, em substância, elementos absolutamente novos ou desconhecidos sobre o 25 de Abril. Mas a conjugação das imagens de Alfredo Cunha e dos testemunhos recolhidos por Adelino Gomes converte esta obra naquele que é, até agora, o mais belo e comovente livro publicado por ocasião do 40.º aniversário da revolução de Abril. Será difícil ultrapassá-lo na sua dimensão evocativa da memória.

Quase a terminar, uma informação comercial, mas não banal ou irrelevante: além de tudo, este livro tem um preço acessível, constituindo a prova de que se podem produzir obras de grande qualidade e riqueza iconográfica para o grande público, para os que viveram e pretendem recordar o 25 de Abril e também para as novas gerações, que querem conhecer os “rapazes dos tanques” e saber o motivo por que os devemos celebrar. A eles e à memória do herói maior desse dia, Fernando Salgueiro Maia. Por último, o mais importante. Apesar de as fotografias de Alfredo Cunha terem sido tantas vezes vistas e mostradas, mesmo que os relatos do 25 de Abril hajam sido feitos em inúmeras ocasiões, este livro contém o vibrante apelo da novidade. E a reconfortante certeza de que, há 40 anos, houve um lado certo na História.


 

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Este é um livro de reencontros felizes. Alfredo Cunha já tinha publicado muitas das suas extraordinárias fotografias do 25 de Abril em obras anteriores, como Disparos (1977) e Naquele Tempo (1995). Por seu turno, e entre outros trabalhos que dele fazem uma das vozes mais respeitadas da imprensa portuguesa, Adelino Gomes deu à estampa, em conjunto com José Pedro Castanheira, outra referência do nosso jornalismo, o livro Os Dias Loucos do PREC, muito provavelmente a mais completa e informada cronologia da revolução de Abril, no período de 11 de Março a 25 de Novembro de 1975. Aliás, Alfredo Cunha e Adelino Gomes publicaram em 1999 um breve livro, em forma de pequeno álbum, que, de certo modo, se aproxima do que agora saiu a lume: O Dia 25 de Abril de 1974 — 76 fotografias. Na obra agora saída, porém, o objectivo é muito mais ambicioso. As fotografias de Alfredo Cunha são acompanhadas de breves entrevistas a diversas personalidades que, não tendo exercido funções de liderança ou primeiro plano no 25 de Abril, desempenharam um papel decisivo no desenrolar dos acontecimentos desse dia. Muitos dos entrevistados já tinham prestado depoimento, sendo de recordar, a este propósito, a obra A Hora da Liberdade, de Joana Pontes, Sousa e Castro e Aniceto Afonso. A técnica do follow-up, mostrando, em imagens comoventes, os protagonistas ontem e hoje, já havia sido usada num magnífico número que a revista do Expresso dedicou, há alguns anos, ao 25 de Abril. E, quanto ao recenseamento ou levantamento dos militares intervenientes, importa sempre lembrar a notável investigação feita pelo PÚBLICO em 1999, que conseguiu reunir “os 240 que prenderam Caetano”.

Apesar de toda esta literatura pré-existente, este é um livro que consegue surpreender e, acima de tudo, emocionar quem o percorre. O testemunho que tem adquirido mais saliência e impacto é, sem dúvida, o de José Alves Costa, o cabo apontador do carro de combate M47 que ficará para a História pelo seu corajoso gesto de insubordinação. A par dele, surge um furriel miliciano a confessar ter rezado duas vezes nesse dia, uma no Terreiro do Paço, outra no Largo do Carmo; e um alferes que revela que “se aquilo desse para o torto, o Maia rebentava a granada”. O livro adquire, com estes e outros depoimentos, um valor mais emocional do que informativo, não trazendo, em substância, elementos absolutamente novos ou desconhecidos sobre o 25 de Abril. Mas a conjugação das imagens de Alfredo Cunha e dos testemunhos recolhidos por Adelino Gomes converte esta obra naquele que é, até agora, o mais belo e comovente livro publicado por ocasião do 40.º aniversário da revolução de Abril. Será difícil ultrapassá-lo na sua dimensão evocativa da memória.

Quase a terminar, uma informação comercial, mas não banal ou irrelevante: além de tudo, este livro tem um preço acessível, constituindo a prova de que se podem produzir obras de grande qualidade e riqueza iconográfica para o grande público, para os que viveram e pretendem recordar o 25 de Abril e também para as novas gerações, que querem conhecer os “rapazes dos tanques” e saber o motivo por que os devemos celebrar. A eles e à memória do herói maior desse dia, Fernando Salgueiro Maia. Por último, o mais importante. Apesar de as fotografias de Alfredo Cunha terem sido tantas vezes vistas e mostradas, mesmo que os relatos do 25 de Abril hajam sido feitos em inúmeras ocasiões, este livro contém o vibrante apelo da novidade. E a reconfortante certeza de que, há 40 anos, houve um lado certo na História.