Impressão 3D de órgãos: da ficção à realidade

Imaginemos agora que seria possível imprimir órgãos a partir de impressoras 3D. Num passado recente esta ideia integraria uma cena de um filme de ficção científica. Hoje, faz parte do quotidiano

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Yves Herman/Reuters

Os mais prestigiados jornais espalhados pelo mundo noticiaram recentemente a transplantação com sucesso de vaginas e narizes criados em laboratório. Os dois estudos são publicados na conceituada revista “The Lancet”.

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Os mais prestigiados jornais espalhados pelo mundo noticiaram recentemente a transplantação com sucesso de vaginas e narizes criados em laboratório. Os dois estudos são publicados na conceituada revista “The Lancet”.

Estas notícias têm grande impacte não só na comunidade científica, mas também no público em geral. Os sucessos na engenharia de tecidos não se ficam só por estes órgãos. Os avanços científicos devem-se a duas combinações fundamentais: o conhecimento acumulado e a compreensão da biologia das células estaminais por um lado, e a compreensão dos seus processos de diferenciação em células específicas por outro. O primeiro órgão transplantado e especificamente diferenciado a partir de células estaminais do próprio paciente aconteceu em 2000 na University College of London, pela equipa do professor Martin Birchall. Mas os primeiros pequenos passos começaram muito antes.

Imaginemos agora que seria possível imprimir órgãos a partir de impressoras 3D. Num passado recente esta ideia integraria uma cena de um filme de ficção científica. Hoje, faz parte do quotidiano. Existem já impressoras 3D modificadas, capazes de imprimir mini-órgãos. A última edição da secção Technology Quarterly da revista “The Economist” compara a técnica a uma máquina de gelados da qual não saem gelados de baunilha mas sim uma pasta de células vivas. 

Acredito que o facto de, nos Estados Unidos, parte desta investigação ser financiada em milhões pelo Departamento de Defesa trará ao de cima, muito em breve, vozes adeptas de teorias da conspiração. Contudo, a importância para a biomedicina é inegável. Estes pequenos aglomerados de células em estrutura tridimensional, semelhantes a órgãos, são apenas utilizados em investigação e ensaios clínicos. A impressão de órgãos completos, viáveis para transplantar em doentes, pode ainda pertencer a um futuro distante mas não impossível.

É sem dúvida a harmonia entre as mais diversas áreas do conhecimento, a combinação entre as novas tecnologias e os conhecimentos fundamentais da biologia, que permitirá o progresso. Torna-se também imperativo reconhecer a importância do financiamento da chamada investigação básica por parte das instituições financiadoras, sendo a evolução no campo da biologia das células estaminais um exemplo claro dessa importância.

Aos que se questionam sobre a funcionalidade destes órgãos transplantados, fica ainda esta informação: num questionário feito às doentes que receberam as tais vaginas produzidas em laboratório, concluiu-se que as vaginas lubrificam normalmente e que as suas as relações sexuais são satisfatórias. Os doentes que receberam cartilagem da parte lateral do nariz também se encontram satisfeitos com os novos narizes.

É, assim, o “admirável mundo novo”.