Ainda não é desta

Basta um bocadinho de sol para os portugueses se tornarem turistas no próprio solo.

Chega um bocadinho de sol para as pessoas passearem, deterem-se na rua a conversar, ficarem sentadas durante horas numa esplanada, como se o Verão também tivesse chegado.

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Chega um bocadinho de sol para as pessoas passearem, deterem-se na rua a conversar, ficarem sentadas durante horas numa esplanada, como se o Verão também tivesse chegado.

Não é preciso muito. Assim como o Verão se acolhe com um optimismo vastamente precoce também o Inverno se esquece como se nunca tivera existido.

O passado, para nós, só interessa quando se prolonga até ao presente. Quando me dizem que chegou o Verão e eu respondo que bem merecemos, depois do Inverno sem fim que sofremos, encolhem os ombros como se não tivessem lá estado.

Basta um bocadinho de sol para os portugueses se tornarem turistas no próprio solo. Não dura mais do que um dia ou dois. Mas é magnífico. É como se nunca cá estivessem estado. "E este sol?", comentam, espantados por tanto calor, como se tivessem acabado de cá aterrar.

O sol não é assim tanto – ainda estamos aflitivamente em Abril –, mas a alegria, por muito esporádica que seja, já é de Agosto, a um terço de ano de distância.

Em Agosto, já ninguém poderá com o calor e a ansiedade pelo Inverno – ou, mais exactamente, por estes doces dias de Primavera, que nunca são mais do que duas dúzias – ocupará o trono real da saudade, eternamente confundida com o desejo do que talvez nunca se tenha conhecido.

Até hoje. E tendo morrido amanhã.