Ele pintava a cara e metia medo à bola

Darío Dubois foi um original futebolista argentino que levava para dentro dos campos a paixão pelo black metal.

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Darío Dubois DR

Dubois era fã de black metal e não fazia disso um segredo. Frequentava espaços nocturnos onde se ouvia esse género musical, trabalhava como técnico de som para bandas e ele próprio tocava. Mas houve um dia em que decidiu levar essa paixão para dentro de campo. Era uma tarde do final da década de 1990 e jogava-se o “clássico” entre Ferrocarril Midland, clube que Dubois representava, e Argentino de Merlo. O defesa foi ao balneário do árbitro, pediu licença para usar o espelho e pintou a cara. E ninguém ficou indiferente ao vê-lo entrar em campo.

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Dubois era fã de black metal e não fazia disso um segredo. Frequentava espaços nocturnos onde se ouvia esse género musical, trabalhava como técnico de som para bandas e ele próprio tocava. Mas houve um dia em que decidiu levar essa paixão para dentro de campo. Era uma tarde do final da década de 1990 e jogava-se o “clássico” entre Ferrocarril Midland, clube que Dubois representava, e Argentino de Merlo. O defesa foi ao balneário do árbitro, pediu licença para usar o espelho e pintou a cara. E ninguém ficou indiferente ao vê-lo entrar em campo.

O futebolista usou esse “look” em mais de uma dezena de partidas, até ser proibido pela Federação argentina porque dava “má imagem do futebol”. “Os meus colegas encaram isto com humor. Mas alguns adversários assustam-se”, admitiria Dubois em entrevista ao diário desportivo argentino Olé. Havia até quem dissesse que metia medo à bola.

Decididamente, Darío Dubois não encaixava no perfil do futebolista-tipo. Não era só a paixão pelo black metal e a vida nocturna. Criado em Villegas, considerado o bairro mais perigoso da área metropolitana de Buenos Aires, ganhava a vida a fazer venda ambulante de incenso e roupa hippie durante a semana. Até admitia que não gostava de jogar futebol, mas que o fazia pelo dinheiro: “Sou competitivo e treino-me muito. Não como carnes vermelhas, não fumo e não consumo álcool ou drogas. Nunca o fiz. O pouco dinheiro que ganho [com o futebol] ajuda-me, porque a minha situação económica é desastrosa”.

Por não depender do futebol, Dubois sempre se sentiu mais livre do que os restantes. São vários os episódios que ilustram esse sentimento. Como o dia em que tapou o patrocinador da camisola – que tinha prometido pagar uma verba aos jogadores por cada vitória – porque o acordo não estava a ser cumprido. “Não nos pagaram a seguir ao primeiro jogo que ganhámos e decidi levar fita preta para tapar a publicidade na camisola. Mas esqueci-me e então, como tinha chovido, quando entrámos no campo fiz de conta que me benzia, peguei em lama e passei-a na camisola”, contou.

Ou quando foi expulso por um árbitro que, a tirar o cartão vermelho do bolso, deixou cair dinheiro. Dubois pegou no dinheiro e largou a correr, acusando o juiz de estar a ser pago para o expulsar. “Acabei por lho devolver, senão davam-me 20 jogos de castigo”.

A história de Darío Dubois teve um final trágico. Em Março de 2008 (três anos depois de deixar o futebol devido a uma rotura de ligamentos), numa tentativa de assalto, foi baleado na perna e no abdómen. Durante dez dias lutou pela vida, mas morreu com hemorragias internas. Viveu livre durante 37 anos, a fazer o que a consciência lhe ditava: “Sou um palhaço que pinta a cara mas que se mata pela camisola”.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos