Advogado de Armando Vara diz que processo Face Oculta visava atingir Governo de Sócrates

O advogado Tiago Rodrigues Bastos alega que existe “uma censurabilidade generalizada ao poder político que reinava em 2009”, "uma ideia de combate aos poderosos", e que Armando Vara "viu a sua vida desmoronar-se".

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Armando Vara em Aveiro, quando foi ouvido no DIAP sobre o caso Adriano Miranda

"Há aqui uma censurabilidade generalizada ao poder político que reinava em 2009, que condiciona e justifica esta acusação, nomeadamente contra o meu constituinte", afirmou o advogado Tiago Rodrigues Bastos, no início das suas alegações, no Tribunal de Aveiro.

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"Há aqui uma censurabilidade generalizada ao poder político que reinava em 2009, que condiciona e justifica esta acusação, nomeadamente contra o meu constituinte", afirmou o advogado Tiago Rodrigues Bastos, no início das suas alegações, no Tribunal de Aveiro.

O defensor referiu ainda que, desde o início do processo, há "uma ideia de combate aos poderosos", fazendo referência a "um sentimento que perpassa de que há um poder político que a acusação não gosta".

Tiago Rodrigues Bastos chegou mesmo a afirmar que o processo "é acarinhado" por esta acusação, justificando que o mesmo se manteve no Departamento de Investigação e Acção Penal de Aveiro, devido à desconfiança "brutal", relativamente a esse poder político.

A defesa de Armando Vara criticou ainda duramente os procuradores do Ministério Público (MP) que investigaram o caso, caracterizando a acusação como "um verdadeiro disparate" e afirmou que o seu cliente não praticou os factos de que vem acusado.

O advogado realçou ainda que, devido a este processo, Armando Vara "viu a sua vida desmoronar-se", pondo fim a uma carreira na banca.

"Armando Vara era vice-presidente do maior grupo bancário nacional e almejava ir mais longe e, de repente, tudo isso cessou", afirmou o causídico, admitindo que nunca pensou que alguém pudesse ser tão penalizado por uma acusação "que não vale nada".

O advogado Tiago Rodrigues Bastos pediu ainda ao tribunal para não tratar o seu cliente "de forma menos positiva" por ser "um nome sonante", assumindo que está "intranquilo e apreensivo" com o sentido da decisão final, pelas "decisões e atitudes" do colectivo de juízes ao longo do julgamento.

A sessão foi suspensa às 17h45, prosseguindo na quinta-feira com a continuação das alegações finais da defesa do antigo ministro e ex-administrador do BCP.

Armando Vara está acusado de três crimes de tráfico de influência, sendo suspeito de ter recebido 25 mil euros do empresário Manuel Godinho, o principal arguido no processo.

Segundo a acusação, em 2009 Armando Vara terá exercido a sua influência junto do então ministro das Obras Públicas Mário Lino para destituir a então secretária de Estado Ana Paula Vitorino e o então presidente do Conselho de Administração da REFER, Luís Pardal.

O processo Face Oculta está relacionado com uma alegada rede de corrupção que teria como objectivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro Manuel Godinho, nos negócios com empresas do sector empresarial do Estado e privadas.

Entre os 36 arguidos estão personalidades como Armando Vara, antigo ministro e ex-administrador do BCP, José Penedos, ex-presidente da REN, e o seu filho Paulo Penedos.