Este ano, em Veneza, a arquitectura portuguesa não sai do papel

Com um orçamento de apenas 150 mil euros, Portugal far-se-á representar na Bienal de Arquitectura de Veneza com uma publicação em inglês – um jornal.

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Pedro Campos Costa Daniel Rocha

Foram 175 mil pessoas na edição de 2012 – esperam-se mais numa edição comissariada por Rem Koolhaas, o arquitecto-estrela holandês, autor, em Portugal, da Casa da Música, no Porto. Homeland: News From Portugal terá uma tiragem de 165 mil exemplares – “uma ambição muito grande”, disse na quinta-feira o director-geral das Artes Samuel Rego, na conferência de apresentação do projecto.

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Foram 175 mil pessoas na edição de 2012 – esperam-se mais numa edição comissariada por Rem Koolhaas, o arquitecto-estrela holandês, autor, em Portugal, da Casa da Música, no Porto. Homeland: News From Portugal terá uma tiragem de 165 mil exemplares – “uma ambição muito grande”, disse na quinta-feira o director-geral das Artes Samuel Rego, na conferência de apresentação do projecto.

Produzido por uma equipa transdisciplinar, o jornal terá três diferentes edições em inglês ao longo dos seis meses da bienal, que, desta vez, inaugura a 7 de Junho e se prolonga até 23 de Novembro. Incluirá textos de arquitectos, economistas, sociólogos, geógrafos, historiadores, antropólogos, fotógrafos e designers, com cada um dos números a apresentar diferentes abordagens críticas ao tema da habitação. Será também a plataforma de divulgação de seis projectos já em desenvolvimento em seis cidades portuguesas por seis grupos de arquitectos dedicados a seis diferentes tipologias habitacionais: temporária, informal, unifamiliar, colectiva, rural e de reabilitação.

Em Lisboa, o tema da reabilitação será tratado pelo atelier Artéria e André Tavares, que desenvolverão modelos de regeneração urbana através da potencialização das coberturas desabitadas de edifícios da capital. No Porto, os Like Architects e Mariana Pestana trabalharão modelos de ocupação temporária de edifícios devolutos. Em Matosinhos, mais concretamente no Monte Xisto, o atliermob e Paulo Moreira trabalharão a lógica da habitação informal, envolvendo os moradores deste antigo bairro ilegal. Em Loures, Miguel Eufrásia e os ADOC propõem-se terminar uma construção incompleta, das muitas que povoam a paisagem portuguesa, testemunhas da estagnação do sector da construção. Em Setúbal, o atelier SAMI Arquitectos e Susana Ventura trabalharão o conceito de intimidade através de uma habitação unifamiliar. E, em Évora, Miguel Marcelino e Pedro Clarke trabalharão o legado agrícola reabilitando um antigo celeiro do limite do centro da cidade.

Pedro Campos Costa, comissário do projecto, explicou que a habitação foi o laboratório por excelência da experimentação da modernidade e que Homeland: News From Portugal “não é um exercício meramente teórico: pretende influenciar a praxis da arquitectura”.

Também na conferência, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, reconheceu que o modelo de representação nacional em Veneza surge como resposta “às circunstâncias [económicas] em que vivemos e às limitações [financeiras por elas impostas]”.

Com os 150 mil euros de orçamento de 2014 a corresponderem a apenas metade dos 300 mil euros disponíveis para a edição de 2012, Barreto Xavier elogiou o projecto de Pedro Campos Costa como “um desafio extremamente radical”, “uma projecção extremamente interessante sobre os modos e dispositivos de apresentação em exposições”.

Referindo-se a Veneza como “quase uma ‘disneylândia’ dos intelectuais”, onde “há um certo voyeurismo na forma como as propostas são hoje apresentadas”, Barreto Xavier destacou Homeland: News From Portugal como “um desafio à reflexão”.

Questionado sobre o futuro das representações portuguesas em Veneza, onde no próximo ano a arquitectura dá vez às artes plásticas, o secretário de Estado explicou que se “continua a estudar a existência de um espaço físico”, um pavilhão nacional à semelhança dos que têm dezenas de outros países. Depois de no ano passado a artista plástica Joana Vasconcelos ter resolvido essa ausência com o seu cacilheiro, não há, porém, quaisquer garantias para 2015.

“As limitações financeiras existem e são do conhecimento de todos”, disse Barreto Xavier. Já em relação a 2014 Samuel Rego sublinhou: “Achámos que era mais interessante alocar os meios financeiros ao projecto do que a um espaço que ficaria vazio por falta de verbas.”

Para além de José Mateus, director do Trienal de Arquitectura da Lisboa, que é parceira da participação portuguesa em Veneza, ontem, na conferência esteve também Ricardo Costa, o director do semanário Expresso, mas os contornos da ligação do jornal ao projecto não foram esclarecidos e estarão ainda por definir.