Direcções regionais de cultura tentam relançar Inventário Nacional do Património Imaterial

Direcção de Cultura do Norte organiza seminário dirigido a entidades locais, para as alertar para a importância de salvaguardar manifestações tradicionais importantes

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A Capeia Arraiana, as Nicolinas, a arte dos santeiros de São Mamede do Coronado (Trofa), as Bugiadas de Sobrado, Valongo e outras manifestações culturais vão servir de mote para um seminário, agendado para 17 de Março, na Casa das Artes do Porto, que pretende chamar a atenção de técnicos das autarquias, dirigentes associativos e outros agentes, como os investigadores, para a importância do Inventário Nacional de Património Imaterial. Criado depois da transposição para a lei portuguesa, em 2009, dos preceitos da Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial, aprovada pela UNESCO em 2003, o inventário implica, num primeiro momento, a identificação das tradições que importa preservar. E esse, considera o actual director regional de Cultura do Norte, António Ponte, é um trabalho que depende muito de quem está próximo do terreno.

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A Capeia Arraiana, as Nicolinas, a arte dos santeiros de São Mamede do Coronado (Trofa), as Bugiadas de Sobrado, Valongo e outras manifestações culturais vão servir de mote para um seminário, agendado para 17 de Março, na Casa das Artes do Porto, que pretende chamar a atenção de técnicos das autarquias, dirigentes associativos e outros agentes, como os investigadores, para a importância do Inventário Nacional de Património Imaterial. Criado depois da transposição para a lei portuguesa, em 2009, dos preceitos da Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial, aprovada pela UNESCO em 2003, o inventário implica, num primeiro momento, a identificação das tradições que importa preservar. E esse, considera o actual director regional de Cultura do Norte, António Ponte, é um trabalho que depende muito de quem está próximo do terreno.

O seminário é organizado pela DRCN em colaboração com a Direcção Geral do Património Cultural e António Ponte espera que a partilha de experiências mais consolidadas, como as que ali vão ser apresentadas, ajude agentes dos vários concelhos do Norte a despertar para a importância deste tipo de património. Ainda que nem todo tenha o potencial de uma candidatura à lista da UNESCO, localmente, quer para a coesão das comunidades que se envolvem nestas tradições, quer para as estratégias de captação de turistas, mesmo que a uma escala municipal ou regional, elas têm grande importância, destaca, lembrando que hoje, mais do que nunca, a identidade das sociedades e territórios é um aspecto valorizado por quem viaja.

O evento da Casa das Artes servirá também para ajudar a uniformizar o próprio processo de inventariação, que, depois de uma pedido de inscrição, a preencher online pelos pretendentes em www.matrizpci.dgpc.pt, passa pelo crivo da Comissão para o Património Imaterial que decide, ou não, a sua entrada no Inventário. A DRCN pretende pôr os técnicos dos serviços de cultura regionais e locais a ajudar outras entidades menos experientes a realizar este processo, essencial para uma correcta avaliação da importância e originalidade das propostas. “Este trabalho é muito importante”, nota António Ponte, lembrando que, no caso de algumas tradições, é possível fazer candidaturas europeias, em conjunto com entidades de outros países com manifestações semelhantes.

No Alentejo, o Cante, por exemplo, tem paralelos óbvios com os coros masculinos do Canto Polifónico da Córsega, a paghjella, elevado a Património Mundial em 2009. Ana Paula Amendoeira, directora Regional de Cultura do Alentejo, que há uns anos juntou estas duas tradições musicais num mesmo festival, espera que lá mais para o fim do ano a UNESCO integre também o Cante na sua lista. E aproveitando o embalo desta candidatura a DRCA vai, no segundo semestre, realizar também iniciativas públicas de promoção da importância do património imaterial, que ganha outra importância numa região que sente, de forma mais aguda que o resto do país, o problema do envelhecimento da população. Por isso, a preocupação da dirigente da DRCA vai mais para as manifestações menos mediáticas que, carecendo de atenção, correm mais riscos de se perderem com o passar do tempo.

“É preciso fazer o registo videográfico, fonográfico, fotográfico ou outro destas manifestações. Este é um trabalho de base que tem de ser assegurado por uma missão pública”, assinala Amendoeira relevando, acima de tudo, a importância das tradições para as comunidades que as vivem, mais do que a sua valorização turística, cuja importância não nega.  Tal como o seu homólogo do Norte, a directora da DRCA considera que este processo de inventariação depende, e muito, do envolvimento das autarquias e outros agentes locais, que estão mais próximos das realidades a inventariar e a salvaguardar. O princípio, nota, é simples. “Só se preserva o que se conhece”.