Pousada de charme, em São Brás de Alportel, vira aparthotel em time-sharing
Uma moradia na zona do barrocal pode custar quase dois milhões de euros. O edifício, integrado na rede de Pousadas de Portugal, com 34 quartos, renovados, foi vendido por menos de um milhão de euros.
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O presidente da Câmara de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, lamenta o sucedido: "Perdemos uma unidade hoteleira de referência”. A solução, admite, “foi a possível, não a que desejávamos”. O imóvel encontrava-se desocupado há cerca de quatro anos, altura em que o grupo Pestana, que gere a rede Pousadas de Portugal, abandonou, ao fim de três anos, a exploração desta unidade hoteleira. A razão, explica fonte oficial do empresa, deveu-se ao facto de, nessa ocasião, ter assumido também a direcção da pousada de Estoi (Faro), a oito quilómetros de distância - “uma pousada da nova geração com maior capacidade e novos serviços”, justifica.
Com a saída do grupo Pestana, o edifício, construído pela antiga Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, caiu no estado de abandono. A Enatur, proprietária do edifício, optou por promover a venda do imóvel em hasta pública, mas o facto de o potencial comprador estar obrigado a prosseguir com os fins para que foi construído o prédio, não terá despertado o interesse do mercado imobiliário. Em 2010, surgiu uma oferta púbica no valor de 803 mil euros. O potencial investidor chegou a reforçar o sinal para a aquisição, mas faltou-lhe capacidade financeira para concretizar a compra. Por fim, através de uma negociação directa, a empresa dinamarquesa Andelsselskabet acabou por concretizar a compra do prédio, de três pisos, com uma área de 2741 metros quadrados, situando no cimo de um monte do barrocal com vista panorâmica sobre a costa algarvia. Numa imobiliária de São Brás de Alportel, esta semana, encontrava-se à venda uma moradia, localizada na mesma zona, com de 650 metros quadrados, inserida num terreno com 38 hectares, por 1 milhão e 850 mil euros.
O sucesso do time-sharing
A representante da empresa dinamarquesa, Isabel Alves, reconhece o “bom estado geral do edifício, existindo apenas pequenas infiltrações resultados do facto de se encontrar fechado”. Porém, sublinha, a pousada está a sofrer obras de adaptação para permitir uma utilização compatível com a filosofia do time-sharing (os apartamentos são vendidos pelo tempo de ocupação e não na sua totalidade), acrescentando que está a ser um sucesso comercial. “Cerca de um terço das semanas de férias disponíveis já foi vendida”, adiantou, acrescentando que a Andelsselskabet possui em funcionamento mais duas unidades na região – uma no Alportel ( São Brás) e uma outra na Arroteia, concelho de Tavira.
A reabertura do aparthotel, nascido a partir da antiga pousada, vai ter 26 unidades de alojamento (nove estúdios, 15 T1 e dois apartamentos T2). O município, apesar de reconhecer o baixo valor da transacção, diz Vítor Guerreiro, “não manifestou interesse na compra, por entender não ser a hotelaria a vocação da câmara”. Porém, sublinha que a vontade de preservar esta zona do barrocal algarvio vem desde o Estado Novo, altura em que um decreto proibiu qualquer construção no espaço envolvente ao imóvel, num raio de 200 duas centenas de metros.
A pousada de São Brás de Alportel, projectada pelo arquitecto Miguel Jacobetty, foi um das primeiras a ser construídas em Portugal. A inauguração teve lugar em 1944, numa altura em que o litoral algarvio ainda não tinha sido descoberto para o turismo. Através desta unidade de charme, de linha arquitectónica típica das casas algarvias – telhados em açoteias e chaminés rendilhadas – este concelho da beira serra abriu as portas ao mundo.
Polo Museológico na casa dos cantoneiros
O edifício da ex-Junta Autónoma das Estradas é outro dos imóveis que o município considera um “bem público a degradar-se”. O presidente da Câmara, Vítor Guerreira reivindica a passagem do imóvel para a posse da autarquia, para ali instalar um pólo museológico.
A razão prende-se com a vontade de divulgar a importância que representou, no século passado, a antiga estrada que fazia a ligação de Faro para Lisboa, com passagem por São Brás de Alportel. A via, depois de recuperada foi, há mais de uma década, classificada de “estrada património”, mas escasseia a informação sobre o que isso representa, do ponto de vista cultural e turistico.
“Queremos dar a conhecer a toda a história desta estrada, de quem nela trabalhou, e de quem dela usufruiu”, diz o autarca, lembrando que as peças museológicas, devidamente enquadradas pela memória dos sítios da serra do Caldeirão, poderiam constituir “mais um motivo” para recordar, e reviver, os tempos em que uma viagem até ao Algarve, para quem estava em Lisboa ou no Porto, representava uma descida ao “fim do mundo” das praias do sul.