Gaspar diz que Passos Coelho é um líder reformador

Governo em peso no lançamento do livro Vítor Gaspar por Maria João Avillez.

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Ex-ministro das Finanças evitou no livro "o sangue que tantos esperavam", resumiu António Vitorino João Cordeiro

O livro Vítor Gaspar por Maria João Avillez, apresentado pelo socialista e ex-comissário europeu António Vitorino, decorreu no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. Uma obra assente numa longa entrevista sobre o passado mais recente da política contemporânea do país. O livro faz um retrato cronológico do percurso de Vítor Gaspar, que começa no momento da sua demissão, no Verão de 2013, e recua até aos anos 80.

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O livro Vítor Gaspar por Maria João Avillez, apresentado pelo socialista e ex-comissário europeu António Vitorino, decorreu no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. Uma obra assente numa longa entrevista sobre o passado mais recente da política contemporânea do país. O livro faz um retrato cronológico do percurso de Vítor Gaspar, que começa no momento da sua demissão, no Verão de 2013, e recua até aos anos 80.

António Vitorino utilizou a “ironia e a subtileza” na apresentação do livro, caracterizando a posição de Vítor Gaspar face às questões “directas e acutilantes” da jornalista Maria João Avillez como um “jogo de xadrez” e um “jogo do gato e do rato”. Gaspar responde às perguntas “ora como perito económico, ora como político, sempre com habilidade política”, afirmou António Vitorino, que considera o ex-governante “um perito económico emprestado à política”.

O ex-ministro das Finanças, explica Vitorino, contornou as perguntas da jornalista, especialmente no capítulo sobre a sua governação, relativizando as querelas políticas – aquilo a que Vítor Gaspar apelida de “normalidades da vida política”. “Este livro não tem o sangue que tantos esperavam”, destacou.

Neste jogo de Gaspar, as fugas às perguntas da jornalista, bem como as subtilezas com que fala de todos as pessoas com quem trabalhou no tempo em que foi ministro, são como um “movimento lateral de cavalo”.

Quando questionado sobre os impactos recessivos da crise, a atitude de Gaspar corresponde ao “movimento de bispo”: “As transformações sociais levam tempo a ter um retorno efectivo”, defende Gaspar no livro.

No que diz respeito aos resultados económicos obtidos, o socialista diz que Vítor Gaspar “aí avança tipo torre”, congratulando-se com o sucesso das políticas por ele implementadas, e seguidas pela sucessora Maria Luís Albuquerque.

Neste jogo, “tranquilizem-se os governantes desta maioria, nunca há um xeque-mate ao rei [Pedro Passos Coelho]”. Com esta expressão, o ex-ministro socialista quer dizer que Vítor Gaspar nunca critica o primeiro-ministro - muito antes pelo contrário. “Exceptuando duas ou três referências mais ríspidas”, Gaspar elogia todos os ministros, sobretudo a que ficou com a sua pasta.

Na sua intervenção esta terça-feira, Vítor Gaspar citou Adam Smith e a “teoria dos sentimentos morais” para caracterizar Pedro Passos Coelho, que se encontrava na sessão. Segundo a teoria de Adam Smith, o líder partidário se tiver autoridade suficiente para controlar os seus amigos (…) poderá assumir o mais nobre de todos os papéis – o de reformador”, e realça: “Para mim, Passos Coelho é um líder reformador.”

No entanto, a ironia de António Vitorino sobre como se posicionou Vítor Gaspar em relação ao Governo estende-se também à coligação PSD/CDS: “Quando o rei está coligado com o cavalo faz roque”, disse, salientando que, relativamente à coligação de Paulo Portas com Passos Coelho, Gaspar revela algum desconforto, nomeadamente em relação às atitudes políticas de Paulo Portas (a negociação da Taxa Social Única e a demissão irrevogável), que eclodiram numa crise política, com consequências negativas para o mercado da dívida portuguesa. Vítor Gaspar, por sua vez, refere no livro que as divergências políticas que tinha com  o líder do CDS foram "reveladas por ele, naturalmente segundo a sua perspectiva". 

Antecipando aquela que seria a pergunta dos jornalistas sobre a razão que o levou a apresentar o livro de um membro de um Governo PSD/CDS, António Vitorino disse: “Aceitei o desafio da Maria João Avillez, porque começar por dizer não à Maria João é uma perda de tempo.” E destacou que a razão por ter aceitado o convite reside também no facto de Vitor Gaspar o ter surpreendido “duas vezes, em dois anos” – quando aceitou ser ministro e quando se demitiu por carta. A autora garantiu que António Vitorino foi a primeira e única escolha por ter a certeza que este “podia perceber tudo o que está no livro”, dada a sua vasta experiência e cultura.

Na opinião de António Vitorino, a “proximidade temporal” do período contado no livro leva a que nem tudo o que é relevante tenha sido dito, mas fica sobretudo uma questão no ar: “Voltará Vítor Gaspar à janela  [da política] onde se colocou?”

Na cerimónia estiveram presentes, além do primeiro-ministro, vários elementos do seu executivo, como os ministros Nuno Crato, Miguel Poiares Maduro e António Pires de Lima, alguns secretários de Estado como Carlos Moedas, Hélder Reis e Manuel Rodrigues, e personalidades da cultura portuguesa, como o sociólogo Eduardo Lourenço, os ex-ministros Marçal Grilo e Luís Amado, Alexandre Relvas, director da campanha de Cavaco Silva, Vítor Bento e João Talone.