UE pede explicações a Espanha sobre uso de balas de borracha contra imigrantes

Polícia disparou contra imigrantes que tentavam chegar a Ceuta a nado. Pelo menos 15 morreram.

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Imigrante protesta em Madrid contra a actuação das autoridades espanholas em Ceuta Juan Medina/Reuters

“Cerca de 150 lançaram-se à água”, contou ao diário El Mundo Joseph Nyamen, camaronês, por Skype. “Havia um grupo de bons nadadores que saiu primeiro e já estava em Espanha, nós íamos atrás.” E foi então que aconteceu: “Íamos avançando quando a Guarda Civil começou a disparar balas de borracha e gás [lacrimogéneo]. A mim atingiram-me na nuca. Nunca tínhamos vivido nada assim”. Nyamen ficou atordoado mas recuperou, e conseguiu voltar a nado para Marrocos. Pouco depois, começaram a chegar à praia os corpos dos mortos.

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“Cerca de 150 lançaram-se à água”, contou ao diário El Mundo Joseph Nyamen, camaronês, por Skype. “Havia um grupo de bons nadadores que saiu primeiro e já estava em Espanha, nós íamos atrás.” E foi então que aconteceu: “Íamos avançando quando a Guarda Civil começou a disparar balas de borracha e gás [lacrimogéneo]. A mim atingiram-me na nuca. Nunca tínhamos vivido nada assim”. Nyamen ficou atordoado mas recuperou, e conseguiu voltar a nado para Marrocos. Pouco depois, começaram a chegar à praia os corpos dos mortos.

Esta é a versão dos imigrantes, e o que disse Joseph Nyamen ao El Mundo era muito semelhante ao que contaram vários outros sobreviventes ao El País.

Neste caso há várias afirmações contraditórias, a começar pelas próprias autoridades espanholas. O representante do Governo espanhol em Ceuta e o director da Guarda Civil desmentiram inicialmente que tivesse havido o disparo de balas de borracha pela polícia contra os imigrantes no mar naquele dia 6 de Fevereiro.

Mas o ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, acabou por admitir no Parlamento que houve disparo de balas de borracha. Negou, no entanto, que estas tivessem sido disparadas directamente para os imigrantes, que tivessem furado coletes salva-vidas de alguns deles, ou que tivessem provocado qualquer uma das mortes dos que se afogaram. Cinco dos corpos foram encontrados em águas espanholas, dez em marroquinas.

Womsi Desire, um camaronês que foi um dos primeiros sobreviventes a ser ouvidos pelos media espanhóis, disse que viu um dos seus companheiros de viagem perder o colete, esvaziado por uma bala de borracha.  

A Comissão Europeia já deu mostras de inquietação. A comissária dos Assuntos Internos, Cecilia Malmström, quer ouvir uma explicação de Espanha sobre este assunto. No Twitter, Malmström afirmou estar “muito preocupada” e sublinhou que as acções dos Estados-membros devem ser “proporcionadas” e respeitar os direitos e dignidade humanas. Mais, “como guardiã dos tratados, a Comissão Europeia reserva-se o direito de dar os passos adequados se houver provas de que um Estado-membro violou a lei europeia”, disse um porta-voz de Malmström citado pelo diário El País.

As autoridades espanholas dizem que dispararam depois de alguns dos imigrantes terem lançado pedras contra a parte espanhola da fronteira em terra, perto da praia de onde tinham saído. Alegam que raramente viram atitudes tão violentas da parte de imigrantes. Os imigrantes dizem que o fizeram, por indignação, depois de ver os cadáveres dos companheiros mortos. Argumentam que ficaram espantados: esperavam brutalidade por parte da polícia marroquina, não da espanhola.

Há ainda outra discordância entre a versão dos sobreviventes e a das autoridades: os imigrantes dizem que um grupo de alguns (não mais de 20) chegou a pisar solo espanhol, e que foram mandados para trás, a pé, para território marroquino. O Governo repete que nenhum conseguiu chegar a Ceuta.

Várias Organizações Não Governamentais (ONG), incluindo a Human Rights Watch, pediram ao Governo espanhol para investigar a morte dos imigrantes e verificar o inventário de material anti distúrbios.

Mas uma coisa é certa. Muitos destes imigrantes não vão voltar a tentar chegar à Europa. "Tiraram-nos a esperança”, disse Joseph Nyamen.