Autarquia quer mudar 46 mil utentes de Ourém para Hospital de Leiria, mas tutela não concorda

Presidente da Câmara de Ourém lembra que o Hospital de Abrantes está a 70 quilómetros e que o de Leiria fica apenas a 26. E sublinha que, em situações de emergência, "todos os minutos contam".

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Diz o presidente da Câmara de Ourém que a concentração de valências no hospital de Abrantes acarreta muito mais custos para o Estado e para os utentes do concelho Nuno Ferreira Santos

A reivindicação da Câmara de Ourém, concelho onde se situam a cidade e o santuário de Fátima, ganhou mais acuidade em 2011, com a redução do número de médicos colocados nas unidades de saúde locais e a desactivação de algumas extensões. Ao mesmo tempo, o processo de reorganização do Centro Hospitalar do Médio Tejo, que integra os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas, levou a que, para evitar “duplicações” de serviços, determinadas valências passassem a existir apenas numa destas três unidades hospitalares. E se Torres Novas e Tomar até ficam a escassas dezenas de quilómetros de Ourém, o pior é quando os utentes do concelho são obrigados a percorrer 70 quilómetros para se deslocarem a Abrantes.

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A reivindicação da Câmara de Ourém, concelho onde se situam a cidade e o santuário de Fátima, ganhou mais acuidade em 2011, com a redução do número de médicos colocados nas unidades de saúde locais e a desactivação de algumas extensões. Ao mesmo tempo, o processo de reorganização do Centro Hospitalar do Médio Tejo, que integra os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas, levou a que, para evitar “duplicações” de serviços, determinadas valências passassem a existir apenas numa destas três unidades hospitalares. E se Torres Novas e Tomar até ficam a escassas dezenas de quilómetros de Ourém, o pior é quando os utentes do concelho são obrigados a percorrer 70 quilómetros para se deslocarem a Abrantes.

Por outro lado, os utentes que recorram ao troço regional da A23 (antiga Scut) para viajarem até Abrantes passaram a ter que pagar portagens. Paulo Fonseca, autarca do PS que preside ao município de Ourém, afirma ainda que, anualmente, serão cerca de 100 mil os emigrantes que regressam no período de férias ao concelho e que o santuário de Fátima é visitado, a cada ano, por mais de cinco milhões de pessoas. E relembra que Leiria está apenas a 26 quilómetros de Ourém.

Mais custos para população e Estado
O autarca sublinha que a “dispersão” dos serviços do CHMT e a concentração de valências em Abrantes acarreta “muito mais custos” para a população e para o Estado “com o transporte dos doentes entre Ourém, Leiria, Torres Novas, Tomar e Abrantes”. No entender de Paulo Fonseca, mais grave do que isso é constatar que, com este cenário, “os doentes andam a deambular de hospital em hospital, entre as diversas valências e serviços” do centro hospitalar, o que se torna ainda mais grave “numa área que lida com a vida humana, em ambientes de emergência, onde, por vezes, todos os minutos contam”.

É por isso que o presidente da câmara, num memorando que já enviou aos diversos organismos e responsáveis da tutela da Saúde, defende “a passagem dos cidadãos do concelho de Ourém para o Centro Hospitalar Leiria/Pombal, devido à proximidade geográfica e vias de comunicação sem portagens e à concentração de valências com uma prestação de serviços de saúde de elevada qualidade”.

Já no segundo semestre de 2013, o autarca diz que, à falta de respostas, reenviou por 14 vezes um ofício que destinara, via correio electrónico, ao gabinete do secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal da Costa. Paulo Fonseca acrescenta que, em Novembro passado, aproveitou a presença do ministro da Saúde, Paulo Macedo, em visita à Unidade de Cuidados Continuados Integrados Bento XVI (Fátima) para relembrar o problema. Mas, nas últimas semanas, respostas recebidas na autarquia do secretário de Estado Leal da Costa e da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo confirmam que a possibilidade de encaminhamento dos utentes de Ourém para Leiria não está em cima da mesa.

Segundo a autarquia, o governante sublinha que este assunto “é de solução difícil” e a ARSLVT, admitindo a proximidade do território de Ourém a Leiria, sustenta que “os serviços assistenciais disponibilizados pelo Centro Hospitalar do Médio Tejo e pelo Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo asseguram com qualidade e eficácia os cuidados de saúde prestados à população do concelho de Ourém”. O mesmo documento salienta que o concelho de Ourém está legalmente integrado no ACES Médio Tejo da área geográfica da ARSLVT, pelo que a população continua a ter aquele centro hospitalar como referência.