Programa de inserção holandês põe alcoólicos a trabalhar por cerveja

Controversa, a iniciativa pretende devolver a estas pessoas o sentimento de pertença à comunidade. O trabalho começa de manhã e a refeição ao almoço é obrigatória.

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Vanguardista em questões relacionadas com droga ou prostituição, Amesterdão volta às soluções heterodoxas JERRY LAMPEN/AFP

Depois de anos a tentar resolver os problemas causados por alcoólicos em locais públicos da cidade holandesa sem resultados duradouros, as autoridades optaram por apoiar uma iniciativa da Rainbow, uma organização não-governamental que ajuda pessoas em situação de sem-abrigo ou com problemas de dependência de drogas e álcool.  

A Rainbow propunha uma abordagem heterodoxa que pudesse ajudar alguns alcoólicos crónicos a fazer uma transição suave de volta à comunidade. O objectivo era fazê-los cumprir horários, alimentá-los e, no processo, devolver-lhes a sensação de pertença e de retribuição que muitos deles tinham perdido. Para isso, decidiram pagar-lhes com bebida.

Cada um recebe o equivalente a 19 euros por dia. Mas só dez euros são em dinheiro – o restante é-lhes dado em cerveja (a horas certas), tabaco e comida (o almoço). Trabalham três dias por semana, em dois grupos de dez. Nos dias que restam, continuam a beber. E até têm dinheiro para o fazer: as três notas de dez que receberam nos seus três dias de trabalho.

São os próprios a admiti-lo. No início da semana passada, a BBC fez o balanço do programa, que está a funcionar há um ano. Os resultados podem não parecer os mais animadores (apenas um alcoólico recuperado e várias desistências), mas é preciso olhá-los mais de perto.

O Oosterpark, onde muitos destes homens costumavam passar os dias, ocupando os bancos e ocasionalmente interpelando os visitantes do parque, continua a ter alguns alcoólicos que não quiserem aderir ao programa (ou dele desistiram), mas é agora muito mais sossegado e limpo. É esse o trabalho que se pede a quem integra o programa, que não é demasiado exigente, mas que os mantém ocupados e a cumprir horários, lhes dá alternativas e ajuda a cuidar do parque.

É um primeiro passo. E é mais barato do que as políticas mais agressivas que tinham sido utilizadas até então por parte das autoridades locais. A presidente de Oost, o distrito de Amesterdão onde o programa está a ser implementado, diz às agências que, apesar de não conseguir quantificar os custos totais do programa (por parte do dinheiro ter origem em donativos à Rainbow), o orçamento desta iniciativa fica aquém dos 100 mil euros. Fatima Elatik diz que a autarquia estava a gastar um milhão de euros anuais em medidas de prevenção.

O programa merece a censura da oposição conservadora e as dúvidas dos clínicos especializados em programas clássicos de desintoxicação deste tipo de dependentes. Elatik defende-se, dizendo que o que se está a fazer é a dar “perspectiva” a estas pessoas, “mesmo um sentimento de pertença” que, assegura, os faz sentir necessários e valorizados. “Nós não ostracizamos as nossas pessoas, estas são pessoas que vivem no nosso distrito.”

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Depois de anos a tentar resolver os problemas causados por alcoólicos em locais públicos da cidade holandesa sem resultados duradouros, as autoridades optaram por apoiar uma iniciativa da Rainbow, uma organização não-governamental que ajuda pessoas em situação de sem-abrigo ou com problemas de dependência de drogas e álcool.  

A Rainbow propunha uma abordagem heterodoxa que pudesse ajudar alguns alcoólicos crónicos a fazer uma transição suave de volta à comunidade. O objectivo era fazê-los cumprir horários, alimentá-los e, no processo, devolver-lhes a sensação de pertença e de retribuição que muitos deles tinham perdido. Para isso, decidiram pagar-lhes com bebida.

Cada um recebe o equivalente a 19 euros por dia. Mas só dez euros são em dinheiro – o restante é-lhes dado em cerveja (a horas certas), tabaco e comida (o almoço). Trabalham três dias por semana, em dois grupos de dez. Nos dias que restam, continuam a beber. E até têm dinheiro para o fazer: as três notas de dez que receberam nos seus três dias de trabalho.

São os próprios a admiti-lo. No início da semana passada, a BBC fez o balanço do programa, que está a funcionar há um ano. Os resultados podem não parecer os mais animadores (apenas um alcoólico recuperado e várias desistências), mas é preciso olhá-los mais de perto.

O Oosterpark, onde muitos destes homens costumavam passar os dias, ocupando os bancos e ocasionalmente interpelando os visitantes do parque, continua a ter alguns alcoólicos que não quiserem aderir ao programa (ou dele desistiram), mas é agora muito mais sossegado e limpo. É esse o trabalho que se pede a quem integra o programa, que não é demasiado exigente, mas que os mantém ocupados e a cumprir horários, lhes dá alternativas e ajuda a cuidar do parque.

É um primeiro passo. E é mais barato do que as políticas mais agressivas que tinham sido utilizadas até então por parte das autoridades locais. A presidente de Oost, o distrito de Amesterdão onde o programa está a ser implementado, diz às agências que, apesar de não conseguir quantificar os custos totais do programa (por parte do dinheiro ter origem em donativos à Rainbow), o orçamento desta iniciativa fica aquém dos 100 mil euros. Fatima Elatik diz que a autarquia estava a gastar um milhão de euros anuais em medidas de prevenção.

O programa merece a censura da oposição conservadora e as dúvidas dos clínicos especializados em programas clássicos de desintoxicação deste tipo de dependentes. Elatik defende-se, dizendo que o que se está a fazer é a dar “perspectiva” a estas pessoas, “mesmo um sentimento de pertença” que, assegura, os faz sentir necessários e valorizados. “Nós não ostracizamos as nossas pessoas, estas são pessoas que vivem no nosso distrito.”