Falta de procura interna obriga indústria a exportar arroz carolino

Arroz carolino é a espécie mais produzida e característica de Portugal, mas não a mais consumida. Stocks chegaram a atingir as 50 mil toneladas, o equivalente a metade do consumo anual no país.

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O carolino perdeu força com as poderosas campanhas de promoção da variedade de arroz agulha Pedro Cunha/Arquivo

Pedro Monteiro, secretário-geral da ANIA, avançou ao PÚBLICO que o problema do excedente de produção já foi minimizado graças a esta venda, mas não resolve, a longo prazo, as dificuldades da indústria. É preciso pôr os portugueses a comer arroz carolino, o mais adequado ao clima nacional e com forte presença na tradição gastronómica. Ao mesmo tempo, a intenção é adequar a produção aos novos hábitos de consumo, diminuir a área destinada ao carolino e aumentar a da variedade agulha, que até 2007 representava entre 9 a 17% do total da área semeada, segundo dados do Gabinete de Planeamento Políticas do Ministério da Agricultura.

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Pedro Monteiro, secretário-geral da ANIA, avançou ao PÚBLICO que o problema do excedente de produção já foi minimizado graças a esta venda, mas não resolve, a longo prazo, as dificuldades da indústria. É preciso pôr os portugueses a comer arroz carolino, o mais adequado ao clima nacional e com forte presença na tradição gastronómica. Ao mesmo tempo, a intenção é adequar a produção aos novos hábitos de consumo, diminuir a área destinada ao carolino e aumentar a da variedade agulha, que até 2007 representava entre 9 a 17% do total da área semeada, segundo dados do Gabinete de Planeamento Políticas do Ministério da Agricultura.

A Casa do Arroz, uma organização interprofissional criada em 2012, também quer avançar com uma campanha de sensibilização, que envolve verbas de cerca de dois milhões de euros, para “explicar ao grande consumidor que o arroz carolino tem vantagens”. O projecto foi candidato a fundos do Proder, Programa de Desenvolvimento Regional, mas ainda aguarda luz verde. Nos planos da Casa do Arroz, que foi fundada pela ANIA, a Associação de Orizicultores de Portugal e a Associação Portuguesa de Orizicultores, está ainda o registo da marca “Carolino Portugal” e a presença em feiras internacionais de grande dimensão para divulgar o produto.

Além de reuniões no Ministério da Agricultura, a indústria também já se sentou à mesa com a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), que está disponível para ajudar a fileira do arroz. “As promoções têm sido feitas quase todas no arroz agulha, o que aumenta ainda mais o consumo desta variedade”, conta Pedro Monteiro. “Com a grande campanha que temos programado, a distribuição alertada para o problema e o aumento das exportações penso que vamos conseguir inverter a tendência”, acrescenta.

Tiago Coelho, da Novarroz, acredita que com as 15 mil toneladas que seguem hoje para a Turquia será possível contornar o problema do excesso de produção. “Durante anos a fileira não planificou bem o consumo e temos de começar a produzir as quantidades adequadas”, alerta.

Para António Madaleno, presidente da Orivárzea (dona da marca Bom Sucesso), o carolino é o arroz nacional. “É o que os nossos agricultores querem e fazem. Também se faz agulha, mas esse não é o nosso arroz”, defende, sublinhando que é “uma aberração comer um arroz de grelos ou de cabidela feito com a variedade agulha”. António Madaleno acredita que este ano haverá equilíbrio entre a oferta e a procura e a exportação conjunta permite dividir os onerosos custos de transporte.

Além desta venda para a Turquia, a própria Orivázea já exporta para Macau, Hong Kong, Brasil, Suíça e Polónia, posicionando-se no segmento de comida para bebés. “A exportação é sempre uma solução importante”, sustenta o presidente da organização, para quem 50 agricultores produzem cerca de 35 mil toneladas de arroz em 5300 hectares, 85% da variedade carolino.

António Madaleno recorda ainda que há 20 anos a variedade agulha (da chamada subespécie Índica) representava cerca de 2 a 3% do consumo nacional, mas a entrada no mercado de um operador de peso, a espanhola Mundiarroz (dona da marca Cigala) veio alterar as regras do jogo. Com uma forte campanha publicitária e concursos populares contínuos atraiu os portugueses para o consumo de arroz agulha.

O sector exporta anualmente pouco mais de 20 mil toneladas por ano, mas as previsões da ANIA para 2014 são optimistas: duplicar este valor. “Os maiores clientes são, sobretudo, o mercado da saudade e os países de expressão portuguesa mas é preciso ir mais além, onde nunca se ouviu falar de arroz português e mostrar que este é um produto de grande qualidade”, diz Pedro Monteiro.

De acordo com os dados mais recentes da ANIA, a produção de arroz envolve 2000 agricultores, numa área global de 30 mil hectares. Na última campanha produziram-se 190 mil toneladas de arroz em casca (100 mil das quais da variedade carolino), o que equivale a cerca de 130 mil toneladas de arroz branco. O volume de negócios soma 60 milhões de euros.

Por ano, são importadas 110 mil toneladas de arroz em película e exportadas apenas 20 mil toneladas. Os portugueses são os maiores consumidores per capita de arroz da União Europeia.