O Clube de Dallas

Regresso àqueles meados dos anos 80 em que a epidemia da Sida explodiu, ou explodiu pelo menos a sua percepção pública: o certo é que, com um nada desprezível sentido de economia, Jean-Marc Vallée não precisa de mais, para situar cronologicamente o filme, do que mostrar um jornal que tinha na capa a notícia da morte de Rock Hudson. A relativa singularidade de O Clube de Dallas, e para além do episódio verídico que narra, está no contexto social (e também sexual) que escolhe para retratar esta época: não são os meios gay, nem underground, nem sequer urbanos, antes o conservadoríssimo Texas, o “super-macho” circuito dos rodeos, e uma personagem (interpretada por Matthew McConaughey, cada vez mais especializado em sulistas) que é imediatamente apresentada como heterossexual acima de qualquer “vacilação”. Parte do filme, baseado como se disse numa figura real, tem justamente a ver com isto: como num “estudo de personagem”, acompanhar a maneira como este homem, preconceituoso e nem por isso muito sofisticado, vai aprender a viver com a “doença dos gays”, e criar e gerir toda uma comunidade “alternativa” povoada em grande parte pelo tipo de gente que ele, até poucos meses antes, desprezaria e insultaria sem estados de alma. Na relação com o seu principal sidekick, um transexual interpretado por Jared Leto, até se ganham umas sombras de buddy movie, um retrato de um male bonding quase à antiga, não fossem as ironias e os cambiantes.

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Regresso àqueles meados dos anos 80 em que a epidemia da Sida explodiu, ou explodiu pelo menos a sua percepção pública: o certo é que, com um nada desprezível sentido de economia, Jean-Marc Vallée não precisa de mais, para situar cronologicamente o filme, do que mostrar um jornal que tinha na capa a notícia da morte de Rock Hudson. A relativa singularidade de O Clube de Dallas, e para além do episódio verídico que narra, está no contexto social (e também sexual) que escolhe para retratar esta época: não são os meios gay, nem underground, nem sequer urbanos, antes o conservadoríssimo Texas, o “super-macho” circuito dos rodeos, e uma personagem (interpretada por Matthew McConaughey, cada vez mais especializado em sulistas) que é imediatamente apresentada como heterossexual acima de qualquer “vacilação”. Parte do filme, baseado como se disse numa figura real, tem justamente a ver com isto: como num “estudo de personagem”, acompanhar a maneira como este homem, preconceituoso e nem por isso muito sofisticado, vai aprender a viver com a “doença dos gays”, e criar e gerir toda uma comunidade “alternativa” povoada em grande parte pelo tipo de gente que ele, até poucos meses antes, desprezaria e insultaria sem estados de alma. Na relação com o seu principal sidekick, um transexual interpretado por Jared Leto, até se ganham umas sombras de buddy movie, um retrato de um male bonding quase à antiga, não fossem as ironias e os cambiantes.


A sobriedade da coisa, o dedo de Vallée para extrair aos seus actores um desempenho justo e sempre no ponto (a magreza de McConaughey, por exemplo: parece sempre “integrada” na personagem, não um exibicionismo de actor como seria, e já aconteceu, com Christian Bale), a facilidade com que o espectador acredita nas personagens, no meio, e na época, tudo isto faz O Clube de Dallas merecer toda a simpatia. Um pequeno filme, certamente menor, mas adulto, e capaz de lidar com assuntos sérios sem sensacionalismo. E “lição de vida”, no melhor sentido do termo, no modo como, mesmo em face de uma morte quase certa, prega a rebeldia e a desconfiança, económica e institucional.