ONU concluiu que houve pelo menos cinco ataques químicos na Síria em 2013

Relatório revela que, além do ataque de Ghutta, a 21 de Agosto, foram encontrados indícios que corroboram suspeitas de que gás sarin foi usado em quatro outras ocasiões.

Foto

A ONU, que contou com o apoio técnico da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), não tinha mandato para investigar a autoria dos ataques e nada é dito sobre isso nas 82 páginas do relatório final da missão, que será entregue nesta sexta-feira ao Conselho de Segurança.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A ONU, que contou com o apoio técnico da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), não tinha mandato para investigar a autoria dos ataques e nada é dito sobre isso nas 82 páginas do relatório final da missão, que será entregue nesta sexta-feira ao Conselho de Segurança.

Confirmando os dados do relatório preliminar, divulgado em Setembro, os peritos dizem ter “recolhido provas claras e convincentes de que foram usadas armas químicas contra civis, incluindo crianças, em larga escala, na região de Ghutta”, um subúrbios a leste da capital síria. O ataque, que segundo algumas fontes poderá ter feito mais de mil mortos, aconteceu pouco depois de uma equipa de peritos ter chegado a Damasco para investigar denúncias de ataques anteriores, o que acabou por mudar o rumo da missão. Autorizados a visitar o local poucos dias depois, os inspectores conseguiram encontrar a origem da contaminação: rockets que continham vestígios de sarin.

Só semanas mais tarde os peritos voltaram à Síria e puderam visitar outros seis locais onde havia suspeitas – quer da oposição, quer do Governo – sobre o uso de armas químicas. Os peritos dizem agora ter encontrado “provas consistentes” que “corroboram” essa suspeita em Khan al-Assad, localidade na província de Alepo onde a 19 de Março 16 pessoas morreram com sintomas de envenenamento por sarin. Ataques semelhantes terão acontecido, ainda que em menor escala, em Saraqueb (Idlib), a 29 de Abril, em Jobar (Damasco) a 24 de Agosto e, no dia seguinte, em Ashrafiah Sahnaya (Sul). Em contrapartida, os peritos não encontraram qualquer sinal da utilização destes tóxicos em Bahariyeh (Damasco) e Sheik Maqsood (Alepo).

Inspectores não visitaram locais atingidos
Os inspectores sublinham, porém, que o tempo passado desde os ataques afectou a qualidade das perícias técnicas e o facto de não terem conseguido, por razões de segurança, visitar a maioria dos locais atingidos impediu-os de chegarem a conclusões mais definitivas – não foi possível identificar a origem da contaminação, nem estabelecer a sequência de acontecimentos.

A onda de indignação que se seguiu ao ataque de Ghutta, o pior dos últimos 25 anos, levou os Estados Unidos a ameaçar lançar um ataque punitivo contra a Síria – acção suspensa na sequência de um acordo com a Rússia, que convenceu o regime de Bashar al-Assad a destruir a totalidade do seu arsenal químico.

Seguindo um calendário definido na resolução aprovada em Setembro pelo Conselho de Segurança, a Síria selou já todas as unidades que integravam este programa militar e destruiu, sob a supervisão da OPAQ, o equipamento usado para o fabrico de armas químicas. O plano prevê agora que a totalidade das 1300 toneladas de armas químicas (sobretudo gás mostarda e sarin) seja levada para fora do país até 5 de Fevereiro; as mais perigosas devem ser retiradas até ao final do ano. A guerra civil impede a sua destruição em território sírio e, à falta de um país que aceite receber os tóxicos, parte das armas será destruída a bordo de um navio norte-americano especialmente preparado para o efeito.