Japão recua nas metas de redução de gases poluentes

Desastre nuclear de Fukushima levou o país a definir objectivos menos ambiciosos.

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Desastre de Fukushima levou o Japão a reforçar consumo de combustíveis fósseis REUTERS/YOMIURI

O país tinha-se comprometido a cortar um quarto das emissões de gases poluentes em comparação com os níveis de 1990, ano de referência para os países que subscreveram o Protocolo de Quioto. Com o objectivo agora fixado, pode aumentar em 3,1% as emissões face a 1990. Segundo o Financial Times, esta diferença em relação à meta anterior equivale às emissões anuais de dióxido de carbono da Espanha.

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O país tinha-se comprometido a cortar um quarto das emissões de gases poluentes em comparação com os níveis de 1990, ano de referência para os países que subscreveram o Protocolo de Quioto. Com o objectivo agora fixado, pode aumentar em 3,1% as emissões face a 1990. Segundo o Financial Times, esta diferença em relação à meta anterior equivale às emissões anuais de dióxido de carbono da Espanha.

A nova meta foi anunciada nesta sexta-feira pelo ministro do Ambiente japonês, Nobuteru Ishihara, em Tóquio. "Vamos estabelecer uma meta mais definitiva com base na evolução dos planos para o futuro [para a energia nuclear]", afirmou Ishihara aos jornalistas.

“O nosso Governo tem vindo a dizer que a meta de redução de 25% [até 2020] era totalmente infundada e inviável”, acrescentou o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Yoshihide Suga, citado pela BBC News. A meta anterior foi fixada pelo governo de centro-esquerda liderado por Yukio Hatoyama.

Culpa é do desastre nuclear
A decisão do Japão é conhecida num momento em que decorrem em Varsóvia, na Polónia, as negociações entre os signatários do Protocolo de Quioto, com vista a estabelecer as bases do acordo previsto para 2015 sobre a limitação dos gases com efeito de estufa.

O representante japonês nestas negociações, Hiroshi Minami, disse que a nova meta resulta das circunstâncias em que o país se encontra. O sismo e tsunami que abalaram o Japão em Março de 2011, provocando uma catástrofe nuclear em Fukushima ainda longe da resolução, levou a população a apostar mais nos combustíveis fósseis, como carvão e gás.

“O novo objectivo é baseado num cenário de energia nuclear zero, no futuro. Temos de baixar os nossos níveis de ambição”, justificou Minami, acrescentando que a meta poderá ser ajustada se a situação se alterar.

Antes do tsunami, mais de um quarto da energia consumida no Japão era de origem nuclear. Desde então, os seus 50 reactores foram praticamente desligados para avaliação ou manutenção. Ao mesmo tempo, foi crescendo um sentimento anti-nuclear na opinião pública japonesa. Numa sondagem publicada esta semana pelo jornal Asahi, 60% dos inquiridos apoia o abandono total do nuclear, contra 25% que defende a continuação da aposta nesta tecnologia.

Ainda assim, o primeiro-ministro Shinzo Abe já afirmou que quer reactivar todos os reactores, uma medida que faz parte do seu plano para reanimar a economia do país.

Impacto “devastador”
“Esta decisão do Japão pode ter um impacto devastador no tom da discussão aqui em Varsóvia”, afirmou um porta-voz da WWF (World Wide Fund for Nature) no Japão, Naoyuki Yamagishi. “Pode acelerar a corrida para o abismo entre outros países desenvolvidos, quando o mundo precisa de acções decisivas e imediatas para subir o nível de ambição, não para baixar”, explicou, citado pela BBC.

O recuo do Japão mereceu já críticas da China. “Não tenho palavras para descrever o meu desalento com o anúncio iminente”, disse aos jornalistas Su Wei, principal negociador da China na conferência em Varsóvia, na quinta-feira, ainda antes do anúncio feito pelo Governo japonês. 

No entanto, um representante da Polónia na conferência considerou esta reacção "histérica", afirmando ao Financial Times que "a maioria das delegações encararam a decisão de forma bastante calma", considerando que esta resulta do facto de o Japão já não poder contar com a energia nuclear como antes do desastre de Fukushima.

O ministro Nobuteru Ishihara é esperado em Varsóvia na próxima semana para falar da decisão.