Novo partido chinês tem Bo Xilai como presidente

Não querem enfrentar o domínio do Partido Comunista, reconhecendo a importância do regime de partido único na China, mas apelam ao cumprimento da Constituição.

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Bo Xilai durante o julgamento, em Agosto Jinan IPC/Reuters

A notícia da fundação do novo partido é vista com alguma estranheza, tendo em conta o monopólio exercido pelo PCC, no poder desde 1949. Existem mais oito pequenos partidos de inspiração comunista na China, mas a sua autonomia é muito limitada. No entanto, Wang Zheng, a professora universitária que fundou o Zhi Xian, garante que “isto não é ilegal segundo a lei chinesa. É legal e razoável”, afirmou ao South China Morning Post.

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A notícia da fundação do novo partido é vista com alguma estranheza, tendo em conta o monopólio exercido pelo PCC, no poder desde 1949. Existem mais oito pequenos partidos de inspiração comunista na China, mas a sua autonomia é muito limitada. No entanto, Wang Zheng, a professora universitária que fundou o Zhi Xian, garante que “isto não é ilegal segundo a lei chinesa. É legal e razoável”, afirmou ao South China Morning Post.

A fundadora recusa estar a desafiar o domínio do PCC, que dá como garantido. “Não estamos a tentar travar o domínio monopartidário”, assegurou Wang à Bloomberg. “A concentração de poder mantém o país fora do caos mas esta concentração de poder deve ser feita de acordo com a lei”, acrescentou. A lei reconhece a existência de outros partidos que “cooperam” com o PCC, observa Wang, que quer que o Zhi Xian seja um deles.

O nome do partido pode ser traduzido como “suprema autoridade da Constituição” e é esse precisamente o objectivo do grupo. “O objectivo do partido é defender a Constituição. No passado, durante muitos anos, o partido dominante fez coisas que são contra a Constituição”, afirmou Wang à BBC.

A fundação de partidos políticos alternativos ao PCC foi vista sempre com desconfiança pelo regime de Pequim e o destino dos seus fundadores foi invariavelmente a prisão. A última vez foi em 1998, quando o activista Qin Yongmin foi condenado a 12 anos de prisão por ter tentado registar o Partido Democrático da China.

De momento, a casa de Wang Zheng encontra-se sob vigilância policial, mas a fundadora do novo partido não teme represálias pelo seu acto. “Não temos medo. Não acho que sejamos presos”, referiu à Reuters.

Bo Xilai, presidente vitalício

Apesar de nunca se ter encontrado pessoalmente com Bo Xilai, o caso deste serviu de inspiração a Wang. “Fundei este partido porque ao mesmo tempo que esta sociedade tem leis, não é governada de acordo com a lei e isso ficou muito claro no caso de Bo Xilai”, criticou.

O ex-dirigente do PCC foi nomeado “presidente vitalício” do novo partido, através de uma carta enviada na semana passada para a prisão onde se encontra. Bo não respondeu, o que é classificado por Wang como uma “aceitação silenciosa”, referiu à Bloomberg.

A fundação ocorreu dias antes da terceira reunião plenária do 18.º Comité Central do PCC, em Pequim, o que é visto como um alerta dentro do próprio partido. “Isto pode ser a facção conservadora do partido a colocar pressão sobre [o Presidente chinês] Xi Jinping para fazer algumas concessões em relação às reformas políticas durante a reunião plenária”, considera o professor de História da Universidade Chinesa de Hong Kong, Willy Wo-Lap, citado pela Bloomberg. “Não acho que este novo partido sobreviva durante muito tempo, uma vez que Xi [Jinping] preza muito a uniformidade de pensamento dentro do partido”, defende.

Bo Xilai era visto como um dos mais promissores dirigentes comunistas na China, mas um escândalo de corrupção e o envolvimento da sua mulher, Gu Kailai, no homicídio do empresário britânico Neil Heywood, conduziram à sua queda. Em Setembro foi condenado a prisão perpétua pelos crimes de corrupção, desvio de dinheiro e abuso de poder. Enquanto liderava a secretaria do PCC na província de Chongqing, Bo ganhou popularidade pela sua defesa da redução de disparidades entre ricos e pobres e pelo combate ao crime organizado.