Achado de Munique inclui obras desconhecidas de Matisse, Chagall e Dix

Autoridades alemãs recusam-se a divulgar na Internet as 1400 pinturas encontradas no apartamento de Cornelius Gurlitt.

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Meike Hoffmann, encarregada pelo Ministério Público alemão de catalogar o achado, precisou que a tela de Dix é um auto-retrato provavelmente datado de 1919, quando o artista procurava novos caminhos, mas é sobretudo à pintura de Chagall, uma cena alegórica executada em meados dos anos 20, que a especialista atribui “um valor particularmente alto para a história da arte”. Imagens de ambas as telas, e ainda de uma pintura desconhecida de Matisse mostrando uma mulher sentada, foram projectadas durante o encontro com jornalistas.   

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Meike Hoffmann, encarregada pelo Ministério Público alemão de catalogar o achado, precisou que a tela de Dix é um auto-retrato provavelmente datado de 1919, quando o artista procurava novos caminhos, mas é sobretudo à pintura de Chagall, uma cena alegórica executada em meados dos anos 20, que a especialista atribui “um valor particularmente alto para a história da arte”. Imagens de ambas as telas, e ainda de uma pintura desconhecida de Matisse mostrando uma mulher sentada, foram projectadas durante o encontro com jornalistas.   

Convocada após a revista alemã Focus ter revelado que as autoridades do seu país tinham mantido em segredo durante dois anos a apreensão de um vastíssimo lote de arte moderna, boa parte dela saqueada durante o período nazi, a conferência de imprensa incluiu uma intervenção do procurador Reinhard Nemetz, que precisou que o apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique guardava 1401 pinturas, das quais 121 ainda com a respectiva moldura. Estima-se que o conjunto possa valer mil milhões de euros.

Filho de Hildebrand Gurlitt, um célebre negociante de arte que colaborou com os nazis e foi pessoalmente recrutado por Joseph Goebbels para vender no estrangeiro a arte moderna que Hitler considerava “degenerada”, Cornelius Gurlitt escondeu durante mais de meio século a colecção de arte do pai, que inclui obras de Pablo Picasso, Henri Matisse, Marc Chagall, Emil Nolde, Franz Marc ou Max Beckmann, mas também de Renoir ou Toulouse-Lautrec, e até uma tela do século XVI da autoria de Albrecht Dürer.

Nem todas as obras foram roubadas durante o nazismo, disse o procurador Reinhard Nemetz, que fez hoje saber que as autoridades alemãs não irão divulgar imagens das pinturas na Internet. “A situação legal das obras é muito complexa e não queremos um cenário em que tenhamos de lidar com 10 reivindicações diferentes a uma mesma pintura”, diz Nemetz.

O argumento não convence os herdeiros de coleccionadores judeus espoliados pelos nazis e a decisão já foi também criticada por um conhecido advogado berlinense especialista em reivindicações de arte roubada, Peter Raue, que a considera “um escândalo”. David Rowland, um advogado nova-iorquino que representa os herdeiros do crítico e coleccionador Curt Glaser, lamenta: “Sem uma lista das obras, não podemos fazer nada”.