Poluição do ar causa cancro, diz Organização Mundial de Saúde

Estudo avaliou todos os poluentes presentes no ar e conclui que os cancros do pulmão e da bexiga podem ser causados pela poluição atmosférica. Investigadores querem pressionar governos mundiais para que tomem medidas para conter poluição.

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Consumo elevado de combustíveis e poluição são problemas com que a China está-se a defrontar CLARO CORTES IV/REUTERS

“O ar que respiramos tornou-se poluído com uma mistura de substâncias causadoras de cancro”, explicou o chefe da secção de monografias do IARC, Kurt Straif. “Sabemos agora que a poluição do ar não é só um risco para a saúde em geral, mas também uma das principais causas ambientais das mortes por cancro”, acrescentou.

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“O ar que respiramos tornou-se poluído com uma mistura de substâncias causadoras de cancro”, explicou o chefe da secção de monografias do IARC, Kurt Straif. “Sabemos agora que a poluição do ar não é só um risco para a saúde em geral, mas também uma das principais causas ambientais das mortes por cancro”, acrescentou.

De acordo com o estudo do IARC, o cancro do pulmão foi responsável pela morte a 223 mil pessoas, em 2010, mais de metade na China e noutros países do Leste Asiático. Contudo, os investigadores alertam que, apesar de a composição do ar variar, as conclusões do estudo aplicam-se a todas as regiões do mundo.

O estudo detectou as principais fontes da poluição atmosférica, destacando os transportes, as estações de geração de energia, as emissões industriais e agrícolas, e o aquecimento e cozinhas domésticas.

“A nossa tarefa era avaliar o ar que todos respiramos em vez de nos concentrarmos em poluentes atmosféricos específicos”, esclareceu a número dois da secção de monografias do IARC, Dana Loomis.

A classificação da poluição do ar como agente cancerígeno deve servir, segundo o IARC, para pressionar os governos de todo o mundo. “Classificar a poluição atmosférica como um carcinogénico para os humanos é um passo importante”, considerou o director do centro, Christopher Wild. “Há formas eficazes de reduzir a poluição atmosférica e, dada a escala da exposição que afecta as pessoas em todo o mundo, este estudo deve enviar um sinal forte à comunidade internacional para tomar acções sem mais atrasos”, concluiu.

O estudo "vem reforçar a necessidade de continuar as políticas de redução do táfego automóvel nas cidades, entre outras medidas", considera a dirigente da Quercus, Ana Rita Antunes, contactada pelo PÚBLICO. A ambientalista destaca dois problemas fundamentais em relação à poluição atmosférica: "Os países em desenvolvimento, cujas poluição nas cidades tem tendência a piorar, e os países desenvolvidos, que têm medidas para combater a poluição, mas não são suficientes".

Os decisores políticos têm, na óptica de Ana Rita Antunes, um papel importante a desempenhar no combate à poluição. Referindo-se à influência do lobby da indústria, a responsável afirma que "os lobbies têm a força que os políticos deixam ter". "Se houver decisões para atacar esse lobby, ele enfraquece", observa Ana Rita Antunes. "É preciso dizer o que é que é mais importante e, quando se toma essa decisão, que é política, há então muito que fazer", conclui.


As regiões de mais rápida industrialização são aquelas onde o cancro provocado pela poluição atmosférica tem maior incidência, refere ainda o estudo.

Em Portugal, Ana Rita Antunes avisa que "há muitos dias por ano em que no Porto e em Lisboa se ultrapassam os níveis adequados de qualidade do ar". "Temos de continuar a diminuir o trânsito em Lisboa e no Porto", defende.

O relatório baseou-se na revisão de mais de mil estudos científicos a nível mundial, que analisam a propensão para originar cancro de diversos poluentes atmosféricos.