Passos responsabiliza Menezes pela derrota do PSD em Gaia

Líder do partido disse no Conselho Nacional que Menezes lhe pediu carta branca para gerir o processo em Gaia, e ele deu.

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miguel manso

Já sobre a derrota no Porto, Passos ilibou Menezes. Disse que o ex-autarca de Gaia era um candidato forte e que o seu nome fora aprovado pela concelhia, pela distrital e ratificado pela direcção nacional do partido. A única surpresa foi mesmo o resultado eleitoral (21,06%).

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Já sobre a derrota no Porto, Passos ilibou Menezes. Disse que o ex-autarca de Gaia era um candidato forte e que o seu nome fora aprovado pela concelhia, pela distrital e ratificado pela direcção nacional do partido. A única surpresa foi mesmo o resultado eleitoral (21,06%).

Foi um dos pontos críticos de uma reunião que acabou às 4h da madrugada desta quarta-feira e que teve vários episódios que sugeriam algum ajuste de contas. José Pedro Aguiar-Branco, que liderou a lista de Menezes para a Assembleia Municipal do Porto, foi ao conselho nacional defender a punição de todos os militantes que apoiaram candidaturas adversárias às do partido. O ministro da Defesa não poupou ninguém e censurou aqueles que “estiveram na sombra a apoiar os adversários do partido”, numa alusão a Rui Rio, e os que “escreveram artigos contra a lei de limitação de mandatos”, numa indirecta a Paulo Rangel.

O ex-presidente da assembleia geral do grupo Impresa censurou Rui Rio, Paulo Rangel e Valente de Oliveira por não terem apoiado Luís Filipe Menezes no Porto, que registou a maior derrota do PSD desde 1976. De rajada, Aguiar-Branco nomeou Francisco Pinto Balsemão, Manuela Ferreira Leite, Nuno Morais Sarmento e José Luís Arnaut, criticando-os por dar entrevistas a atacar o Governo sem qualquer consequência.

O rastilho estava lançado e o eurodeputado Paulo Rangel não resistiu à provocação do seu adversário na corrida à liderança do PSD em 2010, de que Pedro Passos Coelho saiu vencedor, acusando-o de ter uma visão “soviética” do partido. Os apupos ouviram-se na sala e sucederam-se à medida que o eurodeputado falava.

Rangel defendeu que não se pode tirar a ninguém o direito de não apoiar um candidato e que, tendo ele defendido a ilegalidade de candidaturas de presidentes de câmara com mais de três mandatos autárquicos, nunca poderia apoiar Menezes.

O clima de crispação levou Passos a pedir alguma contenção. Por essa altura, o porta-voz do partido, Marco António Costa, saiu da sala para falar aos jornalistas. Defendeu o ainda presidente da Câmara do Porto ao dizer que “não houve, da parte de Rui Rio, nenhuma declaração expressa de apoio a outro candidato”. E, ao ser questionado com o facto de Rio ter criticado a candidatura de Luís Filipe Menezes, declarou: “Nós não temos por princípio o delito de opinião.”

O terceiro caso a que Passos Coelho se referiu expressamente foi o de Sintra, para sublinhar que o PSD não podia ficar refém da “chantagem” de Marco Almeida, que se assumiu como candidato quando o PSD ainda não tinha iniciado o processo. Marco Almeida terá dito que, se o partido não o escolhesse, ele seria candidato como independente. Segundo Passos, foi por essa razão que o PSD escolheu Pedro Pinto.

Na intervenção de Paula Teixeira da Cruz, que falou logo a seguir a Passos Coelho, a ministra da Justiça sustentou que não deve haver “caça às bruxas”. Na primeira fila, segundo relatos feitos ao PÚBLICO, Passos Coelho comentava “aqui não há bruxas”, e a ministra respondia afirmativamente, dizendo “há bruxas, há”.

Mas foram muitos os que pediram responsabilidades políticas pela derrota de domingo. Luís Rodrigues, conselheiro nacional e candidato por Setúbal, onde o PSD foi muito penalizado, sustenta que a a antecipação do congresso “é uma falsa questão”. “Não acredito que apareçam candidatos contra Passos Coelho. Já nas listas para o conselho nacional, é diferente”, afirmou.

“Não sou como o Sócrates”

Mas foi a situação do país que arrebatou boa parte do discurso inicial de cerca de 45 minutos. O presidente do PSD referiu que até ao final do ano está em curso a avaliação da execução orçamental em que também se sustenta o sucesso do programa de assistência financeira. Passos Coelho recusou ser “como o Sócrates” e dizer que está tudo bem. Mas não foi pessimista. Disse que, em princípio, “está tudo a correr bem”, salientou os sinais positivos que a economia tem dado, mas a avaliação é permanente.

Os riscos da situação portuguesa voltaram a ser explicados aos conselheiros. A descida do rating da dívida – uma ameaça recente das agências – é considerado um risco para o sucesso do programa, assim como mais chumbos do Tribunal Constitucional. Mas Passos Coelho nunca se referiu directamente a um segundo resgate. Como foi noticiado que tinha voltado a acenar com um segundo resgate, o próprio Passos Coelho gracejou com isso ao final da noite.