Os videojogos criados por Timothy Leary, o sr. LSD, foram redescobertos

Os arquivos do psicólogo estão agora ao alcance dos investigadores e do público e revelam também peças desconhecidas de Keith Haring desenhadas no MacIntosh

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Além dessas peças de software, algumas já conhecidas e outras submersas nos arquivos ou consideradas perdidas, a abertura dos arquivos Leary revelou uma outra surpresa: arte digital do artista plástico Keith Haring (1958-1990), um dos mais reproduzidos e reconhecíveis artistas da Nova Iorque dos anos 1980. São várias disquetes com mensagens escritas à mão por Harring e cinco desenhos digitais feitos com o MacPaint, um software de design gráfico da MacIntosh lançado em 1984.

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Além dessas peças de software, algumas já conhecidas e outras submersas nos arquivos ou consideradas perdidas, a abertura dos arquivos Leary revelou uma outra surpresa: arte digital do artista plástico Keith Haring (1958-1990), um dos mais reproduzidos e reconhecíveis artistas da Nova Iorque dos anos 1980. São várias disquetes com mensagens escritas à mão por Harring e cinco desenhos digitais feitos com o MacPaint, um software de design gráfico da MacIntosh lançado em 1984.

O conservador digital do Museum of Modern Art  (MoMA) de Nova Iorque descreveu que, no momento em que viu os desenhos, ficou boquiaberto. “Arte digital não é algo que associamos a Haring, disse ao New York Times Ben Fino-Radin. “É uma parte da história dele que não foi de todo contada.”

Os arquivos de Timothy Leary são, segundo disse à Associated Press (AP) Denis Berry, o responsável pelo espólio, “o elo perdido em todas as tentativas” de construir o puzzle da investigação sobre o psicólogo e sobre “a emergência da investigação científica sobre as drogas psicadélicas e a contracultura popular das drogas”. Forçarão, diz, um novo trabalho sobre as teorias até aqui desenvolvidas sobre o seu trabalho.

A New York Public Library adquiriu o arquivo em 2011 (por um valor não revelado), incluindo relatórios das suas experiências, cartas às instituições com que trabalhou e trocas de correspondência com figuras eminentes da comunidade científica, mas também artística, que até 18 de Setembro, dia oficial da abertura do espólio, nunca foram tornadas públicas. Há também fotografias e cerca de mil disquetes que mostram o interesse de Leary (1920-1996) pela cibercultura e pelos videojogos nos últimos anos da sua vida, explicava ainda a AP.

Do arquivo fazem também parte cerca de 375 discos rígidos com esses jogos, que poderão agora ser mais explorados e, em alguns casos, jogados através de emuladores – embora, como alerta Donald Mennerich, o arquivista da área do digital do espólio do psicólogo, tenham alguns bugs (falhas) porque estavam ainda em fase de desenvolvimento. Contêm, segundo o mesmo arquivista, ideias à frente do seu tempo.

“Leary trouxe um ângulo de interacção psicológica à ideia de jogo interactivo, a ideia de reprogramar o cérebro. Na altura não pegou, mas ele estava bastante à frente”, explica sobre a forma como Leary trabalhava as suas teses da psicologia no software que criava. Estes jogos concebidos por Timothy Leary visavam sobretudo ajudar os utilizadores a conhecer melhor a sua personalidade, como aquele que a Electronic Arts lançou em 1985 – Mind Mirror pergunta aos jogadores se “o pensamento com precisão sobre si mesmo não é a ferramenta mais básica para gerir a sua vida de forma bem sucedida?” O jogo foi ressuscitado recentemente através de uma versão adaptada para a rede social Facebook.

Há ainda jogos que se pensavam perdidos ou simplesmente nunca desenvolvidos na prática, como Head Coach, Game of Lists, Inter-Com, FlashBack ou Mental Performances, acrescenta o New York Times.

Algumas ideias sobre a interactividade psicológica e a forma como ela pode ser aplicada aos jogos de vídeo, bem como a de “usar a personalidade de outra pessoa para aprender mais sobre a nossa própria é muito interessante e na verdade não foi realmente explorada” até hoje na indústria, como diz ao New York Times o director do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Joichi Ito – que é afilhado de Timothy Leary.

O arquivo da biblioteca pública de Nova Iorque inclui também disquetes e documentação sobre projectos nunca concretizados por Leary, como é o caso de um jogo descrito que permitiria aos espectadores escolher a sua aventura e que teria como protagonista uma personagem desenhada à imagem de Keith Haring – devidamente autorizada pelo artista, segundo mostra a documentação agora disponível. Para o jogo, que a certa altura teve como título Keith Haring’s Neuromancer, o psicólogo planeava uma série de colaborações de renome: não só grafismo de Haring, mas também música dos Devo, fotografia de Helmut Newton e texto de William S. Burroughs. Tudo isto baseado no romance de referência do universo ciberpunk Neuromante (de 1984, com a primeira edição portuguesa pela Gradiva em 1988), de William Gibson.