Vencedor do Prémio Aga Khan de Arquitectura é anunciado esta sexta-feira em Lisboa

Vinte projectos espalhados pelo mundo, de um cemitério islâmico na Áustria a uma escola primária no Afeganistão, são candidatos a receber 760 mil euros

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Anunciada em Abril passado, a short list do prémio é bastante longa – inclui 20 candidatos – e abarca projectos construídos nos mais diversos pontos do globo, do Afeganistão à Áustria ou da China a Marrocos. A escolha é da responsabilidade de um júri internacional de nove elementos, nomeado por um comité de direcção ao qual cabe ainda actualizar regularmente os critérios de elegibilidade, atendendo às prioridades de cada momento.

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Anunciada em Abril passado, a short list do prémio é bastante longa – inclui 20 candidatos – e abarca projectos construídos nos mais diversos pontos do globo, do Afeganistão à Áustria ou da China a Marrocos. A escolha é da responsabilidade de um júri internacional de nove elementos, nomeado por um comité de direcção ao qual cabe ainda actualizar regularmente os critérios de elegibilidade, atendendo às prioridades de cada momento.

O crescente prestígio deste prémio internacional de arquitectura não se prende apenas com os avultados montantes envolvidos, mas com a filosofia em que assenta. Valorizando o planeamento urbanístico, a preservação de locais históricos ou a arquitectura paisagística, o prémio só pode ser atribuído a projectos não apenas concretizados no terreno, mas que tenham já alguns anos de utilização. E o impacto real dos edifícios na vida das pessoas que os habitam, ou que de alguma forma os utilizam, é tomado em consideração. Uma lógica que leva a que a constituição dos júris inclua especialistas de várias disciplinas, e não apenas arquitectos.

O prestígio internacional alcançado pela arquitectura portuguesa, a importância da presença islâmica na história do país e a bem sucedida integração da comunidade muçulmana na sociedade portuguesa terão sido alguns dos motivos que levaram à escolha de Lisboa para a cerimónia de entrega desta 12ª edição do prémio, que será presidida por Cavaco Silva e na qual participarão o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e o próprio Aga Khan. Quarto detentor deste título, o príncipe Karim – soberano sem território que reclama descender em linha directa do profeta Maomé – é ainda reconhecido como imã dos ismaelitas nizaritas, um ramo xiita que engloba cerca de 15 milhões de muçulmanos distribuídos por vários países.

Na sessão de sexta-feira, marcada para as 20h30, será apresentado um novo selo de correio comemorativo do prémio, e inaugurar-se-á ainda uma exposição ilustrativa da influência islâmica em Portugal, organizada em colaboração com a Gulbenkian, que ficará no Castelo de S. Jorge até final de 2013.

Vinte candidatos

A short list do prémio para o ciclo 2011-2013 inclui projectos tão diferentes entre si como um ambicioso plano da arquitecta e antropóloga Salima Naji para a preservação de quatro locais com oásis sacralizados e de uso colectivo nas montanhas marroquinas do anti-Atlas, um complexo habitacional erguido numa aldeia de pescadores no Sri Lanka que fora devastada pelo tsunami em 2004 (do atelier Shigeru Ban Architects), ou o cemitério islâmico em Altach, na Áustria (atelier de Bernardo Bader), construído numa região com quase dez por cento de população muçulmana.

O restauro do forte de Thula, no Iémen (arquitecto Abdullah Al-Hadrami, a reabilitação do forte de Nagaur, na Índia (arquitecto Minakshi Jain), a revitalização do centro histórico de Birzeit, na Palestina (Riwaq – Centro para a Conservação da Arquitectura), a reabilitação do bazar de Tabriz, no Irão (ICHTO East Azerbaijan Office) ou a reconstrução do campo de refugiados de Nahr el-Bared, no Líbano, promovido por uma agência das Nações Unidas, são outros projectos que chegaram à short list.

Um bom exemplo de que a dimensão da obra não é necessariamente um factor significativo é o facto de a lista integrar um projecto de preservação, numa aldeia da Ilha das Flores, na Indonésia, de quatro casas cónicas de madeira e bambu, com telhados de palha, raras sobreviventes de uma antiquíssima técnica de construção. Coordenado por Rumah Asuh e Yori Antar, o projecto envolveu um grupo de jovens arquitectos indonésios, que trabalhou em ligação com a comunidade local, procurando reabilitar uma arte esquecida.

Os restantes projectos que o júri irá analisar incluem um apartamento no Irão em cuja construção foram reutilizadas de sobras de pedras (Architecture by Collective Terrain), a sede do Instituto do Filme e Animação Kantana, na Tailândia (Bangkok Project Studio), uma escola primária em Herat, no Afeganistão (ateliers 2A+P/A e IaN+), construída em homenagem à jornalista italiana Maria Grazia Cutuli, assassinada no Afeganistão em 2001, uma outra escola primária em Kigali, no Ruanda (MASS Design Group), a sede do liceu francês Charles De Gaulle em Damasco, na Síria (Lion Associés, Dagher Hanna & Partners), a torre Met, em Banguecoque, na Tailândia (WOHA Architects), o Centro de Cirurgia Cardíaca Salam, no Sudão (Studio Tamassociati), o Centro de Interpretação do Mapungubwe, no Limpopo, África do Sul (Peter Rich Architects), um local com gravuras rupestres que é património de humanidade, o Museu de Papel Artesanal em Gaoligong, na China (Trace Architecture Office), a Academia de Futebol Mohammed VI, em Salé, Marrocos (Groupe 3 Architectes) e, também em Marrocos, a ponte Hassan II (Marc Mimran Architecture), que liga Rabat e Salé.

Um dos nove membros do júri que irá decidir qual destes projectos irá receber um milhão de dólares é o arquitecto britânico (Dar es Salaam, 1966), David Adjaye, que tem um projecto para Lisboa, o Centro Cultural Africano, África.cont, e é um dos arquitectos mais conhecidos da sua geração. Os restantes jurados são Howayda al-Harithy, presidente do Departamento de Arquitecura e Design da Universidade Americana de Beirute e especialista na história da arquitectura islâmica, o botânico, geógrafo e paisagista francês Michel Desvigne, colaborador de arquitectos como Norman Foster, Rem Koolhaas ou Renzo Piano, o sociólogo e politólogo Mahmood Mamdani, autor de obras sobre a história do colonialismo, Kamil Merican, director executivo do atelier Group Design Partnership, que venceu o Prémio Aga Khan para a Arquitectura em 2007 com o projecto da Universidade de Tecnologia Petronas, na Malásia, a arquitecta japonesa Toshiko Mori, o arquitecto chinês Wang Shu (Prémio Pritzker, 2012), a artista plástica paquistanesa Shahzia Sikander, radicada em Nova Iorque, e o arquitecto turco Murat Tabanlioglu, cujo atelier projectou o mais alto arranha-céus de Istambul, a torre Safira, e também o primeiro museu de arte moderna do país.