Mubarak sai da prisão de Tora
Antigo ditador levado para hospital militar, onde vai ficar em regime de residência vigiada
A decisão foi anunciada 24 horas depois de um tribunal ter considerado que não existem mais razões para manter o antigo ditador em Tora, declarando esgotado o prazo máximo que poderia passar em prisão preventiva.
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A decisão foi anunciada 24 horas depois de um tribunal ter considerado que não existem mais razões para manter o antigo ditador em Tora, declarando esgotado o prazo máximo que poderia passar em prisão preventiva.
Temendo a polémica que a sua libertação poderia provocar, o executivo nomeado pelo Exército após o golpe militar de Julho anunciou ainda ontem que, a sair da prisão, Mubarak seria levado para um hospital militar nos arredores do Cairo, onde vai ficar sob custódia até à conclusão dos vários julgamentos em curso.
Menos de duas horas depois de o procurador-geral anunciar que não seriam apresentadas novas queixas contra o antigo Presidente, um helicóptero com equipamento médico aterrou na prisão, levantando voo alguns minutos mais tarde.
Mubarak, de 85 anos, é arguido em vários processos, incluindo aquele que no ano passado levou à sua condenação a prisão perpétua por cumplicidade na morte de manifestantes durante os protestos que conduziram ao seu derrube, em 2011. Em Janeiro, o veredicto foi anulado por um tribunal de recurso, que ordenou a repetição do julgamento alegando irregularidades. O processo, no qual são também arguidos colaboradores próximos e os seus dois filhos, deverá ser retomado já no domingo, mas não tem ainda data para terminar.
Outras acusações foram entretanto feitas ao antigo ditador, algumas delas para evitar precisamente a sua libertação antecipada. Só que a situação no Egipto é agora muito diferente daquela que o país vivia quando, meses depois da revolução, o ex-Presidente foi levado da sua villa em Sharm el-Sheik para a prisão de Tora. O Presidente Mohamed Morsi foi derrubado e está sob custódia militar, o Exército esmagou pela força os protestos da Irmandade Muçulmana e instaurou de novo o estado de emergência no país.
No processo que ontem foi analisado, Mubarak é acusado de enriquecimento ilícito por alegadamente ter aceitado prendas do Al-Ahram, o principal jornal estatal. Não há, contudo, certezas que o processo avance, já que a família Mubarak devolveu os 1,5 milhões de dólares correspondentes às supostas prendas.
Apesar de Mubarak fazer já parte do passado para muitos egípcios, a sua libertação arrisca-se a provocar reacções iradas, quer da Irmandade - o seu Presidente, eleito democraticamente, está detido em Tora, enquanto o antigo ditador sai da prisão -, quer dos activistas que lideraram a revolução de 2011.
Contudo, os países árabes, que apoiaram o golpe militar de Julho, tinham feito pressão para a libertação de Mubarak e um oficial egípcio disse à agência que as imagens do ex-Presidente a ser julgado dentro de uma jaula indignaram o Exército. E, numa primeira reacção às notícias, o movimento Tamarod, na origem dos protestos contra Morsi, optou por culpar a Irmandade pelas falhas que levaram ao arrastamento do processo contra Mubarak e propuseram que ele seja julgado por tribunais revolucionários.