Livraria Sá da Costa encerra para liquidação total

Administradora está a receber propostas de compra do imóvel na Rua Garrett.

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Funcionários defendem preservação do logotipo da livraria no umbral da porta José Sarmento Matos

“Nós recebemos os papéis para ter acesso ao subsídio de desemprego e, quanto a indemnizações, se houver, só depois de tudo vendido”, disse Susana Pires, ex-funcionária da livraria.

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“Nós recebemos os papéis para ter acesso ao subsídio de desemprego e, quanto a indemnizações, se houver, só depois de tudo vendido”, disse Susana Pires, ex-funcionária da livraria.

Esta liquidação concretizar-se-á com a venda de todo o património da Sá da Costa, para pagamento aos credores, e com a extinção da empresa. O imóvel que é posto à venda é o espaço da livraria, na Rua Garrett, fazendo esquina com a rua Serpa Pinto, e o primeiro piso do edifício.

“Nesta altura estamos a trabalhar, sem auferir salário, para entregar aos editores os livros que, para mantermos a livraria aberta, nos foram entregues à consignação”, realçou.

A livraria foi declarada insolvente pelo Tribunal de Comércio de Lisboa, em Julho, depois da assembleia de credores ter chumbado o plano de viabilização da empresa. A Sá da Costa existe desde 1913, ligada à editora com o mesmo nome, tendo aberto inicialmente no largo Dr. António de Sousa Macedo, ao Poço dos Negros, mudando-se em 1943 para o actual espaço.

Num manifesto publicado a 20 de Julho, os trabalhadores apontaram o dedo aos negócios imobiliários e ao “absoluto vazio gerado pela ditadura financeira”, que responsabilizaram pelo encerramento da livraria centenária. No mesmo manifesto, os trabalhadores chamaram à atenção para a “destruição dos espaços culturais emblemáticos, por fatal ‘mudança de ramo’, vítimas da especulação dos arrendamentos, expulsas pela investida tornada ‘natural’ das lojas e luxo, [que] encerram portas num abrir-e-fechar de olhos”.

Autarquia tenta salvar "memórias"
A 24 de Julho, a Câmara de Lisboa aprovou por unanimidade uma moção apresentada pela vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, para a classificação da Livraria Sá da Costa como imóvel de interesse público. “A Câmara de Lisboa entende que a livraria tem um alto valor patrimonial e cultural, pelas memórias e pelas manifestações culturais que lá se realizaram, e insere-se numa zona classificada de interesse público. O que pretendemos é pedir à Direcção Geral do Património para iniciar o processo de classificação da livraria, não obstante todo o conjunto já estar classificado”, explicou na altura a vereadora.

Por seu lado, o vice-presidente da Câmara, Manuel Salgado, disse que o “ideal era conseguir que a actividade de livraria fosse assegurada no espaço”, mas afirmou que a autarquia não tem “instrumentos que permitam garantir que o uso não seja alterado”. Citou todavia o exemplo da Ourivesaria Aliança, na mesma rua, em que foi mantida alguma similaridade do ramo comercial.

Susana Pires voltou hoje a alertar para a necessária defesa do património edificado e o interior da livraria. Para esta ex-funcionária, importa preservar "o baixo-relevo com o logotipo da livraria no umbral da porta, o lettering, assim como os tectos e respectivos candeeiros, e o mobiliário interior, que são peças únicas”.

O futuro do espaço, que foi frequentado por António Sérgio, Orlando Ribeiro, Vitorino Magalhães Godinho, Hernâni Cidade e outras personalidades da cultura portuguesa, “continua incerto”, disse.

A Livraria Sá da Costa foi posta à venda em 2010, sem sucesso, no Portal das Finanças, com uma base de licitação de 175.000 euros e, em 2011, o tribunal decretou a venda judicial pelo mínimo de 415.498 euros, mediante proposta em carta fechada. Apesar de terem sido recebidas duas propostas, a venda da livraria não foi avante.