Sector da resina ameaçado por crescimento da indústria na China e Brasil

Em três décadas, Portugal passou de segundo maior exportador mundial para segundo maior importador de resina.

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Paulo Ricca

“O receio é a grande dependência do mercado de importação, que pode levar à morte da própria indústria de transformação”, disse à Lusa António Salgueiro, da comissão fundadora da primeira associação do sector, ResiPinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina.

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“O receio é a grande dependência do mercado de importação, que pode levar à morte da própria indústria de transformação”, disse à Lusa António Salgueiro, da comissão fundadora da primeira associação do sector, ResiPinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina.

China e Brasil são os principais concorrentes de Portugal na extracção de resina, mas estes países estão “a preparar-se cada vez mais para trabalhar” o produto, industrializando-se para tal, o que a associação encara como uma ameaça ao sector.

“Pode comprometer a médio prazo a sobrevivência desta indústria”, que representa uma extracção anual de seis mil toneladas/ano, ocupando cerca de 600 profissionais, referiu António Salgueiro.

Há cerca de três décadas, a produção situava-se nas 140 mil toneladas, mas a concorrência da China, que fez baixar o preço da resina, e o abandono do sector primário fizeram decair o sector. Portugal passou de segundo maior exportador mundial para segundo maior importador de resina.

A segunda indústria associada à resina, que implica a produção de derivados, como gomas, pastilhas, elásticos, perfumes ou cremes, ainda “é das mais importantes” da Europa, enquanto a primeira indústria, de limpeza da resina, está hoje “completamente dependente” das importações e “muita fechou”.

Uma das características da extracção da resina é ser uma actividade que se desenvolve ao longo de nove meses, sendo o pico o verão, quando as temperaturas mais elevadas fazem aumentar a produção de resina.

A associação propõe que os trabalhadores do sector possam ter outras funções, nomeadamente ao nível da gestão florestal, de forma a garantir uma ocupação permanente.

Por outro lado, os exploradores de resina reclamam apoios do Governo para a criação de emprego e a aposta na investigação e desenvolvimento do sector.

“Não tem sido prestada qualquer atenção ao sector. Até ao final dos anos 80 havia em Portugal um instituto específico para a resina”, lamentou António Salgueiro.

O representante dos profissionais da resinagem afirma que se tem verificado uma nova atenção sobre o sector nos últimos anos, em particular no sul da Europa, até por causa das indústrias ecológicas.

O principal concorrente da resina são os derivados do petróleo, uma opção ambientalmente mais prejudicial, enquanto a resina contribui para a “sustentabilidade das florestas”.