Centenas de milhares em protesto contra derrocada mortal no Bangladesh

Muitos tentaram invadir fábricas em protesto contra o desabamento de um edifício que matou 300 pessoas. Busca por sobreviventes continua.

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A derrocada foi considerada o pior acidente industrial num país onde estes incidentes são demasiado comuns. No prédio ilegal de oito andares, situado em Dacca, funcionavam várias fábricas, nomeadamente da Mango e Primark, e o incidente relançou o debate no país sobre a falta de segurança e de condições de trabalho na indústria, a principal fonte de rendimento no Bangladesh.

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A derrocada foi considerada o pior acidente industrial num país onde estes incidentes são demasiado comuns. No prédio ilegal de oito andares, situado em Dacca, funcionavam várias fábricas, nomeadamente da Mango e Primark, e o incidente relançou o debate no país sobre a falta de segurança e de condições de trabalho na indústria, a principal fonte de rendimento no Bangladesh.

Milhares de manifestantes saíram às ruas e destruíram carros e invadiram fábricas, obrigando as autoridades policiais a disparar gás lacrimogéneo e balas de borracha. “A situação é muito instável. Centenas de milhares de trabalhadores juntaram-se aos protestos.”, disse à AFP Mohammad Asaduzzaman, um dos responsáveis da polícia daquela localidade.

De acordo com a mesma fonte, os trabalhadores atacaram fábricas, carros, queimaram pneus e deixaram um rasto de destruição por onde passaram. O agente explicou que os manifestantes querem que os proprietários do edifício que caiu sejam detidos e condenados. O primeiro-ministro do país já garantiu que o dono do edifício, que fugiu, será apanhado e condenado.

Um canal de televisão local noticiou que os protestos se propagaram a vários bairros da capital, incluindo Mirpur, onde estão instaladas dezenas de fábricas de vestuário.

Mais resgatados com vida
Ao mesmo tempo que decorrem os protestos, as operações de salvamento em busca de sobreviventes debaixo dos escombros continuam. As equipas já conseguiram resgatar mais de 40 pessoas com vida só nesta sexta-feira, segundo disse à mesma agência um responsável dos bombeiros, Ahmed Ali. Foram detectadas outras 20 a 25 pessoas supostamente vivas, mas as equipas no local ainda não conseguiram abrir caminho para as resgatar.

O Rana Plaza, onde funcionavam as duas fábricas de vestuário, um banco e lojas, num total de cerca de 3000 trabalhadores, caiu como um castelo de cartas na quarta-feira. O último balanço indica que o número de vítimas mortais ascende quase a 300.

As primeiras fissuras no edifício tinham sido vistas terça-feira, provocando pânico entre os trabalhadores, que saíram a correr. Dez deles sofreram ferimentos na debandada. Um perito chamado a verificar o estado do edifício nesse dia contou que nem acabou a avaliação porque a derrocada estava iminente. Mas o chefe da polícia local disse à Reuters que os proprietários das fábricas de vestuário e dos outros estabelecimentos terão ignorado o aviso. O Ministério do Interior do Bangladesh informou que o Rana Plaza foi construído em violação das regras urbanísticas.

O colapso de edifícios no Bangladesh é bastante comum, o que será explicado pelo facto de as normas de segurança em matéria de construção raramente serem aplicadas. Tem também uma das maiores indústrias de vestuário do mundo, graças aos preços conseguidos à custa de mão-de-obra barata.

O balanço dos últimos anos é trágico. Em 2005, pelo menos 70 pessoas morreram na derrocada de uma fábrica têxtil nos arredores de Dacca. Em 2010, um edifício de quatro andares desmoronou-se matando pelo menos 25 pessoas. Em Novembro de 2012, 13 pessoas morreram na queda de uma ponte em construção em Chittagong, e 100 morreram num incêndio numa fábrica de vestuário em Dacca.