Jean-Claude Juncker: os demónios da Europa "estão apenas adormecidos"

O primeiro-ministro do Luxemburgo aponta episódios recentes que deixaram "feridas profundas" entre alguns Estados e lamenta o regresso a uma lógica mais nacional e menos europeia

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Jean-Claude Juncker quando esteve em Portugal em 2011 Enric Vives-Rubio

Juncker enumera exemplos de recentes episódios que deixaram “feridas profundas” ou que o chocaram: a forma como alguns políticos alemães atacaram a Grécia quando o país entrou em crise e os cartazes em protestos de rua em Atenas mostrando Angela Merkel de uniforme nazi. “Sentimentos que pensávamos estar, enfim, relegados para o passado vieram à superfície”, diz Juncker.

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Juncker enumera exemplos de recentes episódios que deixaram “feridas profundas” ou que o chocaram: a forma como alguns políticos alemães atacaram a Grécia quando o país entrou em crise e os cartazes em protestos de rua em Atenas mostrando Angela Merkel de uniforme nazi. “Sentimentos que pensávamos estar, enfim, relegados para o passado vieram à superfície”, diz Juncker.

Concorda que ninguém duvida seriamente que existe paz e amizade na Europa mas também avisa: “Quem pensar que a eterna questão da guerra e da paz na Europa é uma questão que desapareceu para sempre, pode estar muito enganado.”

Juncker encontra hoje a mesma “complacência” baseada na “ideia de que a paz está garantida para sempre” que existia há 100 anos, em vésperas da I Guerra Mundial. "Arrepia-me ver como são semelhantes as circunstâncias da Europa em 2013 e as de há 100 anos."

“Em 1913, muitas pessoas acreditavam que nunca mais haveria uma guerra na Europa. As grandes potências do continente tinham fortes ligações económicas e a convicção geral era a de que simplesmente não podiam permitir-se entrar em conflitos militares.” O ex-líder do Eurogrupo diz que a razão de ser da “união monetária sempre foi consolidar a paz”. Mas lamenta ver hoje como “demasiados europeus estão a voltar a um espírito regional ou nacional”.

Europa em perda no mundo
Por outro lado, sobre a perda de influência de uma Europa em crise, considera que apenas “unida” a Europa poderá continuar a contar para o mundo. Os sinais são vários: em meados deste século, a Europa só terá 7% da população mundial e, já hoje, mais de 80% do crescimento económico é referente as outras regiões do globo, diz Juncker.

“Uma Europa unida é a única hipótese de o nosso continente não ser excluído do radar do mundo”, diz. E acrescenta: “Os chefes do Governo da Alemanha, França e Reino Unido também sabem que a sua voz só é ouvida internacionalmente porque falam através do megafone da União Europeia.”

Aos 58 anos, aquele que foi uma espécie de "presidente informal da união monetária europeia”, não revela a ambição de chegar a um outro lugar de na União Europeia, mas diz excluir a hipótese de suceder a Herman Van Rompuy no cargo de presidente do Conselho Europeu.

Tem a certeza absoluta sobre isso porque diz que, para ele, não faria sentido assumir um cargo que poderia ter assumido em 2009, quando vários chefes de Estado e de Governo o abordaram para o fazer mas “aparentemente algumas pessoas” não o quiseram. A chanceler alemã Angela Merkel? O então Presidente francês Nicolas Sarkozy? Nesta questão em particular, Jean-Claude Juncker não respondeu ao jornalista da Der Spiegel.