Sobrinho Simões avisa que “cortes cegos” podem matar investigação nacional

O director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular do Porto (Ipatimup) disse hoje que “a frágil formação superior dos políticos” e os cortes financeiros impostos pela troika são um “cocktail perigoso” para a investigação nacional.

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Sobrinho Simões diz que tanto PS como PSD "vivem muito um universo fechado, pouco sensível à investigação e produção científica" Manuel Roberto (arquivo)

“Os nossos políticos têm um problema. Muitos deles tem uma formação superior muito frágil e não se apercebem do valor do ensino superior e da investigação. São vítimas da sua própria fraqueza. Por outro lado temos os ciclos eleitorais e, se juntarmos a isto a troika, temos um cocktail perigoso”, afirmou Sobrinho Simões. Acresce que, para o investigador, “psicologicamente esta é uma mensagem errada”.

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“Os nossos políticos têm um problema. Muitos deles tem uma formação superior muito frágil e não se apercebem do valor do ensino superior e da investigação. São vítimas da sua própria fraqueza. Por outro lado temos os ciclos eleitorais e, se juntarmos a isto a troika, temos um cocktail perigoso”, afirmou Sobrinho Simões. Acresce que, para o investigador, “psicologicamente esta é uma mensagem errada”.

“O Estado pensa que pode haver ensino superior e investigação sem instituições. Não pode. Há uma ideologia, que não sei se é propositada ou se é incapacidade ou incompetência, de que é possível os génios florescerem em qualquer sítio, mesmo que não haja condições. Não há”, sublinhou. “Não é preciso fazer um mestrado para perceber isto”, ironizou. O director do Ipatimup alerta que a “incompetência” e a “pouca sensibilidade” é transversal aos dois partidos que alternam no poder.

“Não posso estar a preparar pessoas para responder ao ciclo eleitoral do PSD ou do PS. Nesse aspecto são os dois muito parecidos: vivem muito um universo fechado, pouco sensível à investigação e produção científica, porque a única preocupação é assegurar a sua reeleição ou a dos amigos ou dos correligionários”, criticou.

O que o director esperava do Governo era que “avaliasse as instituições e seleccionasse as melhores que seriam recompensadas e consolidadas”, ao mesmo tempo que “fizesse a diminuição de actividade e fecho das piores”.

O Ipatimup soube recentemente que a verba de 1,2 milhões de euros atribuída em 2012 passaria, “na melhor das hipóteses, para 920 mil euros, ou seja, um sexto ou um sétimo do orçamento de seis milhões de euros”. “Estamos afogados no nosso próprio sucesso. No limite não devíamos estar a fazer nenhum doutorado... Pois se não há possibilidade de eles terem uma solução profissional em Portugal...”, observou.

Assegurando que o Ipatimup está “muitíssimo bem”, tanto na parte científica como financeira (são esperados resultados positivos no fecho das contas de 2012), o responsável sustenta que “o problema é quanto mais tempo” pode o instituto “continuar bem se continuar a haver um desinvestimento do Estado nas instituições de ensino superior e de investigação”. “Temos vindo a emagrecer, mas se continuarmos neste processo qualquer dia morremos”, avisou.