39 Ticianos para ver até Junho em Roma

Abriu na Escuderia do Quirinal uma mostra cronológica da pintura deste nome maior do Renascimento, que soube associar a pesquisa com a inovação.

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“É uma exposição pensada para concluir da melhor forma o ambicioso projecto de releitura da pintura veneziana e de reflectir sobre o papel fundamental que ela teve na renovação da cultura italiana e europeia”, escreve Giovanni C. F. Villa, no texto de apresentação da exposição de que é comissário, lembrando as mostras anteriormente dedicadas aos dois artistas atrás citados, e também a Antonello de Messina e Lorenzo Lotto.

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“É uma exposição pensada para concluir da melhor forma o ambicioso projecto de releitura da pintura veneziana e de reflectir sobre o papel fundamental que ela teve na renovação da cultura italiana e europeia”, escreve Giovanni C. F. Villa, no texto de apresentação da exposição de que é comissário, lembrando as mostras anteriormente dedicadas aos dois artistas atrás citados, e também a Antonello de Messina e Lorenzo Lotto.

Com um roteiro que no essencial segue cronologicamente a criação deste artista que viveu quase um século, a exposição reúne 39 obras provenientes dos principais museus (e igrejas) italianos, mas também das colecções do Prado (Madrid) e do Louvre (Paris), da National Gallery (Londres) e do Museu da História de Arte de Viena, entre outros.

Ticiano – é este o título da exposição – abre com duas obras da maturidade do pintor: Auto-retrato (1565-66; Museu do Prado) e O Martírio de São Lourenço (1547-59; Igreja dos Jesuítas de Veneza). O primeiro é um exercício de contenção da cor, com o negro a dominar a imagem do velho pintor; já a evocação do santo dos primeiros tempos do cristianismo, nascido em Espanha e sacrificado aos pés do imperador romano, é vista como um momento inovador de estudo e utilização da luz no percurso criativo de Ticiano.

Antes de chegar ao quadro mitológico A Punição de Marsia (1570-76; Museu de Arte do Castelo de Kromeriz, Olomouc, República Checa), que encerra o percurso da exposição, o visitante viaja pelas obras dos anos da juventude – como as várias versões de Madona com o menino (1507 a 1514), ou Orfeu e Eurídice (1512) –, e sucessivamente por outros trabalhos dedicados a temas míticos e religiosos (O Concerto, Bela, Flora, Danae, Salomé, mas também as variadas figurações de Cristo e da Crucifixação) e, finalmente, os retratos de personagens da corte (com destaque para Carlos V e Filipe II, que se tornaram mecenas do pintor).

“Década a década, a totalidade da carreira de Ticiano está representada ao mais alto nível sublinhando o sentido magistral da cor e a evolução de uma pincelada capaz de ultrapassar os limites do imaginário da pintura da sua época”, nota Giovanni C. F. Villa, que no seu texto recorda a afirmação do artista e teórico da pintura contemporâneo de Ticiano, Ludovico Dolce (c. 1508-1568), que, ao referir-se à obra do veneziano, o associou – seguindo a tradução da AFP – “à grandeza e ao lado terrível de Miguel Ângelo e à graça e elegância de Rafael e das cores próprias da natureza”.

Nascido no final da década de 1480 numa localidade no sopé dos Alpes italianos, numa família de jurisconsultos, Ticiano Vecelli foi viver, ainda criança, para Veneza, onde cedo foi iniciado na técnica e na arte da pintura. Giorgione de Castelfranco (c. 1477-c.1576) e Giovanni Bellini (c. 1430-c.-1516) foram os seus grandes mestres.

Ticiano começa a afirmar a sua arte na segunda década de 1500, altura em que se torna notado pela Assunção da Virgem (1516/18), retábulo que realizou para o altar-mor da Igreja de Frari, em Veneza. A temática religiosa domina a primeira parte da sua obra, mesmo que permaneça ao longo da sua produção em alternância com a mitologia e os retratos que dedica à nobreza veneziana e não só.

Os críticos e historiadores de arte vêem em Ticiano não apenas um dos grandes nomes do Renascimento italiano, mas também alguém que, em certos aspectos e nomeadamente no estudo da cor e das suas modulações, de algum modo antecipou o impressionismo.