China muda de líderes e aposta no consumo interno

Começou em Pequim a sesão anual do Parlamento chinês. Este ano, há mudança de líderes.

Foto
Mais de 3000 delegados de todo o país vêm à reunião anual do Parlamento chinês AFP

Foi o último discurso de Wen. Na sessão anual do Parlamento chinês que começou esta terça-feira em Pequim, haverá mudança de líderes, subindo ao palco os que vão dirigir a China nos próximos dez anos: Xi Jinping como Presidente e  Li Keqiang como primeiro-ministro.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Foi o último discurso de Wen. Na sessão anual do Parlamento chinês que começou esta terça-feira em Pequim, haverá mudança de líderes, subindo ao palco os que vão dirigir a China nos próximos dez anos: Xi Jinping como Presidente e  Li Keqiang como primeiro-ministro.

A palavra chave para o futuro, disse Wen Jiabao, é o "aumento" do consumo interno. Esta, disse, é a "estratégia de longo prazo para o desenvolvimento económico".

O discurso de Wen teve claramente duas partes. E, segundo os analistas ouvidos pela BBC, foi seguramente escrito em parceria por representantes de dois grupos distintos, os que saem e os que entram. Por isso, as palavras do primeiro-ministro cessante não foram uma ousadia: Xi e Li, os homens que terão de transformar em políticas as promessas de Wen Jiabao, conheciam-nas; talvez até tenham ajudado a escrevê-las.

Wen fez, na primeira parte dos discurso, o balanço dos últimos cinco anos de governação. Apresentou muitas estatísticas, lançou números para a assistência - mais de três mil delegados de todo o país, a maior parte deles membros do Partido Comunista Chinês, que se juntam em Pequim todos os anos durante duas semanas. Por exemplo: foram construídos 31 aeroportos e 602 estaleiros navais, onde foram feitos navios de dez toneladas.

Na blogosfera chinesa (micro-blogues), o discurso foi muito comentado, tendo quase todos os comentadores concordado que Wen passou 50 minutos a falar do passado e três minutos a ler a lista de problemas do país.

Entre essas promessas está a garantia de que a economia chinesa continuará a crescer a um ritmo constante de 7,5% ao ano, que a taxa de inflacção não passará dos 3,5%, que serão criados nove milhões de novos postos de trabalho "urbanos", entre quatro a seis milhões de habitações socias e que as pensões mais baixas serão aumentadas 10%.

Esta é a receita que Wen - e Xi - querem aplicar num país onde o descontentamento social (e a desigualdade social) são os principais problemas. O Estado, prometeu Wen (ou desejou), dará maior protecção aos cidadãos.

“Temos de melhorar a vida das pessoas e fazer desta premissa o ponto de partida para o trabalho do governo, dando toda a prioridade ao desenvolvimento social”, disse Wen. O primeiro-ministro cessante também abordou os temas da corrupção (os próximos dirigentes serão menos permissivos com este tipo de crime) e do Ambiente: "O estado do meio ambiente, a ecologia, também afecta o nível de bem estar das pessoas, assim como o futuro da nossa nação”.

A reunião anual do Parlamento de Pequim terminará (dura duas semanas, mas não foi ainda divulgado qual é o último dia) com a confirmação de Xi Jiping como líder do Partido e do país - cargos para os quais já fora eleito, no final do ano passado, pelo Congresso do PCC. Quando for a sua vez de discursar, espera-se que Xi dê mais pormenores sobre a forma como vai governar.

Uma certeza, porém, é que os próximos dez anos terão que ter uma abordagem diferente ao consumo se a China quiser manter o crescimento económico da última década, perante a ameaça de decréscimo.
 

Wen deixou também no ar a possibilidade de se assistir a uma subida de tom nacionalista, ao falar "da absoluta aposta na defesa da soberania chinesa e a sua integridade territorial". Uma referência às disputas de ilhas no Mar da China com países tão dievrsos como o Japão, o Vietname ou as Filipinas, sendo que este ano, e pela primeir avez na História moderna do país, Pequim divulgou o seu orçamento militar, que prevê um aumento substancial dos gastos em 2013.