Protestar e pôr o país a cantar a Grândola nas ruas

Movimento Que se Lixe a Troika convocou onda de protestos com a ambição de superar o 15 de Setembro. Às 18h canta-se a música de Zeca Afonso, símbolo de Abril.

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Precários Inflexíveis ensaiam apresentação de número de desempregados em frente ao Parlamento Nuno Ferreira Santos

Em Lisboa, todos os caminhos vão dar ao Terreiro do Paço. Cinco "marés" com cidadãos de vários sectores profissionais vão rumar ao Marquês de Pombal para gritar que "o povo é quem mais ordena". Mas não só: o protesto foi convocado para 31 cidades de norte a sul, e os manifestantes irão sair à rua também em cidades estrangeiras. Paris, Boston e Madrid são algumas das sete cidades que responderam ao apelo do movimento Que se Lixe a Troika e já confirmaram a sua participação.

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Em Lisboa, todos os caminhos vão dar ao Terreiro do Paço. Cinco "marés" com cidadãos de vários sectores profissionais vão rumar ao Marquês de Pombal para gritar que "o povo é quem mais ordena". Mas não só: o protesto foi convocado para 31 cidades de norte a sul, e os manifestantes irão sair à rua também em cidades estrangeiras. Paris, Boston e Madrid são algumas das sete cidades que responderam ao apelo do movimento Que se Lixe a Troika e já confirmaram a sua participação.

Tudo começou há quatro meses, numa reunião do movimento Que se Lixe a Troika, e nada foi deixado ao acaso. Ana Carla Gonçalves, uma das organizadoras, assegurou que o dia foi escolhido para coincidir com a sétima avaliação da troika. "Quando marcámos a data, já sabíamos que a troikaestaria em Portugal". Ana Carla Gonçalves não é estreante nestas andanças. Esteve também nos bastidores da manifestação de 15 de Setembro do ano passado, que começou na Praça José Fontana e terminou na Praça de Espanha, apesar de alguns cidadãos terem seguido para a Assembleia da República (AR). A activista revelou que o movimento escolheu a Praça do Comércio por ser "sede de muitos ministérios", incluindo o das Finanças, quartel-general da troika em Portugal.

Questionada sobre o porquê de a manifestação não culminar no Parlamento, Ana Carla Gonçalves argumentou que o movimento "não quis propositadamente convocar uma manifestação para São Bento porque é um local geograficamente muito perigoso". Recorde-se que, desde o protesto da greve geral de 14 de Novembro - onde se deu uma carga policial sobre os manifestantes, já depois da manifestação sindical - nunca foi marcado um grande protesto para o local. "É um sítio armadilhado", sustenta a activista, sublinhando que querem evitar que "aconteça algo terrível". "Para nós, a manifestação termina no Terreiro do Paço", vincou.

O objectivo do protesto é "fragilizar o Governo". Uma meta que está também nos planos de outros movimentos cívicos. Ana Rajado, do Movimento Sem Emprego (MSE), vê a manifestação como uma oportunidade para contrariar a "situação assustadora em que Portugal se encontra". De acordo com Tiago Gillot, da Associação Contra a Precariedade - Precários Inflexíveis, trata-se de um "momento crítico que necessita de uma resposta popular". "Austeridade é um bocadinho contra a humanidade" foi a frase escolhida por João Labrincha, do Movimento 12 de Março (M12M) para transmitir a sua contestação.

E porque, segundo a organização, será uma manifestação do "povo que mais ordena", circula nas redes sociais um pedido para que seja cantada Grândola, Vila Morena às 18h em todos os locais nacionais e internacionais onde se realiza o protesto. Mesmo que o apelo se concretize, essa não será a única marca que Zeca Afonso deixará, já que a Associação José Afonso vai participar na manifestação. Ao lado do Que se Lixe a Troika estão também militares e a CGTP-In. "Vamos dar as mãos para que se crie uma política que sirva o país", referiu Deolinda Machado, da comissão executiva da confederação. A sindicalista considera que "é de extrema importância" lutar contra os "números assustadores que têm sido divulgados". O secretário-geral da CGTP-In estará em Lisboa, mas "cada pessoa participa no local onde se encontra", assegurou Deolinda Machado. Já a União Geral de Trabalhadores (UGT) decidiu não se associar à manifestação. O PÚBLICO tentou contactá-la, mas não obteve resposta.

 

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