Peixe-zebra, VIH e bactéria que dá energia valem prémios a três mulheres

Investigadoras ganharam as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. Os 20 mil euros do prémio vão para trabalhos que podem ter influência na medicina e nas energias renováveis.

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Ana Ribeiro, Leonor Morgado e Ana Abecasis (da esquerda para a direita) DR

Por este projecto, a investigadora de 32 anos recebe nesta quarta-feira uma das três Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, entregues às 17h30 no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Ao seu lado estará Ana Abecasis, que vai avaliar as mutações do vírus da sida que resistem aos fármacos. Esta cientista de 33 anos quer definir terapias mais apropriadas consoante os vírus em cada pessoa. Leonor Morgado, a terceira vencedora da nona edição do prémio, tem estudado proteínas importantes de uma bactéria que dá electricidade e agora vai tentar alterar a sua maquinaria celular para melhorar o rendimento.

Cada investigadora receberá 20 mil euros. O prémio é uma parceria entre a L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pretende incentivar jovens investigadoras a realizarem projectos na área da saúde e do ambiente. O júri, presidido por Alexandre Quintanilha, escolheu entre 70 candidaturas.

Ana Ribeiro está interessada na forma como funcionam as células estaminais adultas, capazes de se diferenciarem noutras. Em laboratório, aquelas células dos mamíferos conseguem dar origem a várias células do tecido nervoso, como neurónios, astrócitos e oligodendrócitos.

Mas quando há uma lesão na espinal medula origina uma paralisia, as células estaminais adultas dos mamíferos só se diferenciam em astrócitos. “Já as do peixe-zebra conseguem gerar todas as outras. A nossa ideia é caracterizar o processo que acontece na medula do peixe”, explica Ana Ribeiro, do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa.

Para isso, vai criar peixes transgénicos, onde se pode detectar a diferenciação das células estaminais adultas nos vários tipos de células nervosas. Assim, poderá compreender os mecanismos ocorridos no peixe, mas não nos mamíferos. “O prémio reconhece o potencial do projecto e ajuda à sua manutenção.”

Já para Leonor Morgado, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a medalha representa “o reconhecimento do trabalho” que tem feito. No doutoramento, já tinha estudado proteínas da respiração celular da Geobacter sulfurreducens, uma bactéria que vive em sedimentos onde não há oxigénio. Nesse processo, esta bactéria lança para o exterior electrões, que podem ligar-se a materiais perigosos — e assim ajudar a removê-los do ambiente — ou podem ser usados para gerar corrente eléctrica.

“No laboratório, [esta bactéria] consegue pôr calculadoras a funcionar”, conta Leonor Morgado. A ideia do projecto é alterar o funcionamento das proteínas envolvidas na respiração celular para optimizar a corrente eléctrica. “Submeti este projecto à FCT e não foi aprovado. Se não fosse o prémio, não poderia avançar com ele.”

Também Ana Abecasis, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, se candidatou sem sucesso a fundos da FCT para estudar as mutações do vírus da sida. “O prémio dá uma enorme ajuda. Estou muito contente.” Agora vai poder comprar servidores para gerir muitos dados e que permitam identificar mutações importantes.

O VIH tem um material genético que tolera muitas mutações, que permitem ao vírus resistir aos fármacos antirretrovirais. Mas quando o vírus é transmitido a um novo hospedeiro que não está em tratamento, uma parte das mutações reverte e não se mantém nos hospedeiros. Mas outra parte fixa-se.

Um estudo de 2007 em Portugal concluiu que 8% dos novos infectados têm estirpes resistentes aos antirretrovirais. Ana Abecasis analisará as mutações do VIH em pessoas infectadas para identificar as que se mantiveram. Os resultados possibilitarão escolher os melhores fármacos para evitar essas resistências.
 
 
 
 

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Por este projecto, a investigadora de 32 anos recebe nesta quarta-feira uma das três Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, entregues às 17h30 no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Ao seu lado estará Ana Abecasis, que vai avaliar as mutações do vírus da sida que resistem aos fármacos. Esta cientista de 33 anos quer definir terapias mais apropriadas consoante os vírus em cada pessoa. Leonor Morgado, a terceira vencedora da nona edição do prémio, tem estudado proteínas importantes de uma bactéria que dá electricidade e agora vai tentar alterar a sua maquinaria celular para melhorar o rendimento.

Cada investigadora receberá 20 mil euros. O prémio é uma parceria entre a L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pretende incentivar jovens investigadoras a realizarem projectos na área da saúde e do ambiente. O júri, presidido por Alexandre Quintanilha, escolheu entre 70 candidaturas.

Ana Ribeiro está interessada na forma como funcionam as células estaminais adultas, capazes de se diferenciarem noutras. Em laboratório, aquelas células dos mamíferos conseguem dar origem a várias células do tecido nervoso, como neurónios, astrócitos e oligodendrócitos.

Mas quando há uma lesão na espinal medula origina uma paralisia, as células estaminais adultas dos mamíferos só se diferenciam em astrócitos. “Já as do peixe-zebra conseguem gerar todas as outras. A nossa ideia é caracterizar o processo que acontece na medula do peixe”, explica Ana Ribeiro, do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa.

Para isso, vai criar peixes transgénicos, onde se pode detectar a diferenciação das células estaminais adultas nos vários tipos de células nervosas. Assim, poderá compreender os mecanismos ocorridos no peixe, mas não nos mamíferos. “O prémio reconhece o potencial do projecto e ajuda à sua manutenção.”

Já para Leonor Morgado, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a medalha representa “o reconhecimento do trabalho” que tem feito. No doutoramento, já tinha estudado proteínas da respiração celular da Geobacter sulfurreducens, uma bactéria que vive em sedimentos onde não há oxigénio. Nesse processo, esta bactéria lança para o exterior electrões, que podem ligar-se a materiais perigosos — e assim ajudar a removê-los do ambiente — ou podem ser usados para gerar corrente eléctrica.

“No laboratório, [esta bactéria] consegue pôr calculadoras a funcionar”, conta Leonor Morgado. A ideia do projecto é alterar o funcionamento das proteínas envolvidas na respiração celular para optimizar a corrente eléctrica. “Submeti este projecto à FCT e não foi aprovado. Se não fosse o prémio, não poderia avançar com ele.”

Também Ana Abecasis, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, se candidatou sem sucesso a fundos da FCT para estudar as mutações do vírus da sida. “O prémio dá uma enorme ajuda. Estou muito contente.” Agora vai poder comprar servidores para gerir muitos dados e que permitam identificar mutações importantes.

O VIH tem um material genético que tolera muitas mutações, que permitem ao vírus resistir aos fármacos antirretrovirais. Mas quando o vírus é transmitido a um novo hospedeiro que não está em tratamento, uma parte das mutações reverte e não se mantém nos hospedeiros. Mas outra parte fixa-se.

Um estudo de 2007 em Portugal concluiu que 8% dos novos infectados têm estirpes resistentes aos antirretrovirais. Ana Abecasis analisará as mutações do VIH em pessoas infectadas para identificar as que se mantiveram. Os resultados possibilitarão escolher os melhores fármacos para evitar essas resistências.