Os vários danos do escândalo do adiamento do aeroporto de Berlim

Quarto adiamento do aeroporto vem com factura milionária, mina credibilidade política do presidente da câmara de Berlim e dá forte machadada na imagem da eficiente Alemanha.

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Aeroporto de Brandemburgo: o sinal diz "por favor, esperar" Odd Andersen/AFP

Sim, o aeroporto devia ter começado a funcionar em Outubro de 2011. Em 2012, foi anunciado que o prazo previsto, Junho desse ano, não seria cumprido, e que o aeroporto abriria sim as portas em Outubro de 2013. Mas ainda não foi desta. O custo já subiu para uns estimados 4,3 mil milhões de euros quando inicialmente se pensava ser de 3,2 mil milhões. E não é claro que compensações haverá a pagar a companhias aéreas que investiram tendo como base a abertura do aeroporto - diz-se que a AirBerlin foi fortemente afectada; a portuguesa TAP também inaugurou o ano passado um voo Lisboa-Berlim que deveria ter como destino o novo aeroporto.

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Sim, o aeroporto devia ter começado a funcionar em Outubro de 2011. Em 2012, foi anunciado que o prazo previsto, Junho desse ano, não seria cumprido, e que o aeroporto abriria sim as portas em Outubro de 2013. Mas ainda não foi desta. O custo já subiu para uns estimados 4,3 mil milhões de euros quando inicialmente se pensava ser de 3,2 mil milhões. E não é claro que compensações haverá a pagar a companhias aéreas que investiram tendo como base a abertura do aeroporto - diz-se que a AirBerlin foi fortemente afectada; a portuguesa TAP também inaugurou o ano passado um voo Lisboa-Berlim que deveria ter como destino o novo aeroporto.

Já há peritos a dizer que quando abrir o novo aeroporto irá funcionar em plena capacidade, o que não é bom, e há quem peça que seja esquecido tudo o que foi feito até agora e que se recomece uma obra do zero.

Ambições políticas mumificadas
As consequências políticas imediatas não foram muitas: Klaus Wowerteit, o presidente da Câmara da capital (e do estado-federado que é Berlim) demitiu-se do cargo de presidente da sociedade encarregada pelo aeroporto, que foi assumido agora por Matthias Platzeck, líder do estado de Brandemburgo, onde está o novo aeroporto, e que era o “número dois” de Wowereit na sociedade.

Platzeck, um social-democrata que governa o seu estado-federado em coligação com o partido Die Linke, anunciou que vai pedir ao parlamento do estado um voto de confiança. Ao mesmo tempo, o Partido Pirata e os Verdes querem um voto semelhante no parlamento do estado de Berlim, que deverá ser votado este sábado e que Wowereit deverá conseguir passar com o apoio dos seus parceiros de coligação, a CDU.

A consequência a mais longo prazo é, como diz a revista britânica Economist, a mumificação das (grandes) expectativas políticas de Wowereit, uma figura colorida num partido social democrata algo cinzento, depois da sua obra faraónica. Wowereit deverá sobreviver à moção de desconfiança proposta no parlamento berlinense. A nível nacional, o SPD passa um mau bocado, com última sondagem publicada esta sexta-feira a mostrar que o actual líder, Peer Steibrück, tem uma popularidade de apenas 36% contra os imbatíveis 65% de Merkel, e que um em cada quatro eleitores do SPD gostariam mesmo de ter um novo candidato para as eleições legislativas de Setembro.

O que aconteceu à eficiência alemã?
Mas o fiasco não afecta só os políticos. É a imagem da Alemanha enquanto supra-sumo da eficiência que está em causa. O país tem visto uma série de problemas em grandes obras: a nova ópera de Hamburgo, o projecto de estação de ferroviária Estugarda 21, a sede da agência de espionagem. E o ponto forte do país enquanto potência exportadora, nota a Reuters, é justamente a imagem de excelência em engenharia. Os atrasos nestes projectos que seriam jóias da coroa das respectivas cidades coloca esta imagem em causa.

O que é que aconteceu à Alemanha? A pergunta é feita pela própria imprensa alemã, que apesar de ver Berlim como um caso especial (é, afinal, a menos alemã das cidades) nota as derrapagens em tempo e orçamento de outras grandes obras. A revista Der Spiegel falou com um especialista da Universidade de Oxford, Bent Flyvberg, que analisou as últimas grandes obras na Alemanha e no mundo e descobriu que custam, em média, um terço mais do que o inicialmente previsto. O problema é geral e Flyvberg propõe que os decisores contem assim sempre com um custo maior. As autoridades alemãs defendem-se dizendo que em cada projecto o problema que provocou os adiamentos e as subidas de custos foi diferente.