Indústrias ligadas à madeira de pinho ameaçadas por falta de matéria-prima

Incêndios e doenças têm reduzido a área de pinhal, o que ameaça as indústrias dependentes desta madeira.

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Homem andava a cortar lenha para consumo próprio Daniel Rocha

 

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Em entrevista à agência Lusa no âmbito do seminário “Mais e Melhor Pinhal”, que decorre nesta sexta-feira em Cantanhede, João Gonçalves destacou que a iniciativa pretende informar o sector do “potencial desta fileira” e demonstrar que “o pinhal é interessante em termos de rentabilidade e constitui uma alternativa que deve ser considerada”.

Apesar de “optimista” quanto ao futuro, o presidente do Centro Pinus – criado em 1998, pelos maiores consumidores de madeira de pinho, para contribuir para o aumento da produção e qualidade da floresta de pinho – admite que o sector está actualmente ameaçado pelo desaparecimento “a passos largos, quer em área, quer em volume, da madeira disponível”.

Uma situação que, explicou, resulta do efeito conjugado dos incêndios e de questões fitossanitárias, mas, também, de “modelos de incentivo ao investimento não têm sido adequados às necessidades do pinhal”.

“O pinhal está concentrado em pequena propriedade e, até hoje, o produtor florestal do minifúndio não tem conseguido aceder a nenhum dos incentivos porque estes estão desenhados para produtores com escala”, referiu João Gonçalves.

Convicto da rentabilidade do pinhal, o presidente do Centro Pinus destaca ainda a representatividade da indústria da fileira do pinho em toda a fileira florestal: É responsável por 80% dos empregos e 90% das empresas industriais, metade do Valor Acrescentado Bruto (VAB), 34% das exportações da fileira e 3,4% das exportações nacionais.

Em termos absolutos, empregava 62.447 pessoas em 2010 em 11.245 empresas, gerando um VAB de 1.030 milhões de euros e tendo exportado 1.443 milhões de euros em 2011.

Outro dos pontos fortes da fileira é a facilidade de regeneração por semente do pinhal, após um incêndio ou corte final, o que permite “um enorme potencial produtivo, com um investimento muito inferior ao de uma nova plantação”.

Contudo, e apesar de tal implicar “uma intervenção muito simples e de baixo custo”, a realizar a partir do 3.º ano de crescimento e que se designa por ‘limpeza de povoamento’, o processo está “completamente parado”.

“Estimamos que existem para cima de 150 mil hectares de área de pinho em regeneração natural, que só seria preciso conduzir para o transformar em pinhal produtivo, mas mesmo isso está completamente parado”, lamentou João Gonçalves.

Para o responsável, “caberia ao Estado fazer a dinamização deste processo”, já que “áreas muito extensas de povoamento são comunitárias, que estão em regime de co-gestão com o Estado”.

Isto num contexto de contínua diminuição da área de pinhal em Portugal, que tem levado a uma crescente importação de madeira de pinho pela indústria do sector.

Destacando a perda de valor que tal implica, o presidente do Centro Pinus garante que o sector “podia claramente ser auto-suficiente em Portugal, como já o foi no passado”.

“No inventário de 1985 tínhamos mais 1.200 milhões de hectares de pinhal, em 1995 cerca de um milhão e, no inventário de 2005, 885 mil hectares. Agora, fala-se em números ainda não publicados, mas aterradores”, refere.