Durão Barroso promete defender euro como "símbolo da unidade" europeia

Perante as críticas, Comité Nobel justifica a escolha e diz que prémio é merecido e necessário.

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"Que audácia a dos pais fundadores da Europa, ao afirmarem: 'Sim, podemos, podemos acabar com o ciclo interminável da violência, podemos pôr fim à lógica da vingança, podemos construir unidos um futuro melhor.' Que poder o da imaginação", afirmou Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, no discurso de aceitação do prémio que proferiu a meias com Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.

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"Que audácia a dos pais fundadores da Europa, ao afirmarem: 'Sim, podemos, podemos acabar com o ciclo interminável da violência, podemos pôr fim à lógica da vingança, podemos construir unidos um futuro melhor.' Que poder o da imaginação", afirmou Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, no discurso de aceitação do prémio que proferiu a meias com Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.

O Nobel da Paz 2012 recompensa o papel da União Europeia (UE) na transformação de “um continente de guerra num continente de paz” e pelo seu contributo para a democracia e os direitos humanos. Foi anunciado em Outubro como forma de impulsionar uma saída da crise que a UE atravessa. 

Perante uma sala à cunha, onde estavam sentados cerca de um milhar de convidados, e que contou com a presença da maior parte dos chefes de Estado ou de Governo da UE, Van Rompuy considerou que "na política, como na vida, a reconciliação é a parte mais difícil", porque "vai para além do perdão e do esquecimento, ou de um mero virar de página". Embora tivesse reconhecido que a Europa talvez pudesse viver actualmente em paz mesmo sem a UE, Van Rompuy considerou que "não teria sido uma paz com a mesma consistência, uma paz duradoira", mas antes "um cessar-fogo glacial". E mesmo se é "inconcebível", a guerra não se tornou "impossível", sublinhou.

Para Van Rompuy, a UE não pode continuar a depender da promessa de paz para mobilizar os seus cidadãos. Sobretudo no contexto da actual crise económica, em que a prosperidade e o emprego, "pedras angulares das nossas sociedades", estão ameaçados, tornando "natural que os corações endureçam," que os interesses nacionais se sobreponham ao interesse comum, "que se reabram velhas fracturas e reapareçam estereótipos há muito esquecidos". E mesmo se não serão estas dificuldades que farão a Europa retroceder "para as trevas do passado", a verdade é que "o desafio que a Europa está a enfrentar é real", enfatizou, acrescentando: "A presença de tantos líderes europeus nesta cerimónia é bem a prova de uma profunda convicção comum: saíremos juntos desta crise, e saíremos mais fortes" graças à grande capacidade que a UE tem de se "reinventar".

A UE é um "estado de espírito"
Durão Barroso sublinhou por seu lado que a paz só é possível "se as pessoas se sentirem confiantes" e se "se sentirem em paz com o seu sistema político". Invocando Espinosa, Barroso sublinhou que a UE não se limita à paz entre as nações, mas constitui "um estado de espírito, uma disposição para a benevolência, a confiança, a justiça". Na sua opinião, "o génio" dos pais fundadores da UE foi terem percebido que "para garantir a paz no século XX, as nações precisavam de pensar além do Estado-Nação". E, nesse contexto, a "singularidade" do projecto europeu foi ter aliado a "legitimidade dos estados democráticos à legitimidade das instituições supranacionais" que "protegem o interesse geral europeu e encarnam a comunidade de destino" que constitui a UE.

"Enquanto comunidade de nações que ultrapassou a guerra e lutou contra o totalitarismo, estaremos sempre ao lado dos que perseguem a paz e a dignidade humana", afirmou Barroso, lançando um apelo: "A  actual situação na Síria é uma nódoa na consciência do Mundo e o  Mundo e a comunidade internacional têm a obrigação de a solucionar".

Antes dos discursos de Van Rompuy e Durão Barroso, Thorbjorn Jagland, presidente do Comité Nobel, já tinha sublinhado que a integração europeia "não é um dado adquirido". "Temos de lutar por ela todos os dias", afirmou.

A presença de Angela Merkel, chanceler alemã, e François Hollande, Presidente francês, sentados lado a lado na primeira fila dos espectadores, "torna este dia muito simbólico para todos nós", afirmou Jagland, suscitando uma longa ovação na sala. Algumas ausências foram notadas: o primeiro-ministro David Cameron, por exemplo, fez-se representar pelo seu número dois, Nick Clegg.

Importância do euro
Para falar de paz, Durão Barroso evocou aquele que considera ser um símbolo, a manter, da unidade entre os Estados-membros: o euro. "Hoje, um dos símbolos mais visíveis da nossa unidade está nas mãos de todos. É o euro, a moeda da nossa União Europeia. Nós defendê-la-emos”, declarou no momento de receber o prémio, juntamente com os presidentes do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Antes tinha considerado o prémio um “estímulo”, "um aviso” e também “um reconhecimento daquilo que foi feito ao longo destes 60 anos, mas também como um encorajamento para o futuro”. 

"A União Europeia ajudou construir a fraternidade entre nações e a promoção da paz que Alfred Nobel deixou como legado. O Prémio Nobel da Paz é assim merecido e necessário", justificou no seu discurso, já durante a cerimónia, o presidente do Comité Nobel da Noruega, Thorbørn Jagland. E acrescentou: "À luz da crise financeira que está a afectar tantas pessoas inocentes, o sistema político no qual a União se apoia é mais importante do que nunca. Precisamos de ficar unidos. Temos uma responsabilidade colectiva. Sem essa cooperação europeia, o resultado podia facilmente ter sido um novo proteccionismo, um novo nacionalismo, com o risco de se perderem as conquistas feitas." 

Domingo à noite, numa conferência de imprensa no Instituto Nobel em Oslo, Van Rompuy antecipou-se a comentários e críticas daqueles que consideram que a UE não merece o galardão numa altura em que a crise põe à prova a solidariedade entre países-membros. O responsável admitiu que “a UE atravessa um período difícil” e deixou uma mensagem em forma de promessa: “Saíremos deste período de incerteza e da recessão mais fortes do que antes. Queremos que a Europa volta a representar um símbolo de esperança.” Esta segunda-feira, Van Rompuy terminou o seu discurso na cerimónia dizendo que tem orgulho em ser europeu. 

Marcha de protesto
No domingo à noite, cerca de mil pessoas juntaram-se numa marcha de protesto em Olso para contestar o prémio devido à participação de forças da UE em palcos de guerra e por causa das divisões entre países membros. Os manifestantes fizeram assim eco das palavras de anteriores Prémios Nobel da Paz, como o antigo arcebispo sul-africano Desmond Tutu (1984), o líder histórico polaco Lech Walesa (1983), o activista dos direitos humanos na Argentina Adolfo Perez Esquivel (1980) ou o militante pela paz da Irlanda do Norte Mairead Maguire (1976), que criticaram a escolha.

Walesa referiu-se, na altura, à notícia do prémio como "uma surpresa desagradável". "A União Europeia está certamente a tentar mudar a Europa e o mundo de forma pacífica, mas é paga para isso", enquanto activistas o fazem correndo riscos e fazendo grandes sacrifícios, disse ainda. Numa carta aberta dirigida à Fundação Nobel, Desmond Tutu, Mairead Maguire e Adolfo Perez Esquivel consideraram que a UE não era "um dos 'campeões da paz' que Alfred Nobel teria em mente quando criou o prémio" e pediram que o valor de oito milhões de coroas suecas (cerca de 925 mil euros) não fosse entregue ao laureado deste ano. A UE tenciona reverter esse dinheiro a favor das crianças vítimas de conflitos armados. 

Na marcha de protesto de domingo à noite em Oslo, participaram dirigentes políticos do partido da esquerda que integra a coligação do Governo norueguês. A Noruega rejeitou, por duas vezes, em referendo, uma adesão à UE que começou com seis membros e caminha para os 28 membros, com a entrada em breve da Croácia.

A banda portuguesa Oquestrada tocou na cerimónia de entrega do prémio, na Câmara Municipal de Oslo.

Segue-se depois, em Estocolmo, a entrega dos prémios atribuídos pela Academia Sueca e também anunciados em Outubro: Medicina, Física, Química, Literatura e Economia.