Milhares de amostras do banco público de células estaminais vão para o lixo

Presidente do Instituto do Sangue diz que não podem ser aproveitadas por não obedecerem aos critérios de qualidade exigidos. Foi assinado nesta sexta-feira, no Porto, o protocolo para o reinício da colheita de amostras.

Foto
Banco público existe desde 2009 mas tem tido vários problemas Fernando Veludo/NFACTOS

Desde 2009, o banco público de sangue do cordão umbilical (Lusocord) colheu mais de 28 mil unidades, das quais foram criopreservadas apenas cerca de 8400. Em Agosto passado, depois de o IPST ter passado a deter a tutela do Lusocord (que funciona no Centro de Histocompatibilidade, no Porto), percebeu-se que mais de um quinto das amostras estavam contaminadas, explicou Hélder Trindade. Resultado: as cerca de seis mil que não estavam contaminadas estão agora a ser avaliadas “uma a uma, para se perceber se é possível aproveitá-las”. É um trabalho moroso, de meses, e que o presidente do IPST acredita acabará por conduzir ao aproveitamente de “muito poucas [amostras],  infelizmente”, porque é preciso ver se no processo de colheita foram observados todos os critérios de qualidade – por exemplo se há historial clínico, consentimento informado, se foram feitas outras análises, se os aparelhos estavam calibrados. Desde 2009, calcula, foram gastos cerca de seis milhões de euros no Lusocord.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Desde 2009, o banco público de sangue do cordão umbilical (Lusocord) colheu mais de 28 mil unidades, das quais foram criopreservadas apenas cerca de 8400. Em Agosto passado, depois de o IPST ter passado a deter a tutela do Lusocord (que funciona no Centro de Histocompatibilidade, no Porto), percebeu-se que mais de um quinto das amostras estavam contaminadas, explicou Hélder Trindade. Resultado: as cerca de seis mil que não estavam contaminadas estão agora a ser avaliadas “uma a uma, para se perceber se é possível aproveitá-las”. É um trabalho moroso, de meses, e que o presidente do IPST acredita acabará por conduzir ao aproveitamente de “muito poucas [amostras],  infelizmente”, porque é preciso ver se no processo de colheita foram observados todos os critérios de qualidade – por exemplo se há historial clínico, consentimento informado, se foram feitas outras análises, se os aparelhos estavam calibrados. Desde 2009, calcula, foram gastos cerca de seis milhões de euros no Lusocord.

Com o protocolo assinado nesta sexta-feira, nesta fase inicial a colheita vai ser efectuada apenas na maternidade do Hospital de São João, no Porto. O banco público deixa, assim, de estar aberto para receber dádivas aleatoriamente. Passa a seleccionar “onde colhe e como colhe” com base numa avaliação de critérios clínicos e genéticos, esclareceu Hélder Trindade, em declarações à agência Lusa. Depois de arrancar na maternidade do Hospital de São João, “logo que possível, será alargada a uma segunda, também no Grande Porto”, assim que esteja concluída a formação das equipas que irão realizar as colheitas.

“Noutro passo vamos avaliar a população, em termos genéticos, para decidirmos quais as zonas onde interessa investir, se no Alentejo, no Algarve ou em Lisboa. É uma decisão que o banco público tem de tomar, porque é desta decisão que se aumenta ou diminui a população de doentes que se pode ajudar”, acrescentou.

O objectivo é “evitar colher na mesma população que já existe do Cedace (Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão)” e, assim, diversificar as amostras. Até porque um banco de sangue do cordão não é como um registo de dadores vivos. “Aqui há um espaço físico que é ocupado pela amostra que tem de estar congelada, e esse espaço não é ilimitado. E todos os bancos, quer em Portugal, como iremos fazer no futuro, quer noutros países do mundo, vão definir qual é o número de amostras que consideram ideal para a sua população e, uma vez que esse número esteja definido, é esse o número que faremos”, explicou.

O Hospital de São João vai receber 50 euros por cada colheita realizada. O banco público de sangue do cordão umbilical (Lusocord) passou para a tutela do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) em Agosto e encerrou um mês depois, após terem sido detectadas irregularidades na gestão e nos procedimentos de recolha, que estão a ser investigadas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde.

A anterior directora do Lusocord, que entretanto foi afastada, tinha-se queixado várias vezes da falta de orçamento e de recursos humanos. O presidente do IPST adiantou que em três anos foi gasto mais de um milhão de euros em recursos humanos. com Lusa