A avaliação de professores, um processo à deriva

A avaliação dos professores, para além de ser imprescindível como defesa da qualidade da educação e dos próprios professores, é, reconhecidamente, uma matéria complexa, mas não impossível de ser definida e operada de forma clara, adequada e tão justa como qualquer dispositivo ou modelo de avaliação de desempenho em qualquer função o possa ser.

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A avaliação dos professores, para além de ser imprescindível como defesa da qualidade da educação e dos próprios professores, é, reconhecidamente, uma matéria complexa, mas não impossível de ser definida e operada de forma clara, adequada e tão justa como qualquer dispositivo ou modelo de avaliação de desempenho em qualquer função o possa ser.

Serve esta introdução para mais uma referência ao processo interminável e, em muitas circunstâncias, desastroso, que tem sido a definição e colocação em prática de um modelo de avaliação de professores em Portugal.

Recordo o inenarrável desastre do modelo chileno dos tempos de Maria de Lurdes Rodrigues e os sucessivos ajustamentos que, um pouco à deriva, têm vindo a ser introduzidos.

 
Há dias, o Conselho das Escolas (CE) veio solicitar a suspensão do modelo de avaliação por este ano e adoptar de novo, para este ano, o regime simplificado.
 
A posição do CE radicou, sobretudo, no atraso (ainda não se iniciou) da formação dos avaliadores externos, na falta de clarificação dos critérios de integração nesta bolsa de avaliadores e nos ajustamentos que várias escolas vão sofrer na sua direcção devido ao programa de fusão de escolas que alterará responsáveis e procedimentos.
 
Não me vou pronunciar sobre o modelo ou a justeza do regime simplificado e da pretensão do CE. O que me parece de sublinhar é que, também neste processo, o MEC revela uma atitude de definição de metodologias e procedimentos sem acautelar e garantir as condições de exequibilidade operacional e temporal daquilo que determina.
 
Esta deriva voluntarista e, em várias decisões, incompetente, do meu ponto de vista, são um péssimo serviço prestado à qualidade, ao clima de trabalho e à mudança necessária em muitos processos educativos.
 
É à luz desta deriva que se entende a decisão conhecida de adiar para o próximo ano a obrigatoriedade das aulas observadas no âmbito do processo de avaliação, não adiantando ainda informação sobre a formação dos avaliadores. Provavelmente, a decisão de adiar é acertada, mas não deixa de espelhar, mais uma vez, a forma como estes processo não devem ser desenvolvidos.
 
Inquieta ainda que se não note no MEC um esforço de aprendizagem decorrente do que tem sido a sua prática e forma de decidir e funcionar.