Quantos países são precisos para prolongar o Protocolo de Quioto?

Começaram no Qatar as negociações para um sucessor do Protocolo de Quioto, que expira no final do ano e regula as emissões de gases com efeito de estufa. Há pouco optimismo, mas muita urgência.

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As emissões de CO2 atingiram um novo recorde em 2011 Pawel Kopczynski/Reuters

É preciso encontrar um sucessor para o Protocolo de Quioto, que termina no fim deste ano. É para isso que 190 países começaram esta segunda-feira uma reunião de dez dias em Doha, a capital do Qatar. Mas em causa estão apenas 15% das emissões de dióxido de carbono (CO2), pois muitos países excluíram-se já das negociações.

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É preciso encontrar um sucessor para o Protocolo de Quioto, que termina no fim deste ano. É para isso que 190 países começaram esta segunda-feira uma reunião de dez dias em Doha, a capital do Qatar. Mas em causa estão apenas 15% das emissões de dióxido de carbono (CO2), pois muitos países excluíram-se já das negociações.

Os Estados Unidos, que representam 17,6% das emissões de gases com efeito de estufa em consumo energético a nível mundial, nunca ratificaram o Protocolo de Quioto assinado em 1975; o Japão, a Rússia e o Canadá retiraram-se entretanto. A Austrália, que durante muitos anos se manteve de fora, anunciou o seu envolvimento.

Assim, as negociações para o sucessor do Tratado de Quioto debruçam-se sobre as emissões da Austrália e da União Europeia — uma vez que o documento assinado em 1997 obrigava as nações mais industrializadas a fazer cortes nas suas emissões de carbono e, em traços largos, permitia aos países em desenvolvimento continuar a emitir.

Entre os países em desenvolvimento que ficaram isentos de reduzir as suas emissões, estão a Índia e sobretudo a China — a segunda economia mundial, que emite 26,3% dos gases com efeito de estufa em consumo energético, e portanto em algumas medidas é mesmo o maior emissor de CO2. Esta divisão é um foco de tensão permanente que tem impedido um acordo, com a União Europeia a tentar fazer uma ponte entre os países mais ricos e os que reivindicam o direito de emitir mais para se poderem desenvolver.

Mas a União Europeia chega a estas negociações com uma posição pouco vincada, porque já alcançou as suas metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa, e oito anos mais cedo do que o previsto. O objectivo era reduzir em 20% as suas emissões até 2020, tendo como ponto de partida os valores de 1990. Uma vez alcançada a meta mais cedo, e ainda por cima num contexto de possível depressão económica, a EU não chega à mesa negocial com propostas inovadoras e arrojadas – nem deve canalizar mais fundos para a adaptação e mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

Quanto aos EUA, após a sua reeleição, e após os efeitos devastadores do furacão Sandy na costa de New Jersey e Nova Iorque, e de uma seca terrível que destruiu a colheita de cereais durante o Verão e está a fazer subir o preço dos alimentos, Barack Obama, disse que se vai empenhar pessoalmente nas questões do clima — mas o Congresso não lhe é favorável.

À espera de quatro graus

Apesar de todos os problemas, os negociadores das Nações Unidas comprometeram-se a ter um novo tratado assinado até 2015, que entre em vigor até 2020 — o que não é cedo, com os cenários de cataclismos traçados pelos mais recentes relatórios científicos sobre as emissões de CO2 e os resultados que estão a ter sobre o planeta.

O horizonte a evitar a todo o custo nas conversações continua a ser que a temperatura média no planeta suba acima de 2º Celsius até 2100, em relação aos valores do fim do século XIX. Mas o CO2 que atiramos para a atmosfera atingiu tal quantidade que o mais provável é que a Terra fique já 4º mais quente em 2060, mesmo antes de 2100.

“Este mundo será tão diferente daquele em que vivemos que é difícil descrevê-lo”, avisa o presidente do Banco Mundial, o norte-americano Jim Yong Kim, no preâmbulo de um novo relatório apresentado na semana passada, a propósito da cimeira climática em Doha, que se prolongará até 7 de Dezembro.

O novo estudo do Banco Mundial afirma que “um mundo 4º mais quente desencadeará uma cascata de cataclismos”. São exemplos as secas, que não serão apenas na África Subsariana, mas também na Europa e nos Estados Unidos — a do Verão passado poderá ser só uma amostra —, ou a chegada de doenças como a malária — ou a dengue — a locais de onde há muito estavam ausentes.